BRASÍLIA – Responsável pelo indiciamento de três integrantes da mesma família acusados de hostilizar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, na Itália, o delegado da Polícia Federal (PF) Thiago Severo de Rezende, foi nomeado para um cargo em uma missão de dois anos em Haia, nos Países Baixos (Holanda).
Rezende foi nomeado como oficial de ligação junto à Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol) em Haia. Ele se mudará para o país europeu com todas as despesas pagas pela PF e com direito a levar seus dependentes. Não há informações sobre o salário que irá receber. A PF não respondeu aos questionamentos até a mais recente atualização deste texto.
A nomeação, assinada pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, ocorreu em 16 de maio e foi publicada no Diário Oficial 12 dias depois, uma semana antes do indiciamento dos envolvidos no episódio com a família de Moraes. Rezende reviu a posição anterior da corporação ao indiciar o empresário Roberto Mantovani Filho, a esposa dele, Renata Munarão, e o genro do casal, Alex Zanatta.
Caso chegou a ser encerrado sem indiciamento
A investigação sobre a suposta hostilidade que Alexandre de Moraes sofreu no aeroporto de Roma, em julho do ano passado, havia sido concluída pelo delegado Hiroshi Sakaki Araújo, do setor de contrainteligência da PF, em fevereiro. Ele encerrou a investigação e concluiu que Mantovani cometeu o crime de injúria real por agredir o filho de Alexandre de Moraes. Mas ninguém foi indiciado.
A justificativa foi a de que não foi possível cravar se houve troca de ofensas, pois as imagens das câmeras do aeroporto não têm som. Uma instrução normativa da PF determina que o procedimento não seja realizado em crime de menor potencial ofensivo, de pena máxima de dois anos.
"Bandido, comunista e comprado"
Conforme o relatório, em 14 de julho do ano passado, Alexandre de Moraes estava na área VIP do terminal aéreo acompanhado da família e esperava o voo de volta ao Brasil após ministrar uma palestra na Universidade de Siena, uma das mais tradicionais da Itália. Segundo testemunhas, os primeiros insultos partiram de Renata Munarão, que teria xingado o magistrado de "bandido, comunista e comprado".
Em seguida, Roberto Mantovani Filho teria agredido fisicamente o filho do magistrado no rosto, o que fez com que os óculos do homem caíssem no chão. O genro do casal, então, teria se juntado e proferido ofensas contra Moraes. Na época, foi aberta uma diligência para apurar o caso, inclusive com mandados de busca e apreensão nos endereços da família envolvida, no interior de São Paulo.
Ao final das investigações, em fevereiro, a PF concluiu que Alexandre Barci, filho do ministro, foi mesmo agredido, mas não havia como indiciar nenhum dos envolvidos. Isso porque não era possível apontar nenhum tipo de crime, uma vez que os vídeos não tinham som nem permitiam a leitura labial.
Mas, após a PF apresentar o relatório final da investigação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu um novo interrogatório de Roberto Mantovani Filho para saber se o empresário manipulou o vídeo da confusão. Na prática, o pedido reabriu o inquérito. O ministro Dias Toffoli, do STF, ordenou a continuidade da investigação. Com a decisão, Sakaki pediu para deixar o caso.
Delegado reconhece ausência de áudio sobre confusão
Então coordenador de contrainteligência da PF e chefe direto de Sakaki, Rezende assumiu a investigação em abril. Em sua decisão pelo indiciamento, afirmou que, mesmo que o áudio das filmagens não esteja disponível, “todas as circunstâncias que envolvem o fato vão de encontro com a versão apresentada pelos agressores”.
A defesa da família de Roberto Mantovani Filho afirmou que recebeu a notícia com “perplexidade e enorme surpresa”. “Recorde-se que ela (nova manifestação) nasce da mesma Polícia Federal que, não faz muito, opinou expressamente pelo arquivamento das investigações! Destaque-se: essa drástica mudança acontece sem que nada de novo, nenhuma outra prova, tenha sido juntada aos autos.”