BRASÍLIA - O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) irá depor, nesta quarta-feira (17), sobre o caso da “Abin paralela”. Ele irá falar, às 15h, na superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro. O parlamentar chefiou o órgão entre 2019 e 2022, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).    

Ramagem deve ser questionado sobre o esquema de monitoramento ilegal de autoridades para supostamente favorecer a família Bolsonaro. Um áudio apreendido pela PF na casa dele, em 24 de janeiro deste ano, revela uma reunião entre o próprio ex-chefe da Abin, Jair Bolsonaro e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.  

A conversa tratou sobre um plano de monitoramento de três auditores da Receita Federal para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL) no caso das “rachadinhas”, que consiste no desvio de dinheiro por meio dos salários de assessores. Os servidores produziram os relatórios que originaram a investigação sobre o esquema na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando Flávio era deputado estadual.    

A gravação, de uma hora e oito minutos, foi feita em 25 de agosto de 2020 de forma ilegal. A reunião teria acontecido no Palácio do Planalto, sede administrativa do governo federal em Brasília (DF), e contado com a participação de advogadas de Flávio.

“Neste áudio é possível identificar a atuação do Del. Alexandre Ramagem indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”, concluiu a PF em trecho do relatório.

Flávio e Ramagem negam as acusações e falam em perseguição política, citando que o deputado federal e amigo de Bolsonaro é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições deste ano. Pelas redes sociais, Ramagem afirmou, na última semana, que os áudios reforçam que não houve interferência no caso de Flávio Bolsonaro sobre a suposta prática de "rachadinha".    

Após as informações da última operação da PF, fica claro que desprezam os fins de uma investigação, apenas para levar à imprensa ilações e rasas conjecturas. O tal do sistema first mile, que outras 30 instituições também adquiriram, parece ter ficado de lado", escreveu.

"A aquisição foi regular, com parecer da AGU, e nossa gestão foi a única a fazer os controles devidos, exonerando servidores e encaminhando possível desvio de uso para corregedoria. A PF quer, mas não há como vincular o uso da ferramenta pela direção-geral da Abin”, completou Ramagem pelo X (antigo Twitter).

As investigações apontam Ramagem como o mandante do esquema de espionagem ilegal. Políticos, autoridades do Judiciário, advogados e jornalistas eram monitorados. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do inquérito na última quinta-feira (11).