BRASÍLIA – O tenente-coronel do Exército Rodrigo Bezerra Azevedo tenta voltar a receber visitas após a irmã dele tentar entrar na prisão com um fone de ouvido, um cabo USB e um cartão de memória escondidos em uma caixa de panetone. O militar é acusado de integrar plano de golpe de Estado que incluiria os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Foi Moraes quem suspendeu as visitas ao oficial do Exército, em 30 de dezembro, após ser comunicado do encontro dos itens no panetone. Rodrigo Azevedo está preso desde novembro no Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, onde a irmã dele, Dhebora Bezerra de Azevedo foi flagrada tentando burlar a segurança, em 28 de dezembro. O detector de metais apitou, apontando presença de metais na iguaria natalina. Tudo foi apreendido e a irmã do militar acabou não fazendo a visita ao irmão. 

O próprio Comando Militar do Planalto suspendeu o direito de visita de Dhebora a Azevedo até Alexandre de Moraes decidir sobre o caso. Comandante Militar do Planalto, o general de Divisão Ricardo Piai Carmona informou ao ministro do STF sobre a “alteração” na visita ao tenente-coronel. Moraes tomou a decisão dois dias depois do flagrante. Agora, a defesa de Rodrigo Azevedo tenta revertê-la. 

Nesta quinta-feira(9), o advogado Jeffrey Chiquini apresentou pedido a Moraes pedindo a retomada do contato do cliente com seus familiares de forma remota. Propôs conversas do militar, por videoconferência, com a esposa e a filha.

Chiquini alegou que a suspensão das visitas é desproporcional e afronta o princípio da individualização da pena. Disse que o tenente-coronel sequer sabia que a irmã havia colocado itens no panetone. A defesa apresentou pedido parecido na semana passada, que foi rejeitado. 

Plano detalhado em documentos apreendidos pela PF

Rodrigo Azevedo foi preso preventivamente durante a deflagração da Operação Contragolpe. Ele acabou indiciado pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa junto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 38 aliados, incluindo generais do Exército.

Azevedo e outros quatro militares são acusados de serem autores e possíveis executores do plano para matar Lula, Alckmin e Moraes, com o intuito de impedir a posse do petista em janeiro de 2023. Esses militares integravam as Forças Especiais do Exército e são conhecidos como “kids pretos” por causa da balaclava de cor preta que costuma usar em treinamentos e possíveis operações, a maioria clandestina.

Então major de Infantaria do Exército Brasileiro, Azevedo e outros kids pretos seriam responsáveis por colocar em ação o plano “Copa 2022″. De acordo com a investigação da Polícia Federal, ele seria desencadeado em 15 de dezembro daquele ano. Tudo estava detalhado em documentos apreendidos pela PF, que incluíam possibilidades de envenenamento, sequestro e até assassinatos a tiros e com granadas de Lula, Alckmin e Moraes.

A PF apurou que os participantes do grupo usavam o aplicativo Signal para organizar o plano, adotando codinomes inspirados em países participantes da Copa do Mundo, como “Alemanha”, “Argentina”, “Áustria”, “Brasil”, “Gana” e “Japão”. O Signal é conhecido por suas opções de privacidade, como criptografia de ponta a ponta e mensagens autodestrutivas, dificultando o rastreamento. Os investigadores identificaram que o codinome “Brasil” correspondia a Rodrigo Bezerra de Azevedo, que teria ajudado no rastreamento do ministro Alexandre de Moraes.