BRASÍLIA - O tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o general Braga Netto era o homem do governo com acesso a acampados nas portas de quartéis e a empresários do agronegócio capazes de causar um “caos institucional” no Brasil contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022.
Em depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde de 22 de novembro de 2024, o militar citou “o pessoal do agro” como possíveis financiadores de acampamentos em frente a bases militares pelo país, principalmente no QG do Exército, em Brasília.
Cid teria sido procurado por dois colegas das Forças Armadas, os coronéis do Exército Ferreira Lima e De Oliveira. Ambos davam início ao planejamento da operação Punhal Verde Amarelo que planejava a tomada do poder à força no Brasil chegando, depois, ao plano de assassinar Lula, o então vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
“Eles sugeriram conversar com o general Braga Netto, né?! O general Braga Netto, ele que mantinha o contato aí com... com os manifestantes, com o pessoal dos acampamentos na frente dos quartéis, que tinha essa ligação, digamos, mais popular, ligação com o pessoal do agro, né, e ligação, obviamente, com o presidente Bolsonaro”, contou Cid no depoimento a Moraes, relator do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no país.
Ideia de plano golpista teria chegado a Cid em Goiânia
Cid informou que teve essa conversa com os colegas por volta de 10 de novembro de 2022, em Goiânia (GO), e, dias depois, os levou ao apartamento do general, na Asa Sul, no Plano Piloto de Brasília.
Lá, foi retirado da reunião meia hora depois de iniciada por ser diretamente ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, várias hipóteses de mobilização começaram a ser sugeridas.
“E aí começaram a surgir algumas ideias para: não, vamos mobilizar os caminhoneiros, parar o país; não, vamos bloquear estradas. Então, ideias que podiam ser feitas para... quando entrou no nível das ideias, o general Braga Netto interrompeu e falou assim: "Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque é próximo ao Bolsonaro", relatou.
O tenente-coronel informou também que os militares tentavam levantar financiadores para trazer mais gente a Brasília com custos como transporte, hospedagem e alimentação. Tentaram com o PL, por sugestão do general, que não topou a proposta.
"Vou dar um jeito, vou conseguir por outros caminhos", teria dito Braga Netto a Mauro Cid. Ele, porém, não informou a quantia nem a origem do dinheiro, repassado ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro em uma sacola de vinho para presente.