BRASÍLIA - O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid revelou em depoimento à Polícia Federal (PF) que, inicialmente, não implicou o general Braga Netto em seu acordo de delação premiada por uma questão de “ethos” e respeito à hierarquia militar. 

Cid, tenente-coronel do Exército, explicou que o adiamento de menções ao general, encarado por investigadores como uma blindagem ao ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, foi motivado pela sua elevada patente dentro das Forças Armadas, que é superior à sua.

Nesta quarta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos relacionados ao golpe, decidiu tornar pública a delação de Mauro Cid, retirando o sigilo sobre as informações fornecidas por ele.

No interrogatório conduzido pelo delegado da Polícia Federal Fábio Shor, ele foi questionado se teria sido coagido por Braga Netto para não citá-lo no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022.

“Não por causa disso efetivamente, mas pelo respeito que a gente tem com uma autoridade, um general quatro estrelas, que às vezes é muito caro, dosa muitas palavras para evitar estar acusando ou falando de uma autoridade, ainda mais um general quatro estrelas. Mas diretamente, por causa dessa situação, não. Mais pelo íntimo interno, do ethos [espécie de caráter moral] militar”, declarou Mauro Cid.

Maior patente no Exército

O Brasil tem atualmente 19 generais quatro estrelas. Braga Netto é o único deles preso.

Braga Netto, que também foi candidato a vice-presidente na chapa de reeleição de Bolsonaro, tem sido vinculado a reuniões e discussões golpistas realizadas por militares em sua residência durante o ano de 2022, após derrota nas eleições, de acordo com investigações da PF. Cid confirmou o envolvimento do general em depoimentos posteriores.

Nessa terça-feira (18), a Procuradoria-Geral da República formalizou a denúncia contra Bolsonaro e outros 33 envolvidos no plano de tomada de poder à força para reverter os resultados das eleições de 2022 e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).