BRASÍLIA — A Polícia Federal (PF) identificou indícios de que o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Côrrea, sabia das operações de espionagem ilegal e agiu para atrapalhar a investigação. A informação consta no inquérito da PF, cujo sigilo caiu nesta quarta-feira (18) por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Côrrea é um dos mais de trinta indiciados pela PF no inquérito remetido à Corte; ele é enquadrado pelos crimes de prevaricação, impedir ou embaraçar investigação sobre organização criminosa e coação.
Segundo a PF, Luiz Fernando Côrrea usurpou a função de diretor-geral meses antes da nomeação e participou de reuniões, acessando informações sigilosas. "[Ele] realizou ações que notadamente tiveram o intento de obstruir a investigação sobre a organização criminosa instalada no órgão", identificou a Polícia Federal. Nas páginas seguintes do relatório, a PF lista as ações críticas de Côrrea diante da investigação.
Em uma das provas obtidas, a PF constatou que ele atuou repetindo Alexandre Ramagem, seu antecessor na chefia da Agência Brasileira de Inteligência. "As anotações de Paulo Magno [ex-diretor da Abin] em sua agenda não deixa dúvidas sobre a atuação de fato como diretor-geral, antes de sua posse, nos mesmos moldes realizados por Ramagem. Os resumos de próprio punho não deixam dúvidas da forma de agir em deteimento à investigação", explicita a PF.
A investigação também identificou que Côrrea articulou com outros diretores estratégias para proteger Paulo Maurício Fortunato Pinto, indicado pela Polícia Federal como "um dos principais responsáveis pela degradação da Abin pela organização criminosa". Fortunato Pinto era secretário de Planejamento da agência.
A atuação ilegal de Luiz Fernando Côrrea começa quando ele passa a frequentar reuniões da Abin antes de tomar posse. "Tal circunstância demonstra seu conhecimento precoce da crise instalada e sua inserção nas tratativas para gerenciá-la", diz o inquérito. A PF cita, ainda, que a instauração do inquérito gerou um ambiente de insurreição entre os servidores da Abin, "que se sentiram expostos e traídos pela omissão de outros responsáveis na lista encaminhada à PF".
Foi constatado também que o então diretor-geral "trabalhou para desacreditar a investigação" e recorreu a uma estratégia conjunta para omitir os responsáveis pelas irregularidades praticadas. Ele ainda teria submetido a constrangimento os servidores que colaboravam com a Polícia Federal. "A postura da direção-geral resultou em clima de coação e desconfiança, desestimulando a colaboração de servidores que detinham informações relevantes", informa o inquérito.