BRASÍLIA – Sob pressão para não agravar ainda mais sua situação, o deputado André Janones (Avante-MG) decidiu não recorrer da suspensão de três meses determinada pelo Conselho de Ética da Câmara. O prazo para apelação terminou nessa quarta-feira (16/7) e o parlamentar mineiro optou pelo silêncio estratégico diante da ameaça de que o plenário elevasse sua punição para seis meses.

Nos bastidores da Câmara, líderes partidários sinalizaram que, se Janones levasse o caso ao plenário, haveria articulação suficiente para emendar a pena e afastá-lo por um período mais longo. O recuo ocorreu menos de 24 horas após o colegiado aprovar, por 15 votos a 3, sua suspensão por “comportamento incompatível com o decoro parlamentar”.

A decisão tem efeito imediato. Por 90 dias, Janones ficará sem salário, gabinete, assessores e sem direito a verbas públicas. A Câmara também decidiu não convocar o suplente, já que o afastamento não ultrapassa 120 dias. Além da suspensão, um novo processo poderá ser aberto para analisar a possível cassação do mandato.

Embate com Nikolas levou caso ao Conselho de Ética

A origem da punição remonta ao dia 9 de julho, quando, durante discurso do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), Janones protagonizou um tumulto transmitido ao vivo pela TV Câmara. Na ocasião, aliados de Nikolas entoaram gritos de "rachadinha" e "vagabundo", em alusão às denúncias de uso irregular de verbas em gabinetes – das quais Janones já foi inocentado em outra sessão. 

Um vídeo nas redes mostra Janones chamando o colega de “cadelinha”, o que o relator do caso, deputado Fausto Santos Jr. (União Brasil-AM), considerou uma ofensa com conotação homofóbica.

O parlamentar escreveu em seu parecer que a conduta de Janones foi “ultrajante, injuriosa e desrespeitosa em plenário”, e que atingiu não só o colega de tribuna, mas a imagem institucional da própria Câmara.

Na representação, a Mesa Diretora afirmou que André Janones “abusou das prerrogativas parlamentares” ao “ofender publicamente outro deputado com palavras de baixo calão”. A queixa partiu inicialmente do PL, mas foi encampada pela presidência da Casa, o que deu ao caso maior gravidade.

Janones alega que foi agredido por deputados do PL

Janones afirmou que foi vítima de agressão por parte da “tropa de choque bolsonarista”, e que apenas gravava um vídeo para redes sociais, com críticas à posição da oposição sobre a sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao Brasil. Segundo ele, foi cercado e intimidado por mais de dez deputados. O parlamentar ainda apresentou queixa-crime contra dois colegas por lesão corporal e entregou exame de corpo de delito à Corregedoria.

Durante a sessão do Conselho, Janones chegou apenas no fim, acompanhado de seu advogado Lucas Marques, que alegou que não houve interrupção do discurso de Nikolas nem xingamentos captados oficialmente em áudio. “Ele apenas gravava conteúdo para seus eleitores. Não há nada que indique agressão ou incitação”, afirmou.