BRASÍLIA - Em seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (24/7), o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), admitiu que o codinome “professora” identificado pela Polícia Federal (PF) na investigação da suposta trama golpista se referia ao ministro Alexandre de Moraes.
Os investigadores identificaram trocas de mensagens entre Câmara e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, em que os militares usavam codinomes para se referir a autoridades. Segundo a PF, os dois monitoraram o deslocamento de Moraes a partir de “acesso privilegiado de informações” sobre o ministro.
Câmara afirmou que o codinome foi criado por Cid, pois seria prática corriqueira do “linguajar” dos militares utilizar alcunhas para se referir a pessoas. “Partiu do coronel Cid o termo professora. Ele, inclusive, diz que foi uma brincadeira. Eu entrei nessa brincadeira. Não tinha o objetivo de esconder nada”, alegou.
O militar também atribui a Cid a responsabilidade pelo monitoramento de Moraes e disse se sentir “usado” por ele. Câmara alegou que apenas recebia as ordens do ex-ajudante de ordens e “não perguntava nada para ele”. No entanto, o coronel disse que o "objetivo ao receber essas solicitações do Cid era ajuste de agenda e aproximação com o ministro”.
“Se alguma coisa que eu passei para o tenente-coronel Cid, e daí ele passou de alguma forma a não ser o que eu esperava, eu me sinto até usado nisso aí. Eu não sou imaturo, não sou menino. Mas a gente tem a confiança de trabalho, eu confiava muito”.
“De uma hora para outra eu começo a perceber que estava sendo usado, me causa realmente, eu fico muito chateado com isso porque não era a minha intenção”, afirmou.
Segundo Câmara, as informações coletadas por ele não “tinham profundidade e nem são completas em termo de monitoramento”. O coronel afirmou ter usado do seu “conhecimento” junto a pessoas do cerimonial da Presidência e de outros órgãos para obter informações sobre a possível localização de Moraes.
O ex-assessor também negou ter participado de grupos e reuniões que teriam discutido formas de efetivar um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Eu era considerado caxias para certas coisas”, disse Câmara, no depoimento.
Câmara teria monitorado Moraes
Marcelo Câmara é apontado pela PF como integrante do núcleo 2, responsável pelo planejamento do suposto golpe de Estado. Segundo a PF, ele teria monitorado o ministro Alexandre de Moraes.
“As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle”, afirmou a PF.
Câmara chegou a ser preso preventivamente durante a operação Tempus Veritatis em fevereiro de 2024, mas foi solto em maio. Foi preso novamente no final de junho deste ano, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, por suspeita de tentativa de obstrução das investigações.