BRASÍLIA - O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, durante depoimento à Polícia Federal, que advogados de réus da suposta trama golpista, entre eles do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentaram obter dados sobre a delação premiada com seus familiares. 

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi ouvido na terça-feira (24) para apurar se eles agiram para tentar atrapalhar as investigações. A informação foi divulgada pelo G1.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou na quarta-feira (25) o interrogatório de Fábio Wajngarten – ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro – e do advogado Paulo Costa Bueno, por suspeita de tentativa de obstrução de investigações. 

Segundo relatos apresentados por Cid e sua defesa, advogados teriam feito abordagens indiretas ao delator, inclusive por meio de sua filha de 14 anos, com o objetivo de influenciar sua colaboração com as autoridades.

O advogado Luiz Eduardo Kuntz, já investigado no mesmo inquérito, teria enviado diversas mensagens à adolescente pelo WhatsApp em 2023, sugerindo encontros, questionando se ela havia falado com a mãe e mencionando supostas “limpezas” em seu celular. A defesa alega que a intenção era induzi-la a apagar conversas.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou também à Polícia Federal que a foto que advogados usaram como suposta prova de que ele teria conversado sobre a delação por um perfil em rede social foi, na verdade, fruto de um vazamento. Ele disse ainda que teria sido gravado sem autorização e que os áudios teriam sido editados e recortados.

Com base nessa divulgação, as defesas pedem a anulação da delação premiada de Mauro Cid, sob o argumento de que ele teria ferido um dos termos do acordo ao divulgar informações sigilosas sobre o que foi dito aos investigadores, em um perfil falso em rede social.

Advogados tentaram abordar familiares de Cid

No depoimento à PF, Mauro Cid negou essas afirmações. Ele afirmou que não criou o citado perfil Gabrielar702 e que também não sabe quem teria criado. Além disso, negou ter tratado do acordo de colaboração premiada com o advogado Eduardo Kuntz, que defende Marcelo Câmara.

Segundo o relato entregue à Polícia Federal, Cid afirmou que recebeu visitas na prisão, em maio de 2023, de Kuntz e Fábio Wanjgarten, que atuavam na defesa de Bolsonaro.
 
Em um dos episódios narrados, também teria encontrado o advogado de Marcelo Câmara em um evento Hípica de Brasília, espaço frequentado pela família, mas achou que fosse um encontro "fortuito".

Segundo o militar, as equipes de defesa também tentaram se aproximar das filhas, da mulher e da mãe dele. As abordagens teriam sido constantes entre o segundo semestre de 2023 e o início de 2024.

“Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor G.R.C, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram", aponta o relatório do depoimento.

Mauro Cid disse que, ao analisar o conteúdo das conversas, acredita que o objetivo dos advogados seria se aproximar dele por meio da filha mais nova. O tenente-coronel ainda declarou, no depoimento sobre a obstrução de justiça, que Eduardo Kuntz “estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado pelo declarante e com isso, obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade”.
 
Já o contato com a mãe teria sido “feito pessoalmente, em pelo menos três oportunidades", em eventos esportivos que a família frequenta, também na hípica. De acordo com o relato, em uma das abordagens, Paulo Bueno, defensor constituído do ex-presidente Jair Bolsonaro na ação penal, também estava presente. Na ocasião, os advogados "se colocaram à disposição para atuar na defesa do declarante”.
 
Sobre a suposta troca de informações nas redes sociais, Cid afirmou que acredita ter sido gravado, sem sua ciência ou autorização, e que o material teria sido repassado para o advogado Kuntz.

Ele disse também que "um dos áudios divulgados pela revista Veja, ouvido pela declarante, está editado e recortado e, que, em relação à foto, acredita que tenha sido algum arquivo vazado e que foi usado para compor a imagem apresentada pelo advogado”.