BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta terça-feira (8), uma operação contra uma organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos de emendas parlamentares e de fraudar licitações e contratos. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados ao deputado federal Junior Mano (PSB-CE).
Agentes da PF ainda estavam no gabinete do parlamentar na Câmara por volta de 8h30. O corredor de acesso ao local, que fica no 8º andar do anexo 4 da Câmara, foi isolado para a realização das buscas. A operação foi acompanhada por agentes da Polícia Legislativa.
Buscas também foram feitas pela PF no apartamento funcional que o deputado ocupa em Brasília, "emprestado" pela Câmara para que ele more enquanto estiver no mandato, e em endereços ligados a ele no Ceará.
Por meio de nota, a assessoria de Junior Mano afirmou que ele "não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos". Leia a íntegra no final do texto.
O líder do PSB na Câmara, Pedro Campos (PE), também se manifestou: "A liderança do PSB na Câmara dos Deputados tomou conhecimento hoje, 8, da operação da Polícia Federal que investiga a atuação do deputado Júnior Mano. Esperamos que todos os fatos sejam investigados e esclarecidos o mais breve possível, respeitando o devido processo legal e a ampla defesa", disse.
A operação foi nomeada de Underhand. A suspeita é que houve o direcionamento de dinheiro público a determinados municípios cearenses a partir de contrapartidas financeiras ilícitas, ou seja, pagamentos ilegais. O esquema teria contado ainda com a influência em licitações por empresas vinculadas ao grupo criminoso. Os recursos ilegais teriam sido usados para o financiamento de campanha eleitoral.
Ao todo, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão, também contra outros alvos. Além de Brasília, a PF saiu às ruas na capital do Ceará, Fortaleza, e em mais quatro cidades do estado: Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio. A autorização foi expedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a investigação que teve o apoio técnico da Controladoria-Geral da União (CGU).
Gilmar Mendes determinou ainda a abertura de uma investigação específica para identificar a possível participação de outras autoridades com foro privilegiado na destinação e pagamento ilícitos de emendas parlamentares.
Também foi determinado o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas. A intenção foi interromper a movimentação de recursos de origem ilícita e preservar valores para eventual reparação aos cofres públicos.
Os suspeitos são investigados pelos crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral.
Veja abaixo a íntegra da nota de Junior Mano:
"O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
O parlamentar reafirma sua confiança nas instituições, em especial no Poder Judiciário e na Polícia Judiciária Federal, e reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública.
Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta".