BRASÍLIA – Líder da oposição na Câmara, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), anunciou um churrasco para Jair Bolsonaro (PL) durante visita ao ex-presidente, que está em prisão domiciliar. No entanto, após o parlamentar postar vídeo segurando duas peças de carne e dizendo que prepararia a refeição, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro o desmentiu. Ela ainda disse que tal atitude pode prejudicar o marido.
“O episódio ocorrido hoje (quinta-feira, 14) em minha residência, envolvendo o deputado Zucco, não contou com a nossa anuência. A visita tinha caráter restrito, breve e voltado exclusivamente a fins humanitários — e não conforme divulgado pelo parlamentar em vídeo, no qual, ao deixar sua residência, afirmou que realizaria um churrasco em minha casa. Tal evento não ocorreu”, escreveu Michelle em rede social.
Na publicação feita em sua conta no Instagram, a ex-primeira-dama agradeceu o “carinho” que muitas pessoas, segundo ela, têm desejado transmitir ao marido e destacou que as visitas têm sido permitidas de forma pontual. A ex-primeira-dama cobrou comportamento dos próximos autorizados a ver Bolsonaro em casa.
“Solicito a colaboração dos próximos visitantes autorizados para que compreendam e respeitem a sensibilidade do momento, abstendo-se de atitudes que possam deturpar a finalidade da visita ou prejudicar a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro”, completou a ex-primeira-dama.
Zucco pediu desculpas: 'era apenas uma intenção'
Depois do posicionamento de Michelle, Zucco apagou o vídeo com as duas peças de carne. Ele ainda se retratou em suas redes sociais. “Nunca afirmei que o churrasco de fato aconteceu, era apenas uma intenção. Peço desculpas a ele e à primeira-dama se a minha atitude causou desconforto a sua família”, escreveu o deputado na rede social X.
No vídeo rechaçado por Michelle, Zucco se referiu à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda candidato em 2022, ao Jornal Nacional, da TV Globo. “O povo tem que voltar a comer churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”, afirmou o petista na ocasião.
“Agora eu vou lá fazer uma carne para ele, já que a picanha que esse aí prometeu não cumpriu. Vou lá fazer uma carne para o meu amigo, meu líder, nosso líder, Jair Bolsonaro”, disse Zucco no vídeo em que publicou antes da visita à Bolsonaro. Além da carne, o líder da oposição disse que levaria carvão para o encontro com Bolsonaro.
Outros aliados do ex-presidente também criticaram a atitude de Zucco. Para eles, contrasta com o ambiente de uma prisão domiciliar, que alguns descrevem como penosa para o ex-presidente. Sem mencionar Zucco, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro e advogado do ex-presidente , compartilhou a postagem de Michelle e criticou que “oportunistas” façam visitas “apenas para sair lacrando”.
“Tem oportunistas indo/pretendendo visitar o Presidente apenas para sair lacrando. Cambada de egoístas, insensíveis, e desumanos. Já tinha a sensação disso, agora tenho a certeza com a manifestação correta da Primeira Dama. Vamos respeitar o momento do Presidente e de sua família. Boas ações se fazem de maneira silenciosa, discreta e anônima”, escreveu Wajngarten no X.
A ida de Zucco à casa do ex-presidente foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é relator do caso em que Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado e, por isso, responsável por analisar os pedidos de visita incluídos no processo. Outros aliados de Bolsonaro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), tiveram autorização para encontros presenciais.
Moraes decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro em 4 de agosto. Para o ministro, o ex-presidente violou reiteradamente medidas cautelares — como a de não se pronunciar em redes sociais de terceiros — impostas no bojo de uma investigação sobre uma suposta atuação dele com o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) “com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do STF ao crivo de outro Estado estrangeiro”.
Eduardo se mudou para os Estados Unidos em março dizendo que de lá não voltaria enquanto não conseguisse o impeachment de Moraes. Ele também vem comemorando sanções do governo de Donald Trump a ministros do Supremo e até a taxação de 50% a produtos brasileiros, que o presidente norte-americano alegou ser fruto do julgamento de Bolsonaro no STF e decisões da Corte contra o aliado e big techs dos EUA.
Moraes pede que Zanin marque julgamento de Bolsonaro
Na quinta-feira, Moraes pediu a marcação da data para início do julgamento de Jair Bolsonaro e dos outros sete réus acusados de liderar a suposta trama golpista. A definição cabe ao presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin.
Quando o julgamento for iniciado, a sentença ou a absolvição dos oito será decidida pelos votos do relator, do presidente e dos ministros Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, que também compõem o colegiado.
Bolsonaro e os réus integram o núcleo crucial da trama golpista, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que pede a condenação do grupo pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e organização criminosa armada. As penas máximas para os crimes podem alcançar 43 anos de prisão.
Esses oito réus são, para a PGR, as figuras centrais do núcleo golpista. Além do ex-presidente, também serão julgados aliados que ocupavam cargos fundamentais no período em que ele permaneceu à frente do Palácio do Planalto.