Defesa

Bolsonaro nega acusações de golpe e esquema na Abin: 'Governo Lula me persegue'

O ex-presidente enfatizou que o ato que convocou para o próximo domingo será para se defender e pediu que as autoridades 'diminuam a pressão' sobre ele

Por Lucyenne Landim
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 | 12:48
 
 
 
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou, nesta quarta-feira (21), possuir responsabilidades em investigações que o têm como alvo. A última delas foi sobre o suposto plano de golpe de Estado para continuar no poder após as eleições de 2022. Ele disse que o ato que convocou para o próximo domingo (25), na Avenida Paulista, em São Paulo, será para apresentar sua defesa

“Vamos mostrar para o Brasil e para o mundo uma fotografia de verde e amarelo do candidato que foi derrotado em 2022. E nesse momento, além da fotografia, eu me defenderia das acusações, sendo a mais importante sobre esse golpe constitucional, de estado de sítio, que não foi dado o primeiro passo para decretação de estado de sítio. E repito: a palavra final para um estado de sítio é do Parlamento brasileiro, não é do presidente da República", afirmou em entrevista à rádio CBN Recife.

Bolsonaro declarou que sofre "perseguição" do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pediu que as autoridades que coordenam as investigações "diminuam a pressão" sobre ele. "Eu apelo a todas as autoridades: vamos esfriar, vamos diminuir essa pressão. Eu, no momento, nem cidadão sou, estou sem direitos políticos", disse sobre sua inelegibilidade, decidida em maio de 2023 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Vocês estão com a força, com o poder, me aponte nos quatro anos do meu governo se eu persegui alguém, se eu persegui alguém de esquerda, se eu pedi abertura de inquérito contra quem quer que seja. Eu não persegui ninguém, porque essa perseguição em cima de mim?”, continuou, acrescentando que o ato em São Paulo será "um momento pacífico, em defesa do Estado Democrático de Direito".

"Ninguém vai lacrar", diz Bolsonaro

"Ninguém vai ali lacrar, fazer discurso para inflamar quem quer que seja. Vai estar presente o governador de São Paulo (Tarcísio de Freitas), está previsto o de Goiás (Ronaldo Caiado), o Jorginho Mello, de Santa Catarina, o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, entre outros prefeitos. Mais de 100 deputados confirmaram presença, mais de 10 senadores. É um ato sério. Nós não podemos continuar nesse caminho de perder a liberdade", completou.

Bolsonaro também negou que tenha interferido na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ou que tenha tido assessoramento do órgão. Outra investigação mira um suposto esquema de espionagem ilegal na Abin durante seu governo, quando o atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) comandou o órgão. Ramagem e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) foram alvos de buscas nessa operação, em janeiro.

Entenda a operação que mira Bolsonaro por suposta tentativa de golpe

A Polícia Federal (PF) deflagrou em 8 de fevereiro a operação Tempus Veritatis (ou "tempo de verdade", em latim) "para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".

Citações apontam que Bolsonaro ordenou pessoalmente ajustes em uma minuta de golpe. O documento tinha, ao final, ordens de prisão para diversas autoridades, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Sobre Moraes, agentes da PF identificaram que o ministro tinha sua agenda, o deslocamento aéreo e a localização monitorados por um "núcleo de inteligência paralela" integrado pelo entorno de Bolsonaro.

A troca de conversas de uma reunião ministerial em julho de 2022, encontrada em um vídeo no computador de Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), "nitidamente revela o arranjo de dinâmica golpista" na "alta cúpula do governo" do ex-presidente, segundo a PF.

O material mostra Bolsonaro dizendo a todos os seus ministros que era necessário agir antes das eleições para que o Brasil não virasse “uma grande guerrilha”. O então presidente manifestou preocupação com a possibilidade de ser preso por "atos antidemocráticos" ao descer a rampa do Palácio do Planalto, a sede administrativa do governo federal em Brasília (DF), onde aconteceu a reunião.

Ainda na reunião, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno afirmou: "tiver que virar a mesa é antes das eleições", acrescentando que não teria "VAR". Ele disse ter sua visão "clara" de que seria necessário "agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas".

Heleno afirmou, inicialmente, que teria conversado com o então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Vitor Carneiro para "infiltrar agentes nas campanhas eleitorais", alertando sobre o risco de descoberta. Bolsonaro o interrompeu e pediu que conversassem de forma reservada depois.

As apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, para tentar viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

De acordo com a investigação, o primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas eleições de 2022. Isso ocorreu por meio da disseminação falsa de vulnerabilidades das urnas eletrônicas de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

A PF apontou que o segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para "subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível". 

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