Apesar de os emissários do governo de Dilma Rousseff (PT) convocados para dar coletivas tentar minimizar os protestos a atos da democracia protagonizados por eleitores da oposição, o PT se surpreendeu com o número de pessoas nas ruas neste domingo em todo o país. A sigla, na busca para diminuir a pressão da opinião pública e discutir as manifestações, convocou, nesta segunda, uma reunião emergencial da executiva nacional, em Brasília.
Após o primeiro impacto da multidão nas ruas, petistas voltaram a adotar um discurso de que é preciso autocrítica, voltar às origens e dialogar com a sociedade. O termômetro das ruas e a fala de cientistas políticos apontam que a legenda precisa abandonar o discurso que já se repete desde as manifestações de julho de 2013 e da campanha eleitoral de 2014 e adotar medidas práticas.
O deputado federal mineiro Reginaldo Lopes, secretário nacional de Assuntos Institucionais da legenda, reconhece que o PT vive um momento de crise. Ele afirma que a legenda precisa saber como estabelecer um diálogo com movimentos sociais e “setores ligados ou não a nós”. Lopes admitiu que há uma inquietação não só entre os eleitores da oposição, mas na base de sustentação do partido. “Sempre pra sair de uma crise, tem que ter humildade. É um momento de crise do ponto de vista de incertezas, do cenário da política econômica. Não dá pra negar que há inquietação na base que votou na Dilma.” Para Lopes, o governo precisa dar uma resposta rápida.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que o partido precisa passar por um processo de renovação depois de ter se acomodado a práticas comuns da política brasileira. A autocrítica foi feita pelo petista ao comentar as manifestações de domingo. “O PT vive hoje um momento de dificuldades e precisa reagir em intensidade maior, até dentro do partido. Precisa passar por um processo de autorrenovação, fazendo com que a cultura do partido mude internamente”, afirmou.
Até o fechamento desta edição, a reunião do PT nacional não havia terminado.
Análise. A professora da Fundação Getúlio Vargas Sônia Fleury avalia que, pelas imagens e o perfil dos manifestantes, o eleitorado de Dilma não compareceu às manifestações de domingo, o que, segundo ela, não quer dizer que quem votou na petista também não esteja insatisfeito. Ela afirma que o PT precisa demonstrar intolerância com a corrupção.
O professor Antonio Carlos Mazzeo, da PUC de São Paulo, acredita que a manifestação é fruto da radicalização do processo eleitoral aliado à insegurança gerada pela crise econômica. “O fato de convocar dois ministros para dar coletiva já demonstra a preocupação do governo, que precisa responder com ações práticas e se acertar no parlamento”.