Olhar

Quem tem medo de L. Rother?

Ameaçado de ser expulso do país por Lula, ele dedica capítulo ao petista

Por Murilo Rocha
Publicado em 22 de novembro de 2008 | 20:01
 
 
 
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O jornalista norte-americano Larry Rother, correspondente no Brasil do jornal "New York Times" de 1999 a 2007, não queria escrever um livro sobre a política brasileira ou o presidente Lula. Conseguiu em parte. "Deu no New York Times. O Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo" é um abrangente retrato do país, composto por textos sobre cultura, economia, meio ambiente e ciência colecionados durante quase 20 anos de experiência do jornalista estrangeiro em solo brasileiro. Além do jornal nova-iorquino, Larry escreveu para a revista "Newsweek" e para o jornal "Washington Post" nas décadas de 70 e 80. No entanto, o autor não escapou da política nem de Lula. E não podia ser diferente.

Além de ser fascinado pelo jeito brasileiro de fazer política, o jornalista protagonizou uma "rusga" diplomática com o presidente e todo o governo petista em maio de 2004. Larry virou notícia quando foi ameaçado de ser expulso do país após publicar no NYT uma matéria intitulada "Gosto do dirigente brasileiro pela bebida torna-se preocupação nacional". "Essa matéria foi apenas a cereja do bolo. O verdadeiro estopim foi a cobertura do caso Celso Daniel (prefeito do PT assassinado em Santo André). O crime ainda não está esclarecido e o governo não gostou da minha cobertura, eles ficaram muito zangados", diz Larry. Para o correspondente, a sequência do caso apenas mostrou como o PT se relaciona com a imprensa. "O governo reagiu com o fígado. Para o PT é difícil tratar com a imprensa estrangeira. Os petistas, de modo geral, desconfiam dos estrangeiros e, às vezes, são abertamente hostis. Eles chegaram ao poder com pouca experiência", critica.

Mais polêmica. Fora da política convencional, o livro, assim como boa parte das reportagens de Larry Rother, também apimenta temas da vida brasileira. Um dos textos do "Deu no New York Times" critica o endeusamento da população e da mídia à obra do arquiteto Oscar Niemeyer. "O brasileiro gosta de ver seu país tomado a sério, projetado internacionalmente. O Oscar (Niemeyer), músicos, escritores, diretores de filme fizeram isso. É um bom cartão de visitas. Mas eu discrepo da visão da maioria dos brasileiros sobre a arquitetura do Oscar Niemeyer. Para os usuários de suas obras, não sei se são boas, sei lá. As frases estão lá no livro", responde o jornalista, sem medo de uma visão negativa por parte de seus leitores. "Já recebi vários e-mails dizendo: Puxa cara, você diz coisas que eu acho e nunca tive coragem de dizer."

Paixão. Mas nem só de críticas vive o livro de Larry Rother. Pelo contrário, boa parte das mais de 400 páginas da publicação homenageia a cultura e as relações da sociedade brasileira. De acordo com o autor, após aprender tanto ao longo dos anos sobre a história e a cultura do Brasil, ele quis retribuir dando a sua visão sobre o país. "Eu queria dizer porque eu e outros estrangeiros vemos o país dessa maneira e explicar essas razões". Algumas das paixões confessas do norte-americano, traduzidas em muitas de suas reportagens comentadas no livro, são a música e a literatura brasileira. "Algumas das matérias que mais me deram prazer foram aquelas em que eu pude divulgar artistas brasileiros para os Estados Unidos e a Europa, principalmente artistas pouco conhecidos", comenta. Casado com uma brasileira e ainda trabalhando para o "The New York Times", mas agora nos Estados Unidos, Larry Rother está esses dias no Brasil para divulgar seu livro. Durante quase uma hora na última quarta-feira, ele conversou por telefone com a reportagem de O TEMPO e falou mais sobre mitos brasileiros, a Amazônia e até o governador mineiro, Aécio Neves. "Meu objetivo é provocar uma reflexão, mostrando facetas do país com o olhar estrangeiro".

Confira abaixo a entrevista com Larry Rother

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