Em um ambiente tenso, confusão, agressões, acusações a Câmara Municipal de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, o vereador Guilherme Morais renunciou ao mandato. Na sessão, pretendia-se votar processo que abria uma comissão para apurar cassação contra ele por quebra de decoro parlamentar, no fim da tarde desta quinta-feira (23). Morais, que foi o mais votado nas últimas eleições, deve se lançar como candidato à prefeitura em 2024. Ele alegou perseguição política: "se não me matarem, vou virar prefeito de Brumadinho".
Durante a sessão, um homem, que se define como "o novo futuro deputado estadual", Sirleno Gonçalves, desferiu um soco em Marcelo Rodrigues dos Santos, que redigiu uma das denúncias contra Moarais. A Polícia Militar esteve no local e tentou conter a violência. O agressor seria apoiador de Morais.
São duas acusações que fomentaram a denúncia por quebra de decoro: um inquérito que o acusa de assédio sexual contra um adolescente de 17 anos e outro que investiga fraude e estelionato que teriam sido praticados por Morais na compra de um carro de luxo. O parlamentar, conforme e denúncia, teria dividido o pagamento de uma Hilux em 24 vezes, e sustado 15 dos cheques.
O presidente da Câmara de Brumadinho, vereador Ricardo Tejucana (União Brasil), disse, na manhã desta quinta, que a Casa recebeu o pedido de cassação de iniciativa popular.
Parlamentares favoráveis Morais disseram que as acusações foram eluciadas na Justiça, e reforçaram o apoio à candidatura de Morais. Em discurso, o agora ex-vereador ressaltou o trabalho que teve contra a tragédia da Vale na cidade. "
Expulso do partido
Morais foi expulso do Partido Verde (PV) nessa quarta-feira (22). Além da acusação de assédio, o documento que o retirou da legenda pontua oposição ao prefeito de Brumadinho, Avimar Barcelos, que também é do PV e uma festa em comemoração pelo seu aniversário que teria violado regras sanitárias da Covid-19, em abril de 2021.
Além disso, o presidente municipal citou mais um motivo para a expulsão do vereador: o episódio da eleição da Mesa Diretora, ocorrida no ano passado. À época, o então presidente, vereador Daniel Hilário (Avante), tentava se reeleger e tinha Guilherme Morais como vice-presidente na chapa. Segundos antes da votação da nova Mesa Diretora, foi lido um pedido de renúncia com assinaturas falsificadas de dois vereadores do PV - Valcir Rambinho e Xodó - que foram pegos de surpresa com os próprios pedidos de renúncia. Na ocasião, os parlamentares, que não iriam votar na chapa que tentava a reeleição, perderam o mandato e só conseguiram retornar à Câmara depois de ação na Justiça. Essa manobra fez com que Daniel Hilário fosse reeleito presidente e Guilherme Morais, vice.
Segundo presidente da Câmar, Tejucana, a expulsão de Guilherme Morais do PV, não interfere na votação desta quinta. “Para nós não altera nada, para ele, sim. Mas, com certeza, ele deve se filiar a algum outro partido”, emendou.
O ex-presidente da Casa, vereador Daniel Hilário (Avante), disse que a expulsão de Morais do PV não influencia na votação dos parlamentares pela criação da CPI.
“São situações distintas. A expulsão é uma decisão interna do partido. A Câmara vai avaliar se uma CPI será ou não necessária e se a cassação do vereador deve ou não ocorrer”, disse. A reportagem de O TEMPO não conseguiu falar com o vereador Guilherme Morais.