"A mais temida". A alcunha se popularizou na Argentina para definir a La 12, a principal torcida organizada do Boca Juniors. A barra brava, movimento de torcedores futebolísticos popular na América Latina, se notabilizou pelo apoio incondicional ao clube xeneize, mas também por acumular inúmeras polêmicas ao longo de sua história. Nesta quinta-feira (15 de agosto), o grupo estará atrás de um dos gols da La Bombonera, para incentivar o clube argentino no primeiro duelo contra o Cruzeiro, pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. A partida será às 21h30 (de Brasília).

"A pressão exercida pelos torcedores do Boca Juniors na La Bombonera é uma das mais fortes do mundo. Os gritos e a proximidade da torcida com o campo fazem com que os adversários sintam o peso de jogar ali. Acho que faz parte da cultura dos torcedores argentinos não ter limites para tentar desestabilizar o adversário", disse o francês Thibault Varange, de 24 anos.

Em 2023, ele ficou quatro meses em Buenos Aires. Thibault deixou o seu país de origem, a França, e se mudou para a capital da Argentina para aprender um novo idioma e também para vicenciar uma de suas principais paixões: o futebol. Na capital do futebol, como Buenos Aires é reconhecida, ele acompanhou partidas de clubes tradicionais como Argentinos Juniors, Estudiantes, Huracán, Independiente, Racing, San Lorenzo, além do clássico entre Boca Juniors e River Plate, na La Bombonera. "É incrível, eles são os  torcedores mais fanáticos que já vi na minha vida", acrescentou.

Um torcedor do Boca Juniors e o francês Thiabult Varange durante partida na La Bombonera - Foto: Arquivo Pessoal
Um torcedor do Boca Juniors e o francês Thibault Varange durante partida na La Bombonera - Foto: Arquivo Pessoal

A La 12 foi fundada nos anos de 1960 pelo açougueiro Enrique Ocampo, conhecido como 'Quique El Carnicero' - em português: Quique, o açougueiro. Durante os primeiros anos, se popularizou como uma simples torcida organizada, com ônibus para viagens e ingressos para o grupo. Na década de 80, o italiano José Barrita, conhecido por 'El Abuelo' (o avô), assumiu a liderança da barra brava, após um conflito com o antigo líder. 

Com o novo comando, a barra brava adotou uma conduta violenta e perigosa, exigindo parte dos lucros do comércio no entorno da Bombonera, assim como pressionar jogadores e empresários ligados ao clube. "El Abuelo entrou, colocou uma pistola em cima da mesa de ping-pong e a reunião começou", disse Diego Maradona em uma entrevista para um canal de TV Argentino, em 2012. A primeira passagem dele pelo clube xeneize foi nos anos de 1981 e 1982.

Barrita começou a perder o poder na La 12 depois de um clássico entre Boca Juniors e River Plate, na Bombonera. Isso devido a um ataque a tiros em um caminhão que levava torcedores do River ao estádio. Dois torcedores morreram no conflito. Anos após o episódio de violência, Barrita foi preso. "José Barrila, "El Abuelo", chefe da barra brava de Boca, foi levado pela polícia para a delegacia de Godoy Cruz, em Mendoza", estampou o jornal El Grafico.

Com a prisão de José Barrila, o jovem Rafael Di Zeo, que era o fiel escudeiro de "El Abuelo", assumiu o comando da barra brava. A partir disso, a uniformizada se associou a organizações criminosas e emboscadas com outras torcidas tornaram-se recorrentes pelas ruas de Buenos Aires. Di Zeo se tornou uma figura popular no futebol argentino e na política do país. "Não sou poderoso, mas tenho o telefone dos poderosos", disse Di Zeo em entrevista a imprensa local.

Apesar da influência, ele foi preso em 2007 após se envolver em uma briga generalizada nos arredores da La Bombonera. Conforme publicado pelos jornais locais, Di Zeo foi detido por porte de arma de fogo e ficou na cadeia até 2011. O seu aliado, Mauro Martín, assumiu como novo comandante da barra, se recusando a entregar o cargo após a saída do antigo companheiro da prisão.

Di Zeo e Martín dividiram a torcida do Boca Juniors e, devido a inúmeros conflitos, acabaram sendo impedidos de entrar nos estádios durante anos. Em uma dessas brigas, Di Zeo organizou um ataque ao ônibus da torcida xeneize e Mauro Martín acabou sendo atingido no estômago. Anos após o conflito, Martín foi preso por outro motivo, que não está relacionado ao futebol. Neste período, a uniformizada ficou sob a gestão de Fido Debaux, que também a se recursou a deixar o cargo. Foi então que Di Zeo e Mauro Martíns se uniram novamente e assumiram o comando da organizada em 2015.

"No período em que acompanhei o Boca Juniors, não notei nenhuma violência. Em particular, acho que isso é porque os torcedores visitantes estão proibidos de participar dos jogos do Campeonato Argentino. Então me identifiquei apenas pela paixão.  É incrível, eles são os melhores torcedores que já vi na minha vida", disse o francês Thiabult Varange. 

Veja a torcida 'La 12' durante partida na La Bombonera:

O francês acredita que esses conflitos podem ter sido evitados pela determinação do Governo do país que, em 2013, proibiu a presença da torcida visitante em jogos do campeonato nacional - algo que ele afirma ser contrário. A decisão foi tomada depois da morte de um torcedor do Lanús em confronto com a polícia no jogo da equipe contra o Estudiantes, em La Plata. 

"Sei que algumas brigas acontecem. Mas, pela experiência que tive, percebi que os torcedores do Boca vivem pelo seu time de futebol com uma paixão delirante. Durante o clássico, as pessoas dirigiam mais de 10 horas só para ver o jogo. O que mais impressiona é que, independente do resultado, eles continuam torcendo ao máximo", finalizou.

O francês Thibault Varange com torcedores do Boca Juniors nos arredores da La Bombonera