Se você ainda não teve o interesse ou a chance de acompanhar uma partida de futebol feminino in loco, pode estar perdendo a oportunidade de vivenciar uma experiência arrebatadora: “Quando o torcedor vai, ele se apaixona”.

A garantia de encantamento é dada por Bárbara Fonseca, gerente executiva do Cruzeiro. À frente das Cabulosas, a dirigente vibra com o ótimo momento da equipe. Aliás, o melhor desde a criação do time, em 2019, quando passou a figurar nas competições nacionais

A boa fase pode gerar empolgação natural, mas insuficiente para minimizar os desafios que a categoria ainda enfrenta para ter respeito, reconhecimento e arquibancadas lotadas. 

“A questão cultural ainda é uma coisa muito forte. Contudo, só se muda a cultura de um povo, de um Estado, principalmente com essa grandeza do nosso, com o tempo”, argumenta Bárbara.

Bárbara Fonseca, gerente executiva do Cruzeiro

Nesta quarta-feira (6/8), as meninas da Raposa terão a oportunidade de dar novo passo para ratificar o momento virtuoso que atravessam e, de quebra, galgar mais um degrau pela dignidade do esporte. A partir das 16h30, o Cruzeiro recebe o Corinthians, no estádio Castor Cifuentes, pela terceira fase da Copa do Brasil. Quem levar a melhor no duelo em Nova Lima garantirá vaga nas oitavas de final da competição.

Atlético e América também estarão em ação pela Copa do Brasil. As Vingadoras vão a campo nesta quarta-feira (6), contra o Real Brasília, às 15h, no estádio Bezerrão, no Distrito Federal. Já as Spartanas recebem o Santos, na quinta-feira (7/8 ), às 15h, no Independência. 

Além dos compromissos pela Copa do Brasil, há times mineiros na briga por títulos em outras frentes. Pelo Campeonato Brasileiro A1, as Cabulosas estão nas quartas de final, e o primeiro compromisso será no próximo 10 de agosto, às 10h30, contra o Red Bull Bragantino, no Canindé. A volta está marcada para o dia 17, às 10h30, no Independência. 

A equipe alvinegra, por sua vez, já garantiu o retorno à primeira divisão nacional e, agora, parte em busca da taça do Brasileirão A2. Pelas semifinais, as Vingadoras enfrentam o Santos, em 11 de agosto, às 21h, na Arena MRV. O segundo duelo será dia 18, às 21h, na Vila Belmiro. 

Outro destaque do Estado é o Itabirito. Na estreia nacional, pelo Brasileirão A3, as Gatas do Mato conseguiram o acesso e disputarão o A2, em 2026, bem como asseguraram vaga direta na segunda fase da Copa do Brasil do próximo ano. 

Apesar do bom momento em campo, desafios fora das quatro linhas

Um dos caminhos apontados por Bárbara Fonseca para romper a tradição incutida na mente daqueles que ainda são resistentes ao esporte é entender as peculiaridades do jogo feminino. “Não adianta ir ao estádio achando que verá uma partida igual à do masculino. Não é! É um jogo diferente. O que precisamos desconstruir na cabeça do torcedor do futebol é exatamente isso. É um jogo mais lento, mas, talvez, mais técnico, mais tático. Já o masculino é mais veloz, mais forte”, compara.

“Gosto muito de comparar com o torcedor de vôlei, aquele fanático mesmo, que ama o esporte. Ele sabe o que esperar num jogo do masculino e o que esperar de um jogo feminino. No masculino, o torcedor sabe que será saque, três toques e bola no chão. No feminino, ele vai ver mais rally. Por isso, já vai preparado”, complementa Bárbara.

Ana Clara Ramos Barcelos tem 27 anos e mora no Prado, região Oeste de BH. Analista financeira e atleticana, lidera a Torcida Organizada Vingadoras (TOV), grupo criado para apoiar exclusivamente o time feminino do Atlético. Presença assídua nas partidas do Galo, ela tem opinião semelhante à da dirigente do Cruzeiro sobre os obstáculos que precisam ser suplantados para que as meninas tenham mais apoio no esporte bretão. 

Torcida Organizada Vingadoras apoia time feminino do Atlético

“O futebol feminino enfrenta um desafio social muito grande. Faltam pessoas para abraçar o esporte de forma incondicional e entender as suas limitações. Ter ciência de que as condições são completamente diferentes das do futebol masculino, que vem há anos de desenvolvimento. As mulheres têm muito menos recursos, investimento, visibilidade. Além disso, em diversos momentos, a jornada delas no esporte foi interrompida e proibida. As pessoas fazem cobranças muitas vezes injustas”, critica Ana Clara.

“As pessoas precisam entender que o futebol é um processo, que o desenvolvimento dele acontece ao longo dos anos, jogando, investindo e estudando. Querem que, da noite para o dia, o futebol feminino e masculino sejam exatamente da mesma forma. São percursos de muitos diferentes”, acrescenta a analista financeira e líder da TOV.

Dirigente cobra mais divulgação da imprensa

Já no entendimento do gestor de futebol feminino do Galo, Ricardo Guedes, faz-se necessário promover iniciativas em várias frentes para que o interesse pelo jogo das meninas tenha o apelo devido. 

“O futebol feminino vem crescendo de forma mais significativa no Brasil nos últimos anos, com a criação do seu público cativo. Entendo que este interesse passa por uma divulgação mais presente,  além de ações dos clubes e federações para atrair o público que habitualmente acompanha o futebol masculino para também estar presente nas partidas", aponta o dirigente.

Guedes também cobra participação mais efetiva da mídia nas partidas. "Entendo também ser necessário cobertura maior da imprensa nos jogos. Já melhorou bastante, incomparável com o que havia tempos atrás. No entanto, ainda podemos mais”, sugere.

“Precisamos seguir unindo forças para que tenhamos, a cada dia, maior valorização e apoio à modalidade, assim conseguiremos atrair cada vez mais nossos torcedores aos estádios”, ressalta Guedes.

Diretor presidente do América, Dower Araújo, por sua vez, tem ciência das dificuldades que as garotas enfrentam, mas salienta que o clube alviverde tem se empenhado para apoiar a categoria.

“Temos procurado dar totais condições para que nossas atletas desenvolvam seu trabalho e, consequentemente, obtenham os resultados. Sabemos que há muito ainda a ser feito, mas temos certeza de que seguimos na trajetória correta", enaltece Araújo.