A terça-feira, 2 de abril, amanheceu mais colorida. O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo surge não para celebrar, mas sim para difundir informações sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e reduzir o preconceito e discriminação que cercam os autistas. O TEA é o resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro, diretamente relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.  

No futebol, os espaços e atenção dedicados aos autistas ainda estão longe do ideal, mas seguem em evolução. A paixão que liga o esporte aos autistas ultrapassa barreiras impostas pela burocrática aceitação social do transtorno. “Como vivo a inclusão, não entendo as pessoas que conseguem ver autistas, eu vejo apenas pessoas”, exemplifica Karina Sala, autista, fundadora da torcida Autistas Cruzeirenses e mãe do jovem Antony Sala, um autista nível 1. 

O esporte como deveria ser tratado: com carinho e respeito. A rivalidade se perde no universo inclusivo e cuidadoso de cada torcedor. Se no domingo Cruzeiro e Atlético decidem o Campeonato Mineiro, hoje as torcidas se unem por uma conquista ainda maior.  

“Uma frase que resume o que um pai atípico sente é buscar a empatia das pessoas, pois assim elas irão querer o bem de nossos filhos e zelar por eles” diz Rodrigo Souza, fundador da torcida Autistas do Galo, pai de Júnior Assis.  

A família da cidade de Araxá decidiu criar a torcida pelo desejo de acompanhar o clube do coração nos estádios. Mas o sonho de levar o filho aos jogos esbarrava no alto som que incomodava o filho autista. Inspirado pela torcida corintiana, Autistas Alvinegros, Rodrigo deu o primeiro passo e hoje celebra mais um ano de conquistas fora das quatro linhas. 

“Lutamos para que a inclusão ocorra dentro e fora dos gramados. Realizamos várias ações durante o ano para que os autistas sejam incluídos. Participamos de um movimento chamado ‘arquibancada autista’. São 28 torcidas de autistas no Brasil que lutam juntas para mostrar que, apesar de torcemos para times diferentes, nos respeitamos e nossa causa é maior”, define a analista de RH, Flávia Diniz, mãe de Samuel, uma das crianças com autismo que hoje frequenta e desfruta de momentos de lazer nos estádios de Minas Gerais.   

Mineirão 

O Gigante da Pampulha terá um espaço dedicado aos autistas. O Camarote TEA está em fase final de estruturação. O equipamento, com capacidade para 14 pessoas, fica no setor Leste Vermelho do Gigante da Pampulha, e contará com acompanhamento de uma especialista em psicopedagogia que estará presente nos jogos. A inauguração está prevista para abril. 

Isabel Cristina, 39 anos, autônoma, é mãe do garoto Miguel Lorenzo, autista nível 1 de suporte. Frequentar o ambiente esportivo transforma todos os dias a vida de Miguel. “Podemos afirmar que o futebol é um esporte que tem um papel muito importante nas nossas vidas. O Miguel se sente muito à vontade para ir aos jogos do Cruzeiro e as idas aos estádios tem ajudado no desenvolvimento dele. Hoje ele consegue se socializar e até assistir à partida inteira”, relata Isabel.