As mortes de Daniela Antonini, de 42 anos, da filha Giovana Antonini, de 1 ano e 7 meses, e Cristina Antonini, de 66 anos, encontradas sem vida dentro do apartamento que moravam no bairro Barro Preto, na região Centro-Sul, de Belo Horizonte, em maio, reacenderam o alerta para uma grave doença: a depressão.
Segundo as investigações da Polícia Civil, Daniela se encontrava em um estado profundo de depressão, causado por diversos motivos, entre eles uma condição grave de saúde da filha e questões financeiras, que a teriam levado a tirar a vida da mãe e da criança, além de se suicidar. Uma carta deixada pela mulher dentro do cômodo ajudou a esclarecer os fatos.
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A última Pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, realizada em 2023, nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, mostrou que a média de frequência do diagnóstico médico de depressão foi de 12,3% em toda a população. O índice teve aumento em relação ao levantamento feito em 2021, quando 11,3% apresentavam a doença.
Mas afinal, o que é depressão? Como se atentar a possíveis sinais da doença? De que forma procurar ajuda?
O que é depressão?
Segundo o Ministério da Saúde, a depressão é uma doença mental de elevada prevalência e é a mais associada ao suicídio, tende a ser crônica e recorrente, principalmente quando não é tratada. É um problema médico grave e altamente prevalente na população em geral.
De acordo com estudo epidemiológico, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico.
O médico psiquiatra Bruno Brandão Carreira explica que a depressão é caracterizada por um humor triste, um humor deprimido, uma falta de sensação de prazer nas coisas, de experimentar sensações positivas.
"Como que diferencia depressão de tristeza? Tristeza é algo passageiro, é algo que acontece, é um evento que você fica triste. A depressão, além da tristeza, a gente tem uma série de outros sintomas. O humor triste é um. Mas acontece também perda do interesse da nossa capacidade de experimentar prazer. Pode ter também dificuldade para dormir na imensa maioria das vezes. Outras pessoas apresentam sonolência extrema, alterações no apetite, perda de peso, diminuição do apetite com perda de peso, sensação de morte, esgotamento físico", explica Carreira.
O especialista diz que este conjunto de sintomas da depressão resulta em uma espécie de "desligamento do cérebro", gerando um prejuízo funcional na vida daquela pessoa. "Já a tristeza é um evento que todos nós experimentamos, é uma emoção que está associado com algum evento negativo. Muita gente acha que depressão é uma espécie de tristeza intensa, o que não é verdade. Depressão é toda uma atividade mental que começa a ficar comprometida", afirma Carreira.
Causas
Genética
Estudos com famílias, gêmeos e adotados indicam a existência de um componente genético. Estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade para desenvolver depressão.
Bioquímica cerebral
Há evidencias de deficiência de substancias cerebrais, chamadas neurotransmissores. São eles Noradrenalina, Serotonina e Dopamina que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor.
Eventos vitais
Eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos naqueles que tem uma predisposição genética a desenvolver a doença.
Fatores de risco
- Estresse crônico;
- Disfunções hormonais;
- Transtornos psiquiátricos correlatos;
- Histórico familiar;
- Ansiedade crônica;
- Dependência de álcool e drogas ilícitas;
- Conflitos conjugais;
- Traumas psicológicos;
- Mudança brusca de condições financeiras e desemprego;
- Doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasias entre outras.
Diagnóstico
O diagnóstico da depressão é clínico, feito pelo médico após coleta completa da história do paciente e realização de um exame do estado mental. Não existe exames laboratoriais específicos para diagnosticar depressão.
Prevenção
Para manter um estilo de vida saudável é preciso:
- Ter uma dieta equilibrada;
- Praticar atividade física regularmente;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
- Não usar drogas ilícitas;
- Diminuir as doses diárias de cafeína;
- Rotina de sono regular;
- Combater o estresse com atividades prazerosas;
- Não interromper tratamento sem orientação médica.
Atendimento
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, em suas diversas modalidades, são serviços estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Eles possuem caráter aberto e comunitário, com equipes multiprofissionais que atuam de forma interdisciplinar, oferecendo atendimento a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão severa, além de pessoas com dependência de álcool e outras substâncias.
Atualmente, Minas Gerais conta com 444 CAPS, sendo 63 destinados exclusivamente ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de crise devido a transtornos mentais graves e persistentes.
A Coordenação Estadual de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas disponibiliza um painel no Power BI com todos os serviços da Rede de Atenção Psicossocial em Minas Gerais por município. Além disso, no site www.saude.mg.gov.br/saudemental, é possível encontrar detalhes sobre os serviços de saúde mental no SUS. Os cidadãos também podem utilizar o aplicativo Meu SUS Digital para localizar os serviços de referência disponíveis em cada região através da localização.
Como ajudar
Bruno Carreira orienta familiares e amigos a estarem atentos a pessoas que podem apresentar um quadro de depressão. O especialista afirma que é importante ter atenção a mudanças de comportamentos.
"Muitas vezes a pessoa pode estar vivenciando e não falar. Uma forma de perceber que o outro pode estar entrando em um quadro depressivo, é um isolamento social, a mãe que percebe o filho adolescente se isolando, não quer mais sair. A perda do desejo de experimentar coisas que antes eram prazerosas. Isso é um grande indício, além dos sintomas já mencionando", diz.
O médico psiquiatra também dá dicas de como abordar essa pessoa sem ser invasivo. "A melhor forma é tentar se aproximar sem cobrança. Se mostrar presente, que está disposto a ouvir. Falar que se a pessoa quiser se abrir, está ali para ajudar, se aproximar aos poucos e sem fazer qualquer tipo de julgamento. Às vezes até sem se maldade, a pessoa deixa o outro mais deprimido e com sentimento de culpa. Você não precisa sentir o que o outro está sentindo. Mas sim estar ali do lado, ouvindo e oferecendo ajuda", conclui.
Procure ajuda
Diante de crises emocionais, sentimentos de desesperança ou solidão profunda, muitas pessoas se veem sem saber a quem recorrer. Uma das principais redes de apoio emocional do Brasil é o Centro de Valorização da Vida (CVV), uma instituição que oferece escuta acolhedora e sigilosa a quem precisa conversar.
O CVV é uma organização sem fins lucrativos que presta apoio emocional por meio do telefone 188, um serviço gratuito, disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana. Além da ligação telefônica, a escuta também pode ser feita por e-mail, chat ou pessoalmente em postos de atendimento distribuídos pelo país.
O serviço é realizado por voluntários treinados que se dedicam a ouvir, sem julgamentos, críticas ou conselhos. O foco está em acolher e valorizar a vida, permitindo que a pessoa possa se expressar e encontrar alívio em meio à dor.
Serviço:
CVV – Centro de Valorização da Vida
Telefone: 188 (ligação gratuita e sigilosa, 24h por dia)
Atendimento também disponível via chat e e-mail em: www.cvv.org.br