A investigação sobre o desvio de R$ 107 milhões de um banco na cidade de Santa Inês, no Maranhão, Nordeste do Brasil, que tem sede em Belém, no Pará, no Norte, revelou um esquema envolvendo uma quadrilha de criminosos que age em pelo menos dez estados do país, inclusive com comparsas em Minas Gerais. A Polícia Civil mineira informou que o grupo teria tirado o dinheiro das contas de clientes de uma agência no município maranhense e desviado para contas de laranjas. Do dinheiro roubado pelos criminosos, R$ 30 milhões foram depositados em contas de Minas Gerais, em 21 movimentações bancárias.
Na última quinta-feira (3), dois homens, de 24 e 28 anos, foram presos em flagrante no Centro de BH, por suspeita de envolvimento com o grupo. Segundo a Polícia Civil, os dois receberiam quantias da quadrilha para fornecer suas contas bancárias para que os criminosos movimentassem o valor roubado.
A dupla foi detida quando estava em uma agência bancária de Belo Horizonte, onde fariam o saque de R$ 2 milhões depositados com a fraude. A investigação descobriu que os suspeitos falsificaram um contrato de compra e venda de um imóvel, utilizando Inteligência Artificial, para tentar lavar o dinheiro sujo.
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O delegado Anderson Kopke, da 3ª Delegacia Especializada de Investigação contra Fraudes, explicou que ao fazer o saque da quantia, um dos suspeitos ficaria com R$ 200 mil e o outro, com R$ 50 mil e que o restante seria repassado para integrantes da quadrilha.
Como o roubo do dinheiro já era investigado, o trabalho de inteligência da Polícia Civil, que já apurava o desvio, conseguiu identificar os suspeitos e prendê-los em flagrante, antes que o dinheiro fosse sacado.
“Tudo começou no dia 30 de junho, quando o gerente do banco em Santa Inês, que foi preso, instalou dispositivos para roubar senhas dos clientes. Até o dia 3, a quadrilha conseguiu desviar esses R$ 107 milhões e fez a distribuição para dez estados do país. Um dos homens presos aqui, em Belo Horizonte, receberia R$ 200 mil e o outro, R$ 50 mil”, explicou Kopke.
O esquema
Segundo as investigações, o homem de 28 anos que receberia R$ 200 mil foi o primeiro da dupla a ser captado por um agente da quadrilha para fazer parte do desvio. O delegado explicou que o grupo criminoso contratava mais pessoas pelo país para conseguir fazer a distribuição do dinheiro com valores menores, para tentar chamar menos a atenção dos bancos. Por isso, precisando de outras pessoas para distribuir o valor desviado em diversas contas, o suspeito de 24 anos foi chamado pelo colega.
“Sabemos que existem muitas quadrilhas com esse know-how e agentes vão cooptando 'laranjas' para fazerem parte, tentando despistar as investigações. Seguimos trabalhando para encontrar outros participantes aqui em Minas Gerais. Precisamos identificar toda a estrutura e avançar até onde for possível”, completou o delegado.
Durante a operação, foram apreendidos R$ 1.564 em espécie, dois celulares e um veículo utilizado pelos suspeitos. Foram bloqueados cerca de R$ 2 milhões em contas bancárias. Até o momento da publicação da matéria, cerca de R$ 63 milhões dos valores desviados já haviam sido recuperados.
Roubo bilionário
Esse é o segundo caso de desvio de dinheiro de bancos em uma semana no Brasil. Na quarta-feira (2), a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para investigar um golpe a sistemas de instituições financeiras que tiveram as contas invadidas por meio da C&M Software, empresa que presta serviços de conexão.
Segundo o site Brazil Journal, o total desviado pelos criminosos pode chegar a R$ 1 bilhão. Os recursos estavam depositados em contas reserva mantidas no Banco Central (BC).
Fenabran
A Federação Brasileira de Bancos (Fenabran) foi procurada pela reportagem para falar sobre os sistemas de segurança dos bancos e proteção de dados confidenciais de clientes, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.