Fã de uma boa pescaria, Nathan é dono de várias e ótimas histórias. Mas histórias de verdade, não aquelas que todo pescador adora contar. O meia do Atlético abriu as portas de sua casa para conversar com a reportagem do SuperFC e contar algumas delas, como ser derrotado pela esposa nas pescarias e tomar bronca por dormir ao invés de ver séries e filmes com ela e a importância do pai, figura fundamental em sua carreira. Também não faltam causos sobre a vida futebolística. Tem o Chelsea chamando sua atenção por causa de uma camisa autografada de Cristiano Ronaldo, o "paizão" José Mourinho, ele esnobando a 10 do Tottenham que ainda tem guardada, rejeitando o Real Madrid e fazendo uma homenagem especial para a Chapecoense com uma "ajudinha" do árbitro.

Confira a primeira parte da entrevista exclusiva do SuperFC com Nathan em sua casa:

Nathan, obrigado por abrir sua casa para a reportagem de O Tempo. Queria começar te perguntando como está sendo a vida em Belo Horizonte e esse ano no Galo.

"Muito obrigado também por terem vindo. O ano vem sendo muito bom. Estou muito adaptado, gostando da cidade e minha esposa também, que está fazendo faculdade. Fico muito feliz. No clube também venho tendo grandes resultados e espero ter continuidade e continuar trazendo alegrias para essa Massa."


Você vem tendo mais oportunidades com o Rodrigo Santana, que tem te colocado mais vezes para jogar e entrar nos últimos jogos. Você até marcou gol no último clássico contra o Cruzeiro. Como está sendo essa nova fase no Atlético?

"Sempre trabalhei muito forte para chegar nesses momentos decisivos e corresponder. Fico feliz pelas oportunidades que estão vindo. O gol no clássico é uma coisa que não tem explicação. Na saída de campo eu nem parei para falar com nenhum repórter, porque a primeira coisa que eu queria fazer era ligar para o meu pai. Eu fiquei muito feliz porque não marcava gol fazia um tempo, já que vinha jogando mais recuado."

O seu pai te acompanha desde pequeno, tem todo um acervo seu em casa... Qual a importância dele na sua carreira?

"Meu pai fez toda a diferença na minha carreira. Ele quem me colocava pra dentro da quadra pra jogar. Eu lembro que eu saía chorando, dizendo que a minha chuteira estava desamarrada, e ele me pegava, desamarrava minha chuteira, amarrava de novo e me colocava pra dentro da quadra. Ele sempre me incentivou, fazia uma festa danada na arquibancada e tem tudo guardado até hoje: fotos, vídeos, medalhas, troféus desde que eu tinha uns seis anos."

Ele me contou que você passou em testes no Grêmio, no Inter e em outros clubes e só te liberou para jogar no Athletico-PR. Por que isso e como foi essa história?

"Eu passei nos dois times e depois também no Figueirense, mas ele não me deixou ficar nesses clubes. Depois eu conheci o Athletico-PR e ele me deixou ficar no clube por causa da estrutura. Ele me disse que tinha certeza que eu seria bem cuidado lá e aí fiquei seis, sete anos lá e, quando surgiu a oportunidade do Chelsea, eu fui. E foi ele também quem trouxe a proposta do Chelsea, ele quem correu atrás de tudo. Mesmo sem falar inglês nem nada, ele foi até Londres, conheceu vários lugares e os clubes que pretendiam fazer a compra. Se não fosse ele na minha vida, não sei como seria."

Você fez muito sucesso na base do Athletico-PR e também se destacou na base da seleção brasileira. Usou até a camisa 10 e teve bom desempenho. Quais as principais lembranças desses momentos?

"O momento mais marcante foi a minha primeira convocação. O técnico era o Alexandre Gallo e aí, logo no primeiro campeonato, ele me deu a camisa 10. Lembro que muitos jornais criticaram o fato de eu usar a camisa 10 e disseram que tinham jogadores que vinham numa sequência boa na seleção, e logo na primeira convocação eu peguei a 10. Mas o Gallo sempre me deu confiança e disse que daria certo. Logo na estreia, eu marquei dois gols, e aí minha carreira decolou. Depois desse campeonato eu fui negociado com o Chelsea. Foi o momento mais marcante da minha carreira. Eu era praticamente nada ainda e, do nada, o mundo inteiro passou a me conhecer. Fico muito feliz de ter dado tudo certo e agora espero ter continuidade e continuar me divertindo dentro de campo e sendo feliz aqui no Galo."

Além do Chelsea, quais outras equipes te procuraram nessa época?

"O Tottenham e o Real Madrid. Meu pai chegou a ir no Santiago Bernabéu quando faziam a negociação pelo James Rodríguez. Os dois foram os principais junto com o Chelsea. Meu pai foi nos estádios, conversou com os presidentes... Mas escolhemos o Chelsea pela fama de contratar jogadores jovens e colocar pra jogar. Isso me motivou a ir pra lá."

Me contaram uma história de que o Tottenham até fez uma camisa pra você (risos)...

"É verdade (risos). O Real Madrid também me deu uma camisa do Cristiano Ronaldo. O Tottenham fez uma pra mim com meu nome e o número 10. Eu lembro que quando o Cristiano Ronaldo fez aquele gol de bicicleta... Eu tenho a camisa dele autografada. Ele deu a camisa para o meu pai me entregar. Quando ele fez aquele gol de bicicleta, eu coloquei no meu Instagram uma foto minha com essa camisa. O pessoal do Chelsea me ligou na hora doido (risos). Falaram: 'Pô, Nathan, você é nosso jogador e fica postando foto com a camisa do Cristiano Ronaldo e a gente sabe que você teve oferta para ir para o Real Madrid'. Me fizeram apagar a foto (risos). Eu não tinha postado a foto porque queria ir para o Real Madrid, mas por causa do golaço do cara. Apaguei a foto, não quis confusão, mas tenho a camisa ainda (risos)."




Falando no CR7, um craque que inspira muitos jogadores, em quais jogadores você se inspira?

"O primeiro é o Ronaldinho, que também jogou aqui no Galo. Tenho certeza que não existe outro igual a ele. Ele tem um improviso muito rápido, começou no salão, depois foi para o campo. Para mim, ele é o principal ídolo. Eu gosto muito do estilo de jogo do Messi e também do Cristiano Ronaldo pela motivação que ele tem. Todo mundo fala que ele não nasceu com o dom, mas se criou para fazer esse monte de gols. São nesses três jogadores que eu mais me inspiro."

Como foi trabalhar com o José Mourinho?

"Trabalhei uns quatro, cinco meses com ele no Chelsea. Pelo jeito dele, na televisão, as pessoas acham que ele é diferente do que realmente é. O Mourinho é um paizão, especialmente para os jogadores mais novos. Quando eu cheguei no Chelsea, no meu primeiro dia, junto com meu pai no corredor, o Mourinho foi até a gente, me cumprimentou e disse para o meu pai que ele poderia ficar tranquilo porque ele ia cuidar muito bem de mim. Ele já sabia tudo sobre mim. Isso faz toda a diferença e dá muita confiança. E o Mourinho ensinava muita coisa para os jogadores mais jovens, dava muita dica, conversava bastante conosco. Cresci muito com ele e o trabalho foi ótimo."

O futebol europeu tem um nível técnico e tático muito superior ao jogado no Brasil. No que você mais evoluiu durante seu período na Europa?

"Aprendi a respeitar as linhas de marcação. Eu era muito preguiçoso quando fui para a Europa (risos). Não gostava muito desse negócio de marcar (risos). No meu primeiro ano na Holanda (no Vitesse), eu jogava de ponta, e o técnico me dizia que eu precisava ficar em cima da linha para quando o time ter a bola, eu receber e ficar no um contra um contra o lateral adversário e ir pra cima. Dava uns dois, três minutos, eu me metia para o meio e ele começava a berrar, e eu não entendia nada que ele estava dizendo. Já tinham me falado que eu tinha que ficar em cima da linha. Ele ficava gritando comigo, eu fazia sinal de positivo, mas não entendia nada que ele estava falando (risos). Chegava no intervalo, ele me tirava e eu ficava p***. Saía doido porque estava jogando bem e ele me tirava. Depois do jogo o pessoal traduzia o que ele tinha dito pra mim. É que ele me mandava ficar na ponta, eu fazia joia, mas ia para o meio, e aí ele ficava doido (risos). No começo foi difícil, mas depois eu vi que fazendo o que ele me mandava, dava muito certo e eu fui aprendendo. Cresci muito taticamente e isso faz diferença para mim hoje."

Você ficou dois anos no Vitesse, quando o clube viveu a melhor fase de sua história e conquistou a Copa da Holanda. Como foi essa época da sua carreira?

"Foi maravilhosa. O clube não conquistava um título há mais de 100 anos e conseguimos um feito desses. Não tem nem explicação o que aconteceu. Nós eliminamos o Feyenoord e fomos campeões. A cidade parou. Eu acho que é feriado na cidade no dia da final até hoje (risos). Cara, o pessoal lá ficou louco com o título, pararam a cidade. Nós passamos no caminhão de bombeiro pela cidade e o holandês, que já não é muito normal (risos)... Os caras subiram pelas paredes. Fecharam todos os comércios da cidade durante dois dias e foram três dias direto de festa. Foi muito louco."

Falando um pouco da sua vida fora de campo... Você gosta de uma pescaria, né?

"Eu gosto de pescar pra caramba. Dá uma folga, eu chamo meus amigos e a gente vai pescar. O Victor está até me devendo uma pescaria, mano (risos). O cara fala que vai, que vai, mas não vai nunca (risos). Nas horas vagas é o que eu me divirto e gosto de fazer. Quando meu pai vem pra cá, ele vê dois, três jogos e aí a gente vai pescar depois logo que dá. A família inteira gosta de pescar, minha esposa também. Às vezes fico p** pra ca*****, porque a gente vai pescar e ela pega uns peixes maiores que eu (risos)."



Filmes, séries, ler... O que mais você gosta de fazer?

"Mano, filme e série eu nunca consigo terminar de ver (risos). Às vezes leio livro, mas filme e série, se fica chato, eu começo a dormir ou saio fora, minha esposa até fica brava (risos). A gente vê dois, três episódios e no quarto eu já dou uma escapada (risos)."

Qual tipo de livro você gosta de ler?

"Mais livros de motivação, do Michael Jordan também. Estou começando a ler o 'Nascido para vencer' agora."

E de música? Tem o funk do Guga no vestiário que é meio complicado (risos). Você vai nessa linha ou prefere ouvir outra coisa?

"(Risos) Cara, eu escuto bastante. Escuto as músicas que o Guga coloca até também, mas sou eclético, escuto qualquer coisa. Às vezes antes do jogo eu escuto Racionais pra entrar no grau, mas escuto tudo que colocam no vestiário."

E tatuagens? Você gosta bastante, quantas tem? Está planejando fazer alguma nova?

"Cara, de número eu não sei, já perdi a conta (risos). Eu gostaria de fazer mais, gosto bastante. Penso que se tu acha um tatuador bom, você consegue expressar arte e algumas coisas no corpo. Eu tenho um lado só de coisas religiosas, salmo da Bíblia, as datas dos meus pais, um olho com um menino com uma bola dentro... E do outro lado eu só fiz animal (risos). Eu gosto. Quando tenho um tempo livre maior eu vou tatuar e não fico pensando muito."

Lembrei de uma história curiosa sua. Quando você estava no Vitesse, na época da tragédia envolvendo a Chapecoense você marcou um gol e comemorou tirando a camisa e mostrando uma da Chape por baixo. O árbitro fingiu que não viu e não te deu amarelo, não foi?

"Foi muito legal, cara. Eu tinha tomado uma pancada em um treino e fiquei uma semana fora. Voltei no time reserva e logo depois de ter acontecido isso com a Chape. Estava no banco e pensando que tinha que entrar porque o gol ia sair. Entrei no finalzinho do jogo e fiz o gol. Perdi amigos naquele voo e foi um momento muito emocionante e marcante na minha carreira e fiquei muito feliz de ter feito o gol e homenageado eles. Foi muito bacana o árbitro ter dito que fingiu que não viu e fazer aquilo."