Você sabe a diferença entre forte e fortaleza? Pela definição do professor e historiador Roberto Airon Silva, em seu livro “Uma Arqueologia das Casas Fortes”, o forte tem apenas uma bateria de artilharia, ou seja, um espaço incluso na construção onde é possível combater usando canhões, arcabuz e mosquete, enquanto a fortaleza apresenta duas baterias, uma na construção principal e outra afastada dela. Outra característica que os difere é que a fortaleza tem um contato direto com a povoação, não protegendo apenas os soldados aquartelados durante um ataque, mas também própria cidade ou vila.

Segundo dados do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), atualmente existem 19 fortificações no Brasil tombadas pelo órgão federal em diversos Estados, que integram a Lista Indicativa a Patrimônio Mundial da Unesco, entre elas a Fortaleza de São José do Macapá (foto abaixo, crédito: Governo do Amapá / Divulgação), na capital amapaense. Nesta terça-feira (6/8), uma solenidade vai marcar o início das obras emergenciais de restauração da fortaleza, candidata a Patrimônio Mundial da Unesco. Depois de consulta pública pelo governo estadual, a ideia é transformar o cartão-postal de Macapá em centro museológico e cultural, com café restaurante.

O projeto de revitalização do monumento histórico, ao custo de aproximadamente R$ 30 milhões, é coordenado pela equipe técnica da Associação Pró-Cultura e Promoção das Artes – APPA Cultura & Patrimônio, uma Organização Social mineira, com recursos captados junto Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com apoio do governo do Amapá e fiscalização do Iphan. Além desse patrimônio histórico para a historia do Amapá, a APPA também deve restaurar e requalificar outros dois monumentos – o Real Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques, em Rondônia. A previsão de conclusão das obras é para dezembro de 2026.

Para Xavier Vieira, presidente da APPA, hoje é a solenidade de inauguração da primeira etapa das obras de restauração e requalificação das Fortaleza de São José de Macapá. Que virá asfortaleza virá a ser um espaço museal, histórico, arquitetônico e pujante. “Essas obras vão dar condição pata a fortaleza atender os critérios da Unesco para ser chancelada patrimônio mundial. Essa ação tem o potencial de se desdobrar em um fluxo turístico e econômico, em uma reorganização para o Estado do Amapá e a região norte do País”, destaca.

Embora não seja lembrada como destino turístico, Macapá guarda singularidades: é a única cidade brasileira cortada pela Linha do Equador e única banhada pelo rio Amazonas. Também não possui conexão por rodovia com nenhuma capital, sendo seu acesso somente possível por via aérea ou fluvial. Na primavera (março) e outono (setembro), pode-se observar o equinócio, quando os raios do sol incidem diretamente sobre a linha do Equador, fazendo com que noite e dia tenham a mesma duração. O Marco Zero, um obelisco de 30 metros (foto acima, crédito: Max Renê / Divulgação) no centro da avenida Josmar Chaves Pinto, marca o local exato onde passa a Linha do Equador.

Durante o fenômeno, o monumento projeta sua sombra exatamente sobre a linha divisória. O Marco Zero também é um dos mais instagramáveis da cidade. O visitante pode colocar um pé no hemisfério sul e outro no hemisfério norte. Há curiosidades que atraem turistas: quando colocado sobre a linha imaginária, o ovo fica parado em pé. Cientistas acreditam que o ovo fica em pé devido à força de Coriólis, em função da rotação da terra. Essa força é zero na linha do Equador. Perto dali, a linha ainda atravessa o Estádio Zerão, dividindo o campo ao meio e fazendo com o que cada time de futebol jogue em hemisférios diferentes.

O Marco Zero é um dos atrativos que podem ser feitos em city tour com o guia Marcelo de Sá Gomes. O passeio começa na fortaleza e passa pelo Marco Zero, pela igreja de São José, a primeira construção da cidade, de 1761, onde está a imagem original do santo esculpida em madeira, e o Museu Joaquim Caetano da Silva (foto acima, crédito: Aog Rocha / Divulgação), que abriga coleção peças históricas e arqueológicas sobre a ocupação do Amapá, como urnas funerárias dos povos indígenas Maracá e Cunani encontradas em escavações. Silva escreveu a obra “L’Oyapoc et Aamazone”, fundamental para o Barão do Rio Branco definir nossa fronteira com a Guiana Francesa.

Por sinal, além dos maracás e cunanis, outras etnias como Galibi, Tucuji, Karipuna, Palikur, Tiriyó, Katxuyana, Wayana, Aparaí, Zo’é e Wajâpi ocupavam o território antes de serem expulsos pelos franceses, depois de sangrentas batalhas, para o norte do Estado. Hoje, cerca de 71% do território é ocupado por indígenas. De acordo com o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os indígenas somam 11.334 pessoas, que representam apenas 1,55% do total de 733.508 habitantes do Estado.

O Amapá é também pioneiro em reconhecer os direitos dos indígenas e ter todas as suas terras demarcadas. Nesse aspecto, a fortaleza cumpriu uma função primordial na defesa do território. Mendonça Furtado, que fundou Macapá como vila, em 1758, foi o artífice da ideia de fortificar a entrada do rio Amazonas, por receio da ambição estrangeira na região. Construída de 1764 a 1782 para proteger as fronteiras do “Cabo Norte”, como era conhecido o Amapá no período colonial, a Fortaleza de São José de Macapá (foto acima, crédito: Max Renê / Divulgação) é a maior fortaleza construída pelos portugueses na América do Sul. Vista do alto, a fortificação se revela como um gigante colossal e imponente, indissociável da cidade de Macapá. Erguida com o suor de indígenas e escravizados, em seu interior encontram antigos, armazéns, paiol, hospital, casamatas, casas de oficiais e uma capela.

Navegar de barco pelo rio Amazonas para ver o pôr do sol dourando as águas é outro programa procurado pelos turistas. Outro passeio leva à vila de Curiaú, onde vivem mais de 400 famílias quilombolas, que desenvolvem o projeto Flor de Samaúma. O trajeto começa no porto de Mocambo com um passeio de caramarã em direção à nascente do rio Curiaú e segue para a sede do projeto, onde os visitantes conhecem duas atividades da bioeconomia: o beneficiamento de açaí e a meliponicultora (criação de abelhas sem ferrão), finalizando com uma trilha de 500 metros para avistar a samaúma, árvore considerada a “rainha da floresta”, a seringueira e a pracaxi.

 

 

 

 

 

 

 

Em Mazagão estão as raízes do marabaixo, manifestação cultural de origem africana A melhor época para observar a manifestação é na Quaresma. Em devoção à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo, mulheres, homens e crianças de comunidades vestem-se com trajes coloridos e saias rodadas, dançando ao som do batuque das rodas de marabaixo (foto acima, crédito: Max Renê / Divulgação), enquanto cantadores entoam versos para que outros respondam. A versão mais aceita para a origem do nome marabaixo é que os escravizados, na travessia do Atlântico, cantavam entoavam nos navios os versos “mar acima e mar abaixo”.

Para concluir sua visita à Macapá, conheça o Museu Sacaca, que retrata o modo vida dos ribeirinhos e resgata tradições culturais, além d revelar toda a biodiversidade da floresta amazônica, passeie pelo Bioparque Amazônia para conhecer ambientes da floresta, cerrado e campos inundados, além tirolesa e trilhas aquáticas suspensas, e termine seu dia na Casa do Artesão (foto acima, crédito: Max Renê / Divulgação) para comprar um suvenir. Em Macapá, ainda, recomenda-se comer seus mais famosos pratos típicos, a caldeirada e o camarão no bafo, e tomar uma gengibirra, a famosa aguardente feita com açúcar e gengibre, e experimentar o açaí local (foto abaixo, Jorge Júnior / Divulgação).

Serviço:

Como chegar
A Azul tem voos para Macapá a partir de R$ 766 o trecho Icotação realizada para a segunda quinzena de setembro). Acesse Voe Azul.

Onde se hospedar
Hotel do Forte: rua Beira Rio, 248, Santa Inês. Diárias a partir de R$ 300 em aparto standard duplo.

Onde comer
Peixaria Amazonas: rua Beira Rio, 248, Santa Inês. Experimente o principal prato típico local, o camarão no bafo, acompanhado de limão, farofa e molho de tucupi com pimenta cumari a R$ 75 para uma pessoa. Instagram / @amazonaspeixaria
Flora Restaurante: rodovia Macapá Maz9843-agão, Porto Santana, Santana. A dica é a peixada ou a caldeirada. Instagram / @flora_restaurante
Restaurante Estaleiro: avenida Primeiro de Maio, 52, Trem. Um dos pratos mais pedidos é o peixe nlo tucupi. Instagram / @estaleiro_restaurante

Guia
Marcelo de Sá Gomes: (96) 98435-7150  (Instagram / @marcelosgomes ). City tour a R$ 350 (para duas pessoas durante um dia) e passeio de barco no rio Amaonas (R$ 450 para duas pessoas).