O Leblon é um dos bairros com metro quadrado mais caros da zona Sul carioca. No entanto, o lugar ficou mais conhecido do grande público pelas novelas de Manoel Carlos, como "Por Amor", "Mulheres Apaixonadas" e "Laços de Família". Em um dos endereços mais utilizados pelo autor, o condomínio Simoger, nunca a ficção incorporou tão bem a realidade: na rua Aristides Espínola morava suas personagens "Helenas", já interpretadas, entre outras, pelas atrizes Regina Duarte e Vera Fischer. Muita gente até hoje acredita que a novela era gravada ali. O prédio erguido nos anos 1950 é hoje um ponto turístico do bairro.

Clan BBQ
Passei pelo prédio a caminho do Clan BBQ — abreviação em inglês para a palavra barbecue (churrasco) — imóvel que abrigou no passado o Zuka, do chef Felipe Bronze. O restaurante fica localizado na rua Dias Ferreira, hoje o melhor circuito de bares e restaurantes do Rio de Janeiro. Provavelmente o bairro de Lourdes, em Belo Horizonte, se inspirou nessa área carioca para virar referência gastronômica. A proprietária do restaurante, Janine Sad, comprou o espaço em 2020 para trazer a experiência do "sabor do fogo" para seus clientes. Todos os ingredientes vão literalmente à brasa: carnes, aves, peixes, frutos do mar, legumes.
A casa de grelhas não é uma churrascaria comum, basta experimentar os pratos para entender isso. Serve-se carnes premium, como ancho, denver steak, fraldinha e prime rib, todas selecionadas por uma curadoria na butique de carnes B.B. Shop. Do balcão pode se vislumbrar a carne levada à grelha. Tudo corrobora para o comensal compactuar com o lema da casa, escrito em neon vermelho: "Não apague o meu fogo”. "O fogo é a forma de cocção mais antiga do mundo. Ela está no DNA antes mesmo do sal", comenta a proprietária da casa.
A proposta é compartilhar comida em um ambiente agradável. Tudo em pequenas porções para poder experimentar todas as possibilidades do cardápio. A couve-flor grelhada na brasa, fondutta de queijo de cabra e pistache tostado (R$ 46) é uma boa entrada. O ovo mollet com cogumelos marinados com tomilho na brasa, espuma de batata, “crocantinho” de pão e perfume de trufas negras (R$ 56) é outra sugestão. O maior sucesso da casa é o hambúrguer BBQ (R$ 58), também levado à brasa e com sabor inigualável. "Há dez anos que fazemos cheeseburger na brasa até dominar a técnica", arremata o chef Newton Rique.
Clan BBQ: rua Dias Ferreira, 223, loja B, Leblon. Instagram / @clanbbq
Dias Bar e Mar
Duas quadras dali está O Dias Bar e Mar, com sua atmosfera praiana na decoração e no atendimento. Mesinhas e cadeiras de praias e ombrelones espalhados pela calçada denunciam que você está no Rio, a três quadras da praia. O proprietário Jonas Aisengart, de família de origem polonesa, também tem outras três casas — o restaurante ítalo-mediterrâneo em Ipanema Pope (@popeipanema) e os bares Quartinho (@quartinhobar) e Chanchada (@chanchadabar), em Botafogo. esse último eleito o melhor bar de comida de boteco do Rio, com seu famoso torresmo de barriga de porco e pastel de milho.
O que surpreende no Dias Bar e Mar não é apenas a vibe, que se espalha até pelas paredes, mas o cardápio diversificado e os preços honestos. Dá até para repetir o que mais lhe agrada. A ênfase do gastrobar são os frutos do mar: comece pelo menu de quatro ostras (clássica, a R$ 8, e no ponzu, ao vinagrete e frita, a R$ 9), todas para pedir bis, continue pelo coquetel de camarão VG, servido em uma taça com pimenta espelette, endro e brotos, a R$ 64, e passe, enfim, se ainda tiver vontade de comer, para o sanduíche de 120g, american cheese, geleia de cebola roxa com molho de alho, acompanhado de batata frita, a R$ 44.
O mosaico marítimo tem como estrelas os drinques do bartender Rod Werner, feitos em parceria com Aisengart. A sugestão é experimentar o Solzinho, o Poejo é Poema e Refresco ou o Saudade da Bahia, com uma criatividade de mistura de ingredientes, entre eles a cachaça emulsionada com pimenta de cheiro, poejo, capim limão e louro, aguardente de banana e leite de coco clarificado. Deixo o suspense, porque, além do drink ser bonito visualmente, é muito refrescante. No subsolo, será inaugurado ainda neste mês o clube de jazz Velvet, no estilo speakeasy, uma nova onda inaugurada nos EUA que consiste em apreciar bebidas e comidas em um espaço escondido. Na programação, os shows ao vivo serão intimistas, para no máximo 22 pessoas.
Dias Bar e Mar: rua Dias Ferreira, 410, Leblon. Instagram / @diasdebaremar
Bocca del Capo
A uma quadra do Clan BBQ, os sócios Erik Nako, Cristiano Lanna, Luiz Petit e André Korenblum fazem a festa dos comensais com três restaurantes: o português Tasca Miúda, o japonês Pabu Izakaya e o italiano Bocca Del Capo, isso só para citar as casas do Leblon. Nako, por sinal, é um rosto conhecido dos clientes depois que participou do quadro "Entrevista com o Especialista", do programa "Lady Night", da apresentadora e comediante Tatá Werneck. O Bocca Del Capo realiza o "Bocca na Porchetta" uma vez por mês — o próximo é no dia 29/1 —, com cardápio feito com o porco desossado, enrolado e assado.
Tem porco em diferentes versões: no sanduíche, na croquete, na salada, no panini, na massa, na buratta, em porção etc. As receitas são de Erik Nako e Cristiano Lanna. "A porchetta é comida de rua italiana, a novidade está na receita", explica Nako. De acordo com o chef, o porco é uma iguaria versátil, pode ser servido com cerveja, drinque e vinho branco ácido ou vinho tinto encorpado", ensina. Em sua terceira edição, o festival oferece um menu com seis itens, entre eles a "pernilzinha" (R$ 24), o panini clássico (R$ 29) e a puttanesca di porchetta (R$ 58). Para acompanhar, Nako indica o negroni — são nove versões do coquetel que mistura gim e vermute, a partir de módicos R$ 29.
Bocca Del Capo: rua Rainha Guilhermina, 95, Leblon. Instagram / @boccadelcapobar
Tasca Miúda
Para fechar nosso roteiro no Leblon, o descontraído Tasca Miúda reproduz o ambiente familiar das tascas (tabernas) portuguesas, que oferecem comida autêntica e em generosas porções."O botequim carioca é uma tasca, porque tem o espírito de taberna, comida do dia-a-dia", define o chef Luiz Petit, que adapta os sabores tradicionais brasileiros ao paladar do carioca. Quase todos os pratos do cardápio, conta ele, são releituras, como o arroz de pato, por exemplo. "A gente muda alguns ingredientes,'deturpa' a receita sem perder sua essência".
Estão no cardápio os pratos preparados com bacalhau — à Brás (R$ 85) e à Gomes Sá (R$ 82), punhetas (R$ 38), pataniscas (R$ 36), carpaccio (R$ 43) e bolinhos (R$ 38) —, o arroz caldoso de polvo (R$ 73), a almofadinha de queijo (R$ 32), a dobrada à moda do Porto (R$ 26, três unidades) e a alheira (embutidos que misturam carnes temperadas e pão) ao murro com ovo estrelado (R$36). Na sobremesa, nossa sugestão não são os pastéis de nata (R$ 26 a dupla), mas o quindim dengoso (R$ 33), com coco, ovos moles e canela. Todas as sextas-feiras têm uma novidade no menu. "A pegada é provocar para as pessoas experimentarem coisas novas", afirma Petit. O ambiente da Tasca Miúda remete às tavernas portuguesas, com azulejos, móveis coloniais, balcão, parreirais no texto e vitrine de conservas como homenagem à Adega Pérola, um dos mais tradicionais bares cariocas.
Tasca Miúda: rua Humberto de Campos, 827, loja B, Leblon.
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