Tenho acompanhado uma paciente que está vivendo um momento delicado em seu relacionamento. Ela tem 36 anos, é uma mulher linda, inteligente, sensível. Mas diz que não sente mais nenhum desejo pelo parceiro. “Tami, eu até queria sentir vontade... mas o meu corpo simplesmente não responde.”
Essa desconexão não aconteceu de repente. Há alguns anos, ele a traiu. Desde então, algo se quebrou por dentro. Ela diz que perdoou, mas que nunca conseguiu esquecer. Que até tenta se aproximar, mas sente um bloqueio. E quando ele a procura com intenção sexual, ela sente o corpo travar, o coração apertar, e só consegue pensar: “Eu não quero.”
A verdade é que, para muitas mulheres, o desejo está diretamente ligado à admiração e à segurança emocional.
Quando uma mulher perde a admiração pelo parceiro, o tesão vai junto.
Não se trata de punição, mas de proteção.
É o corpo dizendo: “Não me sinto segura aqui.”
A admiração para a mulher não está apenas no que ele faz, mas em como ele a trata. Como a escuta. Como a acolhe. Como a faz se sentir.
No caso dessa paciente, além da traição, ela começou a se sentir julgada. Ele dizia que ela estava fria, distante, que “tinha algo errado com ela”. Passou a cobrar mais sexo, mais frequência, mais entrega — sem perceber que cada cobrança aprofundava ainda mais o abismo entre eles.
E isso acontece com muitas mulheres: mesmo querendo sentir desejo, elas se percebem afastadas do próprio corpo. O toque que antes arrepiava, agora incomoda. O beijo que era convite, agora é pressão. O sexo deixa de ser encontro — vira peso.
Na Sexualidade Somática, aprendemos que o corpo feminino é como uma flor: não se abre na força.
Ele precisa de calor, leveza, tempo.
Precisa de presença, vínculo, palavras que tocam antes do toque.
Uma mulher que se sente segura, escutada e acolhida tem muito mais chances de acessar sua energia erótica com naturalidade.
Mas quando ela se sente exigida, pressionada ou emocionalmente sozinha, seu corpo se fecha — mesmo quando há amor.
E aqui vai um convite, especialmente para os homens que acompanham esta coluna:
Antes de cobrar mais sexo da sua parceira, se pergunte: ela se sente segura comigo?
Ela se sente admirada, valorizada, escutada?
Ela sente que pode ser quem ela é, com todas as emoções, sem medo de ser julgada?
A energia do desejo feminino é profunda, cíclica, sensível. Ela não nasce da obrigação, mas da conexão. E muitas vezes, o que está faltando não é fogo, é ternura.
Não é técnica, é escuta.
Não é frequência, é afeto.
Na próxima coluna, vamos falar sobre um tema que continua cercado de silêncio: dor na relação sexual.
Por que muitas mulheres sentem dor na penetração?
Quais são as causas físicas, emocionais e energéticas por trás disso?
E como podemos curar, com presença e gentileza, esse corpo que quer sentir — mas aprendeu a se defender?
Até lá, eu te deixo com uma pergunta:
O seu corpo está se sentindo seguro… ou apenas obedecendo?