Lavar roupa, cozinhar, arrumar a casa, pagar contas e ainda trabalhar fora de casa para se sustentar. A vida do contador Gabriel Gonçalves, de 23 anos, mudou bastante desde que ele passou a morar sozinho, em abril de 2021. Atualmente, ele vive em um apartamento no bairro Santa Amélia, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. A decisão veio de forma inesperada quando sua tia, com quem residia na capital mineira, resolveu se mudar para Santa Luzia, na região metropolitana.
“Eu já queria ter minha independência, mas a mudança dela acabou acelerando o processo. Ela foi para um lugar que ficava a 22 km de onde eu estava e trabalhava. Não tive outra escolha”, conta o jovem.
A mudança trouxe uma nova rotina e fez com que Gonçalves tomasse as rédeas da própria vida, o que exigiu dele, organização e planejamento. “Passei a fazer marmitas e deixar a comida pronta para mais dias pra que eu conseguisse ter capacidade de continuar fazendo outras coisas, né? Que era limpar a casa, lavar banheiro, lavar as vasilhas”, explica.
Sobre dinheiro, Gonçalves revela que sempre foi controlado, o que também o ajudou na adaptação. “Eu tinha a pensão da minha mãe, falecida, e do meu pai, além do meu salário. Mesmo assim, me assustei com a magnitude dos gastos. Mas morar sozinho me ajudou muito no crescimento pessoal. Hoje sou ainda mais organizado e tenho um controle bem melhor dos meus gastos. Além disso, sou muito mais livre para tomar decisões sobre a casa. Se quero comprar algo, apenas avalio se tenho condições, sem precisar ouvir uma segunda opinião”, afirma o rapaz, que já conseguiu comprar a casa própria.
Essa capacidade de organização e planejamento é fundamental para que o “morar sozinho” não seja um tormento para quem faz essa escolha, conforme especialistas ouvidos pelo Super Notícia. O economista Gelton Pinto Coelho, titular do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais, destaca a importância de se estruturar financeiramente: “É normal se assustar no começo, porque os gastos, que antes eram divididos, agora são só seus, mesmo que eles diminuam por ter menos pessoas dentro de casa. A organização é essencial, pois ela ajuda a projetar melhor qual a magnitude da mudança”, explica ele.
O economista ainda pontua ser necessário, quando possível, que a pessoa consiga ter uma margem de segurança financeira. “Além de avaliar a opção entre aluguel e imóvel próprio, é essencial ter uma reserva de emergência. Os imprevistos se tornam muito comuns nessa fase, porque é quando a pessoa realmente entende o custo de manter uma casa”, recomenda.
Organizar a grana e uma nova rotina
Personal organizer, Karina Carvalho orienta aqueles que pretendem morar sozinhos. Ela afirma que algumas situações são essenciais para quem toma essa decisão. “Pense primeiro na sua renda mensal, qual tipo de imóvel pode entrar nesse planejamento. Segundo, o que é mais importante numa casa? Um colchão pra dormir, geladeira, fogão, um jogo de copos, pratos e talheres. Alguns bens que são necessários para se viver”, destaca.
Segundo Karina, pensar em como vai ser a nova rotina também é importante. “A organização diária precisa ser revista, morar sozinho precisa caber no bolso e na rotina. Quais tarefas você vai assumir morando sozinho? Vai ter ajuda de alguém, vai pagar alguém para fazer? Porque muita gente tenta morar sozinho para ter paz, mas, quando não há organização do ambiente, não tem quem faça a comida ou limpe a casa, a não ser você, e isso se torna um estresse. É preciso cuidado. Se você trabalha o dia todo e faz faculdade, quem vai lavar roupa e fazer comida?”, pondera.
Imóveis pequenos são os preferidos
De acordo com o empresário e corretor de imóveis Kaiky Messias, com o aumento do número de pessoas que moram sozinhas, abriu-se um novo mercado de imóveis que atende a esse público. Ele explica que as construtoras têm planejado apartamentos menores e que, diante da procura, os imóveis têm ficado mais caros.
“O número de pessoas que moram sozinhas, seja porque separou, ou porque precisa morar perto da faculdade, aumentou muito. E elas geralmente procuram imóveis pequenos, com apenas um quarto”, afirma.
Segundo Messias, apartamentos com mais de um quarto têm se tornado mais “em conta” devido à baixa procura, uma tendência que deve continuar. “O tipo favorito é o pequeno que tem tudo. Um quarto, uma cozinha, um banheiro e a área de serviço, com localização nos grandes centros”, destaca.
Cada um quer de um jeito
Kaiky Messias, empresário e consultor de imóveis, explica que o tipo de imóvel buscado varia com a idade. “De 25 até 30, 40 anos costuma buscar imóveis pequenos, como lofts, kitnets e barracões”. Já as pessoas mais velhas querem locais mais espaçosos. “Pensam em um dia constituir família, ter filhos, por mais que comecem sozinhos. Por isso, querem imóveis maiores, com mais de um quarto”.