Os danos estruturais da casa de dois andares que desabou, neste sábado (28 de dezembro), deixando três idosas mortas no bairro Paraíso, na região Leste de Belo Horizonte, não eram novidade para a Defesa Civil da capital mineira. O órgão informou que sabia da existência de "trincas, rachaduras e infiltrações antigas", inclusive com "ferragens expostas em lajes, vigas e paredes", desde julho de 2022, quando realizou uma vistoria no imóvel. Apesar da situação, a casa não foi interditada, segundo o órgão municipal, pois não existia "risco iminente de desastre".
A informação de que os problemas foram constatados no dia 16 de julho de 2022, quase 2 anos e meio antes do desabamento, foi divulgada pela própria Defesa Civil de BH, por meio de uma nota. No texto, o órgão informa que a vistoria de risco de imóvel abrangeu "dois imóveis multifamiliares localizados no lote", na rua Isaura Possidônio.
"No imóvel frontal, com dois pavimentos, foi constatada a ausência de manutenção preventiva. Foram identificadas trincas, rachaduras e infiltrações de longa data. No pavimento superior, verificaram-se infiltrações intensas na laje, deterioração de tijolos e ferragens expostas. Durante a vistoria, a moradora informou a existência de uma antiga cisterna próxima ao imóvel, coincidindo com as áreas de maior comprometimento estrutural", escreveu a Defesa Civil.
Já no segundo imóvel existente no lote, aos fundos, os fiscais encontraram trincas, infiltrações e ferragens expostas em lajes, vigas e paredes, além de rupturas em canalizações de águas "inadequadamente direcionadas para a encosta".
Perguntada sobre a possibilidade deste imóvel ter sido interditado após a fiscalização realizada em 2022, a Defesa Civil de Belo Horizonte respondeu que "só retira as pessoas de seus imóveis em risco iminente de desastre". Questionada por O TEMPO sobre quais os critérios para definir a existência de "risco iminente de desastre", o órgão não se posicionou até a publicação desta reportagem.
Família foi orientada sobre "intervenções urgentes"
Ainda de acordo com a nota divulgada na noite deste sábado (28) pela Defesa Civil de BH, diante das "condições observadas" na casa durante a vistoria, os técnicos concluíram pela necessidade de "intervenções técnicas urgentes" para assegurar a estabilidade do imóvel e prevenir riscos iminentes de desabamento.
Com isso, foi elaborada uma notificação para orientar o responsável pelo local sobre as obrigações e responsabilidades, como providenciar um profissional técnico habilitado para mitigar os riscos e recuperar o local, "incluindo o isolamento das áreas afetadas e o monitoramento constante dos danos, garantindo a segurança dos ocupantes".
"A responsabilidade pela manutenção, estabilidade, conservação, fechamento, segurança e salubridade do imóvel, conforme artigo 8º da Lei Nº 9725, é do proprietário", concluiu a Defesa Civil do município.
O desabamento
Até o início a noite deste sábado, o Corpo de Bombeiros tinha confirmado as mortes de três idosas - de cerca de 60, 70 e 80 anos - no desabamento. Porém, ainda era verificada pelos militares a possibilidade de também estar soterrada uma quarta vítima, um sobrinho de 36 anos das mulheres mortas.
O imóvel de dois andares desabou no início da tarde. No momento do incidente, todas as nove regionais de BH estavam sob risco geológico alto, após a cidade ser atingida por mais de 100 mm de chuva em um intervalo de quatro dias.
Uma força-tarefa montada pelos bombeiros, com cerca de 31 homens, e segue em busca da possível quarta vítima. Nos trabalhos são utilizados equipamentos pesados, que possuem a capacidade de cortar pedras, além de cães farejadores.