As infecções por Covid-19 não acabaram com o fim da pandemia. Em Belo Horizonte, pelo contrário, os indicadores voltaram a crescer. A capital registrou uma alta de 72% de diagnósticos da doença no período de um ano. Até essa quarta-feira (19 de junho), por dia, foram 46 novas infecções. No mesmo período de 2023, a média era de 27 diagnósticos diários. Os números que mais assustam são de mortes: 80 belo-horizontinos perderam a vida para a Covid-19 neste ano – dado que cresceu 45%. “É inadmissível”, avalia o médico infectologista Unaí Tupinambás. A disponibilidade de vacina e medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo ele, inviabiliza perdas por Covid.

Os números são da última atualização da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). De janeiro até essa quarta-feira (19 de junho), a capital confirmou 7.885 casos de Covid-19. Neste período, há um ano atrás, eram 4.594 diagnósticos e 55 mortes – ou 25 perdas a menos. Mesmo em um cenário pós-pandemia, a alta está ligada, principalmente, à variante da Ômicron XBB.1.5, de perfil mais transmissível. “Nós tivemos um aumento de casos bastante expressivo. Dentro dos hospitais, acompanhamos a volta de quadros graves e vimos, outra vez, pacientes morrendo pela doença”, pondera o médico Adelino Melo Freire, coordenador de Controle de Infecção Hospitalar na Unimed-BH. 

Vírus mais ativo + população vulnerável = alta de casos e mortes por Covid-19

De acordo com o infectologista Freire, as infecções são resultado de uma transmissibilidade maior da doença ao mesmo tempo em que a população baixou a guarda. “A Covid circula por meio de ondas, por mudanças do próprio vírus. Então, ele ficou mais ativo nesses últimos meses. Juntou isso à mudança da sociedade que, sem a vacinação em dia, ficou mais suscetível à infecção”, explica. A imunização contra a Covid-19 acontece de forma contínua, com foco nos grupos de risco (como pessoas idosas e vivendo com comorbidades). Esse público precisa se vacinar pelo menos uma vez ao ano, podendo renovar a dose a cada seis meses. 

A campanha, inclusive, está com a nova vacina contra a variante da Ômicron XBB 1.5, que tem alavancado os registros da doença. Mas a adesão está aquém do imaginado após uma pandemia. A prefeitura informou que aguarda o Ministério da Saúde para o cálculo da cobertura vacinal na cidade, mas, segundo os especialistas, a alta das mortes por Covid-19 já indica uma falha. “Essas 80 mortes são, certamente, de pessoas que não devem ter sido vacinadas ou que estavam com o ciclo da vacina desatualizado. O Ministério da Saúde está com uma campanha de imunização, nós temos um antiviral disponível no SUS, de fácil acesso, o que faz essas mortes inaceitáveis. Não há motivo mais para morrer de Covid”, crava Tupinambás. 

Números cresceram mesmo com baixa testagem 

Um dado que torna ainda mais expressivo o aumento de casos e mortes de Covid-19 em Belo Horizonte é a baixa testagem. Neste período do ano passado, os belo-horizontinos faziam mais de 5 mil exames da doença por semana. Agora, o número não chega a mil. Isso significa que os casos, mesmo altos, podem estar subnotificados. “A testagem baixa, claro, compromete a capacidade de enxergar a real dimensão da doença na população atingida”, alerta o coordenador médico Adelino Melo Freire. 

Uma empresária da capital, de 37 anos, que preferiu não ser identificada, é uma das pessoas que, mesmo com sintomas da doença, não vai realizar o exame. “Estou sentindo os mesmos sintomas de quando peguei Covid e fui diagnosticada na época da pandemia. Dor de cabeça, coriza, garganta arranhando, e estou sem paladar. Não testei porque ainda penso que pode ser gripe. E escutei que a Covid-19 atual é como uma gripe, então, nem me preocupo”, conta. 

A percepção da profissional não é diferente da maioria das pessoas que apresentam quadros leves da doença. A decisão em não testar, no entanto, atrapalha o enfrentamento da Covid-19, conforme o médico Freire. “Isso é um dos problemas no enfrentamento da Covid. As pessoas estão menos preocupadas, elas têm um quadro viral e não investigam, não se afastam do convívio social, e o vírus circula. As formas de prevenção são amplamente conhecidas, mas não se tornaram, infelizmente, parte da nossa cultura”, avalia. 

Vacine-se 

  • Estão elegíveis para se vacinar as crianças que têm entre 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias.

  • Aqueles que pertencem aos grupos prioritários devem tomar 1 dose do novo imunizante ao ano, independentemente do número de aplicações contra a Covid-19 já tomadas anteriormente.

  • As pessoas com mais de 60 anos, imunocomprometidas e gestantes/puérperas, receberão uma dose a cada seis meses.

  • Todos os públicos prioritários devem receber o imunizante com, pelo menos, 3 meses desde a última dose administrada.

Para se vacinar, as pessoas devem apresentar documento de identificação com foto, certidão de nascimento, CPF e cartão de vacina. Veja aqui os locais de vacinação. 

Saiba mais sobre o medicamento contra a Covid-19 disponível no SUS 

A PBH oferece o medicamento Nirmatrelvir/Ritonavir (Paxlovid (R)), remédio para o tratamento contra a covid-19 fabricado pela empresa Pfizer e aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na Rede SUS-BH, a oferta é gratuita, conforme a prescrição médica.

A medicação deve ser utilizada somente por adultos acima de 65 anos ou pessoas maiores de 18 anos imunossuprimidas. O remédio é indicado para o tratamento da covid de pessoas que não requerem oxigênio suplementar (quadros leves a moderados) e que apresentam risco aumentado de progressão para covid grave.

Como retirar o medicamento no SUS? 

  • De segunda à sexta-feira:

    o paciente ou o responsável que estiver com a prescrição médica (receita) indicando o tratamento com o Paxlovid, pode solicitar o medicamento em um dos 152 Centros de Saúde da capital.

  • Nos finais de semana e feriados:

    os pacientes atendidos nas UPAs de Belo Horizonte poderão retirar a medicação na própria UPA de atendimento. Para pacientes residentes de BH com prescrição de outras unidades, privadas ou do SUS-BH, a medicação poderá ser retirada na UPA Oeste, de 8h às 17h. Para pacientes residentes em outros municípios, a dispensação do medicamento ocorrerá na UPA Oeste, somente quando as prescrições forem geradas nas unidades assistenciais do SUS/BH.