Após deixar o risco máximo de emergência, a barragem Forquilha III deve ter o processo de eliminação iniciado em 2026. A estrutura, da mineradora Vale, está localizada na mina de Fábrica, em Ouro Preto, região Central de Minas Gerais. O prazo é apresentado pelo vice-presidente executivo técnico da Vale, Rafael Bittar, que também falou sobre os investimentos na descaracterização de barragens a montante — o mesmo modelo das estruturas que romperam em Brumadinho e Mariana

Com a mudança na classificação da Forquilha III, em 18 de agosto, a Vale não tem mais nenhuma estrutura no nível 3, conforme classificação de emergência da Agência Nacional de Mineração (ANM). O terceiro é o mais severo dos níveis e indica risco iminente de rompimento. A Forquilha III atualmente está no nível 2, que ainda requer cuidados, como a evacuação da área de autossalvamento, realizada em 2019.

A eliminação completa da Forquilha III está prevista para 2035. Conforme Bittar, o prazo considera critérios de segurança e não pode ser acelerado de forma incompatível. “A redução de nível de emergência de Forquilha III reflete diretamente os avanços em investigações geotécnicas, a melhoria na instrumentação da estrutura e a realização de estudos aprofundados que permitiram adquirir dados mais precisos”, esclarece.

A Forquilha III é uma das 13 estruturas a montante que ainda vão ser descaracterizadas. Desde 2019, das 30 estruturas previstas, 17 (14 em Minas Gerais e três no Pará) foram eliminadas. Segundo Bittar, já foram investidos R$ 12 bilhões. “O andamento das obras e a situação de segurança das estruturas são reportados diretamente ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e à ANM”, afirmou.

Ainda conforme Bittar, a barragem Forquilha III é monitorada integralmente pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG) da empresa em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e não recebe rejeitos. Além disso, a empresa construiu uma Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) para conter o rejeito, caso houvesse um rompimento da estrutura. “É um grande muro de concreto, com objetivo de proteger vidas e o meio ambiente”, disse.

Entrevista – Rafael Bittar, vice-presidente executivo técnico da Vale

Como uma barragem que já esteve em risco iminente de ruptura pode ser considerada hoje mais estável?

Os investimentos na segurança das barragens são um compromisso prioritário para a Vale. Diante disso, a empresa tem investido significativamente em tecnologias, pesquisas e análises. A redução de nível de emergência de Forquilha III reflete diretamente os avanços em investigações geotécnicas, a melhoria na instrumentação da estrutura e a realização de estudos aprofundados que permitiram adquirir dados mais precisos e obter um maior conhecimento sobre a atual estabilidade da barragem.

O avanço na descaracterização ou obras de reforço também são ações que permitem a redução de nível de emergência – como foi o caso da barragem B3/B4, que em maio de 2024 teve sua descaracterização concluída, após ter estado em nível 3 de emergência.

O momento de agora é muito importante porque conseguimos cumprir o objetivo de não termos mais nenhuma estrutura em nível 3 de emergência, reforçando nosso compromisso com a segurança das pessoas e do meio ambiente.

E, neste mesmo momento, cumprimos um outro compromisso relevante, além disso, foi implantado o Padrão da Indústria para Gestão de Rejeitos (GISTM, na sigla em inglês) em todas as barragens de rejeitos, dentro do prazo estabelecido. O GISTM é o primeiro padrão global do setor mineral e um marco mundial para a segurança de barragens de mineração. Para atendê-lo, é necessário cumprir 77 requisitos relacionados à gestão de estruturas de armazenamento de rejeitos em todo o seu ciclo de vida.

Quais foram os critérios técnicos usados para justificar a reclassificação da barragem?

A redução de nível é resultado de um trabalho técnico rigoroso, com várias camadas de verificação internas e externas, o que traz mais segurança e confiança ao processo. Os novos fatores de segurança foram obtidos a partir de sondagens geotécnicas, ensaios de campo e laboratório, instalação de novos instrumentos de monitoramento e desenvolvimento de modelos de análise mais completos.
No caso de Forquilha III, foram utilizados equipamentos operados remotamente e sistemas sofisticados de modelagem. Como consequência, foi possível reclassificar a barragem do nível 3 para o nível 2 de emergência. Essa mudança seguiu os critérios da Agência Nacional de Mineração (ANM), conforme Resolução nº 95/2022.

Sabendo que a barragem foi construída pelo método a montante — hoje proibido — quais medidas concretas de correção ou reforço foram adotadas?

Desde 2019, a barragem é monitorada 24 horas por dia pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG) da Vale em Nova Lima e não recebe rejeitos. Foi construída uma Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), um grande muro de concreto capaz de reter rejeitos em caso de rompimento, com o objetivo de proteger vidas e o meio ambiente.

As atividades preparatórias para a descaracterização são realizadas com equipamentos operados remotamente, fora da área de risco, acompanhadas por auditorias independentes e órgãos competentes.

Qual é o cronograma exato das obras preparatórias e da descaracterização?

As obras de descaracterização de Forquilha III estão previstas para começar em 2026 e terminar até dezembro de 2035. O prazo considera critérios de segurança e não pode ser acelerado de forma incompatível. Forquilha III é uma das 13 estruturas a montante que ainda serão descaracterizadas. Desde 2019, das 30 previstas, 17 já foram eliminadas (14 em Minas Gerais e 3 no Pará), equivalendo a 57% do total. Mais de R$ 12 bilhões já foram investidos no programa. O andamento das obras e a situação das estruturas são reportados ao MPMG e à ANM.

A Zona de Autossalvamento (ZAS) está evacuada desde 2019. Há previsão de retorno da comunidade?

Mesmo com a redução para nível 2, a legislação exige que a ZAS permaneça evacuada. Atualmente, seguem os trabalhos preparatórios para a descaracterização, cuja obra deve começar no próximo ano. Paralelamente, avançam as ações de reparação e fortalecimento dos serviços públicos, por meio de acordo firmado em novembro passado com os municípios de Itabirito, Ouro Preto, Rio Acima e Nova Lima. As medidas incluem transferência de renda, requalificação do turismo e cultura, segurança, fortalecimento do serviço público e atendimento às demandas comunitárias.

Em caso de rompimento, o impacto poderia atingir o Rio das Velhas. Que planos existem para proteger esses pontos?

A Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), localizada a cerca de 10 km da barragem, tem a função de conter todo o rejeito em um evento extremo, evitando a propagação ao longo do vale e protegendo pessoas e o meio ambiente.

Que tipo de monitoramento é feito diariamente? Há auditoria independente?

O monitoramento é contínuo, 24h por dia, com uso de radares, sensores remotos, câmeras e outros instrumentos. Além disso:
Engenheiros de Registro (EoR), profissionais independentes, acompanham os dados e emitem relatórios e declarações de estabilidade.
Há um comitê técnico independente (Independent Tailings Review Board – ITRB), composto por especialistas internacionais, que emite recomendações técnicas.
A fiscalização é feita por órgãos reguladores federais e estaduais.
Semestralmente, uma empresa externa emite Relatório de Inspeção de Segurança Regular e Declaração de Condição de Estabilidade (DCE). Também são realizadas Revisões Periódicas de Segurança de Barragens, acompanhadas de DCE, por outra empresa independente.
Esse sistema de governança e supervisão multicamadas — interno e externo — contribui para a mitigação dos riscos relacionados às barragens.