Trinta dias bastaram para que o número de infectados pelo coronavírus em Ipatinga, no Vale do Aço, aumentasse em cerca de dezessete vezes. Há um mês, em 6 de maio, a cidade somava 23 moradores diagnosticados com a Covid-19, número que chegou próximo de 400 nesta manhã de sábado (6), segundo dados coletados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Não bastasse o crescimento dos casos a níveis preocupantes, a cidade soma oito óbitos em decorrência da doença até o momento – número oito vezes maior que o existente há oito dias, na sexta-feira que encerrou o mês de maio.

A quantidade de novos diagnósticos bateu recorde nessa sexta-feira (5), quando 40 moradores de Ipatinga testaram positivo para a Covid-19 – maior número em 24 horas desde o aparecimento do primeiro caso na cidade no mês de março. Referência médica no Vale do Aço, Ipatinga trata além de seus próprios moradores infectados, também aqueles que partem de municípios próximos.

O número de infectados somado à busca por leitos por residentes em outras cidades cria um quadro alarmante no município que, neste sábado, não possui sequer um leito de UTI público disponível para doentes com a Covid-19. Em 29 de maio, a ocupação dos leitos de UTI do SUS já tinha alcançado a margem dos 100%, e segundo o prefeito Nardyello Rocha (Cidadania) não havia possibilidade de montar o hospital de campanha com novos leitos desse tipo, uma vez que os equipamentos necessários – como o respirador – estão escassos no mercado.

“O que nos preocupa neste momento é o número de leitos de UTI. Estamos tomando todas as providências cabíveis. Lembrando que, se necessário for, até compraremos leitos de convênios para atender a população do Vale do Aço”, declarou à época. Uma semana depois, nessa sexta-feira (5), o município publicou uma nota esclarecendo que todos os 30 leitos de UTI oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estão ocupados, sendo que metade deles presta atendimento a moradores de outras oito cidades próximas a Ipatinga, estando Coronel Fabriciano e Governador Valadares entre elas. 

A situação é tão preocupante que a cidade pretende inaugurar na segunda-feira (8) os leitos de enfermaria do hospital de campanha de Ipatinga. Inicialmente, 40 leitos clínicos estarão disponíveis àqueles que precisarem, mas a capacidade da unidade de saúde improvisada pode chegar a 200. Eles são destinados a pacientes com coronavírus cujo quadro clínico é estável. 

Atualmente, os hospitais públicos Municipal Eliane Martins e Márcio Cunha dispõem de 95 leitos de UTI e enfermaria para tratar pacientes confirmados para coronavírus ou com suspeita de contágio. “Por se tratar de uma cidade-polo, Ipatinga possui uma pactuação em saúde com outros 13 municípios da região do Vale do Aço. Em tese, isso significa que além dos moradores da cidade, o total defeitos Covid-19 SUS disponíveis, sejam eles de UTI ou enfermaria, também abrigam pacientes não residentes, provenientes de municípios que compõem a microrregião de saúde”, declarou a prefeitura através de nota.

Atualmente, 11 dos 30 leitos de UTI do SUS em Ipatinga estão ocupados por moradores das cidades de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Timóteo, Mesquita, Belo Oriente, Pingo D’Água, Governador Valadares e Ladainha. Ainda por meio do documento, a cidade pontuou que o Hospital Márcio Cunha também oferece 28 leitos de UTI e enfermaria destinados a pacientes com plano de saúde.

“O problema é que, havendo colapso na ocupação, nem mesmo o benefício do plano de saúde garante atendimento”, esclareceu o município reforçando a fala do prefeito sobre o uso de leitos particulares.

Recorde de casos

Ipatinga é responsável pelo segundo caso de Covid-19 em Minas Gerais desde o começo da pandemia. Em 12 de março, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) confirmou o aparecimento do caso na cidade – a paciente era uma mulher de 38 anos que retornara recentemente de uma viagem a Israel. Cerca de três meses depois, são cerca de 400 infectados na cidade segundo balanço estadual, entretanto relatório do próprio município publicado na sexta-feira (5) aponta que são 410 confirmados, enquanto outros 2.559 permanecem sob suspeita.

O número de confirmações é principalmente alarmante se comparado com o existente na quinta-feira (4), em apenas 24 horas a cidade registrou novos 40 casos – um recorde no município. Os bairros Bethânia e Canaã, segundo a prefeitura, são os que concentram o maior número de diagnosticados até o momento. Além deles, outros bairros também apresentam incidência alta de moradores que testaram positivo, são eles: Iguaçu, Cidade Nobre, Bom Jardim e Vila Celeste.