A escritora Camila Panizzi Luz foi acusada de racismo e gordofobia após comentários polêmicos feitos durante o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços 2025).
A primeira situação ocorreu durante uma palestra que realizava com sua mãe, Ivana Panizzi, na mesa "Raízes e Asas: Literatura e Artes Sem Fronteiras - O Encontro de Mãe e Filha na Terra Natal". Em determinado momento, Camila chamou o escritor e editor Wesley Barbosa, que, além de divulgar a própria obra, também participa do evento com sua editora, a Barraco Editorial, no estande do Coletivo Neomarginal.
Ao subir no palco, Barbosa começou a se apresentar, mas teve a fala interrompida por uma pergunta de Camila: "Como que faz para ser neomarginal? Eu quero ser uma neomarginal gente, olha que tudo. Camila Luz, neomarginal, nunca fui presa".
O escritor expressou sua indignação com o episódio em seu perfil nas redes sociais. "Também nunca fui preso", escreveu Wesley Barbosa na legenda do vídeo com a fala polêmica de Camila.
Assista:
Em entrevista ao O TEMPO, Wesley declarou ter se sentido violentado pela fala de Camila: "Eu acho que a Flipoços é um evento literário importante aqui para Minas e para o Brasil. E vieram vários escritores, pessoas dos livros, do mercado editorial. E eu, como sendo uma pessoa do mercado editorial, achei terrível o que ela [Camila] falou, a postura dela, porque ela me chamou dizendo que ia me dar voz. Eu não preciso que alguém me dê voz, eu já tenho voz, eu já tenho uma caminhada literária de dez anos, tenho um certo reconhecimento entre outros escritores, reconhecimento entre os leitores. E quando eu me pronunciei na frente, lá no palco, e ela disse que para ser uma neomarginal ela tinha que ser presa, eu me senti extremamente violentado por essas palavras".
O escritor falou ainda sobre a postura da escritora ao "tirar sarro" da vaquinha virtual que ele promove para custear uma viagem para a França, onde ela vai publicar o livro 'Viela Ensanguentada', recentemente lançado traduzido e lançado no país europeu.
"Eu acho que a Camila, ela talvez não tenha muita consciência social. Aquilo que ela fez, me parece que está entrenhado nela, que ela nem percebeu. Isso é um racismo estrutural.
Eu sou um escritor independente, eu vendo livros de mão em mão.
Agora o meu livro, Viela Ensanguentada, já foi lançado na França, está nas livrarias e vou para lá fazer uma publi E antes disso acontecer, muito antes, eu já estava fazendo a vaquinha, porque ao contrário dela eu não sou rico, sou filho de uma faixineira", declarou Barbosa.
A equipe da Flipoços publicou uma nota de apoio a Wesley Barbosa nas redes sociais: "O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes, especialmente aquelas que historicamente foram silenciadas".
O comunicado anuncia ainda a retirada de Camila Luz e de seus livros do evento: "Diante disso, o Flipoços decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do Festival".
Em entrevista ao jornalista Marcos Zibordi, a escritora se desculpou pelo ocorrido: "Não imaginei que pudesse gerar desconforto, e por isso, peço desculpas a quem se sentiu ofendido. Sempre procuro amplificar vozes que nem sempre têm espaço, e continuo aprendendo com cada experiência".
O TEMPO deixa o espaço aberto para que Camila Luz se manifeste sobre o assunto.
Leia a nota na íntegra:
Discussão com livreiro
Após a palestra, Camila Luz também esteve no centro de outra polêmica na Flipoços 2025. A escritora discutiu com um livreiro, que afirmou ter sido ofendido por seu peso e a acusou de fazer referência ao tamanho do seu órgão genital.
"Ela acha que pode mandar prender, soltar, porque o pai é embaixador", disse o livreiro, que não quis se identificar, ao jornalista Marcos Zibordi. De acordo com informações do Ministério das Relações Exteriores, o pai da escritora, Francisco Carlos Soares Luz, comanda a diplomacia brasileira na Bolívia.
Ao colunista, Camila confirmou a discussão com o livreiro, que ela afirma ter sido agressivo: "Foi, sem dúvida, um dos momentos mais difíceis que vivi recentemente. Reconheço que reagi de forma impulsiva, e isso é algo que venho tentando trabalhar".