Quatro em cada dez brasileiros afirmam estar insatisfeitos com sua vida sexual e amorosa. É isso o que mostra o levantamento “Love Life Satisfaction”, desenvolvido pelo Instituto Ipsos, no final de 2022. A pesquisa, feita online, ouviu 22 mil pessoas, em 32 países, e concluiu que o nível de satisfação do brasileiro (60%) está um pouco abaixo da média mundial, de 63%. Mas, afinal, o que tem acontecido para que quase metade dos brasileiros não se sinta satisfeita?
No campo sexual, uma das principais reclamações envolve a falta de comunicação, conforme aponta o terapeuta tântrico e educador sexual psicossomático Fèrnando Ravi. Segundo o profissional, grande parte das pessoas que o procuram pontua que há uma dificuldade no diálogo com suas parcerias. “Isso gera uma série de consequências que podem se refletir em insatisfação no relacionamento ou até na forma de alguma consequência fisiológica, impedindo que a pessoa sinta prazer”, explica. Ele acrescenta que a falta de habilidade para se comunicar também pode fazer com que as pessoas enfrentem dificuldades para impor limites e expressar os próprios sentimentos.
A comunicação é considerada tão importante que outra pesquisa, esta desenvolvida pelo aplicativo de relacionamentos Happn, no ano passado, apontou que a esmagadora maioria dos brasileiros crê que o diálogo é essencial para um bom sexo. Segundo o levantamento, 95% das pessoas afirmaram que a comunicação direta e clara sobre desejos, preferências e limites é a chave para “aprimorar a intimidade e nutrir a satisfação nas relações”.
É, inclusive, graças à qualidade do diálogo com o parceiro que a cuidadora Geisy Natana, 31, afirma não sentir falta de nada na cama. “Tudo é comunicação. O parceiro tem que conhecer a parceira e a parceira tem que conhecê-lo. Tem que saber onde cada um gosta de ser tocado, usar brinquedinhos que apimentam a relação também e mudar um pouco, sair daquela rotina. Acho que isso ajuda bastante”, diz ela.
Se para a cuidadora, porém, há conversa de sobra, nos consultórios a falta do diálogo antes e durante o sexo acaba sendo uma reclamação constante. “As pessoas sentem muita falta de palavras carinhosas, de falar ‘eu te amo’, de ouvir safadezas”, conta a sexóloga Enylda Motta. O foco em relações genitalizadas também é algo que incomoda, por isso é comum que a especialista escute sobre a necessidade que as pessoas sentem de explorar outras partes do corpo que não sejam pênis, vagina ou seios. As preliminares também fazem falta.
Autoconhecimento
Outra questão que também causa desafios na vida sexual das pessoas é o pouco conhecimento, principalmente sobre o próprio corpo. “É algo que fica muito nítido em casais heterossexuais, porque o homem começa a ter contato com a intimidade desde a puberdade. O sentir prazer é muito mais aceito e natural para ele. Já com a mulher, todas as vezes em que ela passa a mão perto do próprio genital, ela recebe repressão. Ela cresce com esse pensamento internalizado, e exige-se um esforço muito grande para romper com essa crença limitante”, afirma Fèrnando Ravi.
Mais uma queixa comum entre as mulheres é a dificuldade de chegar ao orgasmo – algo que também pode estar ligado ao autoconhecimento. “Isso acaba fazendo com que a mulher se feche num ciclo de não sentir prazer e também tira do homem a possibilidade de se frustrar”, pontua. “Ainda existe um peso cultural que coloca o sexo como obrigação conjugal, e isso passa por muitas questões, como o medo de ser trocada, de ficar sozinha, medo do divórcio”, observa Ravi.
A dificuldade para atingir o orgasmo é um dos problemas que também aparecem no Estudo Mosaico 2.0, desenvolvido em 2016 e conduzido pela psiquiatra Carmita Abdo, referência em pesquisas sobre sexualidade no Brasil. Além desse, as mulheres também apontam a falta de desejo sexual e a dor durante o ato como obstáculos enfrentados na hora do sexo. Entre os homens, as reclamações mais comuns envolvem a dificuldade de controlar a ejaculação e de manter a ereção e o baixo desejo sexual.
Além da busca de ajuda profissional – principalmente para problemas que envolvem questões fisiológicas –, conversar com o parceiro ou parceira é uma recomendação dos especialistas. “A principal dica é tirar um tempo para conversar sobre os problemas, mesmo que seja agendado, como um date. É importante dialogar, expressar e vivenciar tudo que desejam no sexo”, aponta Enylda.
Fèrnando reforça o coro, ponderando que é válido que os dois procurem ajuda e que o casal não deixe que a responsabilidade de resolver o que está incômodo no relacionamento recaia apenas sobre uma das partes. “Todos os que estão envolvidos naquela relação são responsáveis por ela”, afirma o profissional.