Dançarina e influenciadora, Lore Improta se tornou alvo de críticas nas redes sociais após compartilhar, no início do mês, um vídeo em que pede ajuda à babá da filha enquanto a funcionária almoçava, em um restaurante que a família estava. A cena foi filmada pela própria dançarina, que é casada com o cantor Léo Santana, e foi condenada por internautas, que apontaram a terceirização dos cuidados com as crianças – críticas também direcionadas a outros famosos, como Virgínia Fonseca, Gabi Brandt e Bárbara Evans. Fica a pergunta: até que ponto é aceitável delegar certas responsabilidades e qual é o impacto emocional nos filhos e nos próprios pais?
Os pais podem contar com creches, babás, avós ou outros membros da rede de apoio para cuidar das crianças, mas essa decisão envolve uma complexa teia de sentimentos e preocupações. Para muitas famílias, a opção de terceirizar os cuidados pode vir acompanhada de conflitos internos. Existe a necessidade de conciliar trabalho e vida pessoal, mas também o receio de que essa escolha afete o vínculo com os filhos. Mães que optam pela terceirização frequentemente relatam preocupações sobre a qualidade do cuidado que seus filhos receberão. É o caso da auxiliar administrativo Aline Guterres, 23, que, com o retorno ao trabalho presencial após licença-maternidade, buscou uma babá para cuidar da filha, hoje com 1 ano e 5 meses.
Ela revela que, no início, se sentiu culpada, mas com o tempo foi se adaptando à nova situação e passou a ver a cuidadora como uma parceira. “As crianças sempre vão dar sinais se estão sendo bem cuidadas ou não”, disse Aline, sobre a preocupação com o bem-estar da filha. Ela conta que a relação com a filha em nada mudou, pois segue participando ativamente da educação da menina.
O mais importante é a percepção dos pais de que existem parceiros que auxiliam na educação, mas não são responsáveis tanto quanto eles, especialmente no que diz respeito à educação socioemocional, que envolve a descoberta de emoções, sentimentos e a construção de valores”, afirma a pedagoga e especialista socioemocional Renata Fialho, ressaltando a importância dos pais e o papel de referências deles nas aprendizagens, na construção ética e no desenvolvimento das crianças.
A especialista frisa que a escola tem suas particularidades na formação de crianças e adolescentes, especialmente em habilidades acadêmicas e sociais. Já a rede de apoio, como babás e cuidadoras, atua como aliada da família, complementando a educação, mas sem substituir o papel dos pais.
A pedagoga observa que cada família, ao escolher qual “modelo de terceirização” seguir, é influenciada por suas necessidades práticas, ou seja, pelas condições de trabalho, pela disponibilidade financeira e pelas estruturas sociais vigentes.
A escolha de vários pais de encaminhar seus filhos para escolas em período integral, de acordo com a profissional, se dá pela segurança: “As escolas de período integral desempenham um papel crucial nesse cenário, oferecendo um ambiente seguro e educativo para as crianças, aliviando os pais da preocupação constante com o cuidado e a supervisão dos filhos durante o horário de trabalho”.
Comunicação e vínculo
Segundo Renata Fialho, quando os pais precisam da ajuda de terceiros, devem ter uma comunicação eficaz e assertiva sobre o que acontece com o filho. “É crucial que os pais mantenham um papel ativo e presente, estabelecendo uma comunicação clara e consistente com todos os envolvidos no cuidado e na educação dos filhos. Isso garante que, mesmo com o apoio de outros adultos, os pais permaneçam como referência principal, mantendo a autoridade e fortalecendo os vínculos afetivos”, pontua.
A especialista também explica que é essencial que os pais compreendam a importância de adaptar suas abordagens educativas às necessidades de cada criança e adolescente, entendendo que a realidade na qual cresceram não é a mesma dos filhos. “Isso inclui estar aberto a conhecer os próprios filhos por meio de novas práticas, métodos e conhecimentos que podem enriquecer sua formação socioemocional e ética, ajudando-os a se tornarem indivíduos completos e felizes, como desejam”, afirma Renata.
Maternidade e paternidade devem ter o mesmo peso na criação
Quando o assunto é maternidade, a criação e a educação dos filhos são umas das responsabilidades centrais que recaem sobre a mulher, muitas vezes com cobranças e julgamentos relacionados à atuação da mãe no mercado de trabalho e também nas tarefas domésticas, principalmente nas redes sociais.
Por isso, a pedagoga e especialista socioemocional Renata Fialho defende que é fundamental promover uma mudança de paradigmas em relação à mulher e à maternidade, colocando a paternidade com o mesmo peso nesse processo. “A estrutura familiar e a educação não são as mesmas do século passado, nem mesmo como eram ontem. O mundo muda o tempo todo, e o modo de viver das pessoas também”, afirma a pedagoga.
A especialista ainda orienta que os pais sejam cautelosos em relação à exposição dos filhos na internet ao abordarem criação, educação e terceirização dos cuidados.
“Com a evolução constante da sociedade, é vital que os pais se adaptem e estejam atentos às influências externas, especialmente das redes sociais. A exposição deve ser medida e pensada, visando sempre ao bem-estar e à segurança dos filhos. Afinal, a educação vai além dos muros da escola e das telas dos dispositivos; ela acontece principalmente no cotidiano, por meio do exemplo e da convivência familiar”, explica Renata.
*Sob supervisão de Renato Lombardi