Neste domingo, 26 de julho, comemora-se o Dia dos Avós. A efémeride, vale dizer, é celebrada no Brasil e em Portugal. Mas, neste ano, como fica a data em tempos de pandemia, quando aos avós que já passaram da faixa dos 60 anos é aconselhado manter distância física de seus netos, para a segurança de ambas as partes. "A pandemia, que nos exige o afastamento, tira dos mais velhos a parceria e a alegria dessa relação com os mais jovens", diz a neuropsicóloga e psicanalista Leninha Wagner, que, a pedido de O TEMPO, escreveu um artigo sobre o tema.
 
Confira, a seguir, a íntegra: "A família, desde sempre, forma um sistema social único, estruturado nos valores culturais da sociedade em que se insere. Sua organização implica o estabelecimento de laços de intensa convivência emocional, além de unidade de cooperação econômica e consumo coletivo. Nesse sentido, a família é um organismo que seleciona e qualifica as experiências do indivíduo, dando-lhe condições para vivência individual e social, por intermédio de noções fundamentais como procriação, cuidado com a saúde, criação e aperfeiçoamento de pautas sociais e culturais. É através da educação que transmitimos conhecimentos de pais para filhos. Permeados por possibilidades psicológicas, determinantes culturais e ideológicos.
 
Hoje vivemos mais, a longevidade é uma realidade. Nossos "super idosos", estão aí a nos fazer enxergar que a vida pode ser longa e saudável. Nesse cenário, nasce as relações intergeracionais, onde aas trocas são solidárias e de construção para os jovens bem como de segunda chance para os idosos. Que tentam através do amor, do carinho e do cuidado, ensinar com a paciência e sabedoria que outrora não lhes foi possível oferecer aos próprios filhos, por serem estes naquela época simplesmente jovens demais, talvez com pouco tempo, pouca experiência e pouca sabedoria.
 
Alguns pais, hoje na condição de avós, têm um imenso prazer na companhia dos netos e estes na deles. É uma troca permanente, onde os mais velhos ensinam a constância, a segurança, o poder do amparo e da escuta de qualidade. E os avós ganham a oportunidade de ter "Filhos com Açúcar". Uma relação mais doce, sem o compromisso de ter que "disciplinar". Porém, há descompasso nesse novo arranjo familiar. A pandemia, que nos exige o afastamento, tira dos mais velhos a parceria e a alegria dessa relação com os mais jovens.
 
Para que possamos proteger a saúde física de nossos avós, precisamos manter seus netos distantes. Ocasionando uma saudade, nas duas forças dessa relação. De um lado netos exigindo a visita dos avós e do outro avós desolados pelo distanciamento dessas crianças. Os netos trazem aos avós sentimento de pertencimento, de importância, e as crianças por sua vez sentem-se seguras e amadas no seio familiar, onde tudo começou - a casa dos avós. Como resolver esta inequação gerada por um destino inimaginável.
 
Usando a criatividade, a versatilidade e a intimidade com a tecnologia que os jovens possuem, aliados a disciplina e vontade que os mais experientes possuem. Portanto chamadas de vídeo estão cada vez mais presentes nas casas separadas aproximando os moradores que se encontram distantes. Visitas ao longe, valorizando um olhar e um beijo "jogado" ao ar, ou abraços através de roupas especiais (material plástico e descartável), ou barreiras sanitárias (vidros e afins), para uma troca de energia e sintonia, com quem se ama. Tudo isso, são artifícios bem vindos, na guerra contra o vírus e na luta a favor da vida e das relações saudáveis.
 
Manter a conexão de parcerias familiares, de trocas intergeracionais tão positivas e produtivas, para manter a saúde do corpo e promover o bem estar psicológico. Que tenhamos a competência, a resistência, a resiliência para atravessa esse momento com a sabedoria herdada na família, onde o maior antídoto para todo mal é o "Amor".