Bastou uma foto de Adele com ombros à mostra no Instagram, em outubro, para os aficionados por dieta voltarem a atenção à cantora britânica. Tabloides do Reino Unido logo se apressaram em especular o que haveria por trás da aparente perda de 19 quilos da artista nos últimos seis meses. O segredo da diva pop, que anda sumida dos palcos, estaria na dieta sirt, ou dieta das sirtuínas.

Criada em 2016 por dois nutricionistas ingleses, ela ganhou fama por estar no menu de celebridades como Pippa Middleton, irmã caçula da duquesa Kate, e incluir vinho tinto e chocolate amargo no dia a dia. O emagrecimento ficaria por conta dos alimentos ricos em polifenóis, substâncias que ativam as enzimas sirtuínas no organismo. Presentes em sete tipos no corpo humano, elas têm ação antioxidante e anti-inflamatória. Evidências científicas apontam o papel das sirtuínas na prevenção do envelhecimento precoce e doenças degenerativas, mas faltam estudos robustos com humanos.

Ainda assim, adeptos garantem que a dieta sirt leva à redução rápida de peso. A consultora de nutrição Catherine Vanazzi afirma que as mulheres que atende costumam perder cerca de 3,5 kg em uma semana, enquanto homens perdem até 6 kg. Isso com pratos como peixe com alcaparras e cebola cozida no vinho tinto (ricos em polifenóis). O chocolate amargo alegra o lanche da tarde: “A gente estimula por causa do cacau. O vinho é legal usar para cozinhar. O emagrecimento é um conjunto de coisas, mas outras dietas não permitem os dois, então eles trazem uma alegria”, diz. 

Se parece mágico emagrecer com chocolate, a ciência explica que não é bem assim, como destaca Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. “O embasamento da dieta partiu de pesquisas com ratos, que tiveram resultado interessante de redução de peso corporal. Muita gente começou a seguir, mas o X da questão é que essa é uma alimentação com baixa quantidade de calorias. E toda dieta hipocalórica faz perder peso”. Concentrada em três semanas, ela preconiza uma ingestão de 1.000 a 1.500 calorias por dia (o recomendado para alguém fora de dieta são 2.000). 

“Isso não leva em consideração peso, idade ou sexo, o que me deixa receosa”, diz Elisabeth Chiari, diretora do Conselho Nacional de Nutrição. Ela desconfia de dietas que estabelecem determinado número de calorias para qualquer pessoa, mas elogia a inclusão de alimentos como nozes, verduras de folhas escuras (couve, por exemplo) e sucos verdes na rotina proposta pela sirt. Ribas Filho concorda: “É uma dieta interessante. Dentre outras, como do Sol ou da Lua, é muito melhor”, brinca. Se o propósito é emagrecer depressa para um evento, pode surtir efeito: “Se a pessoa mantém um estilo de vida saudável e precisa de perda de peso mais rápida, tudo bem”, pontua o nutrólogo Guilherme Mattos – com a recomendação de praxe: procurar um profissional da saúde é obrigatório.

Modismos são perigo para a nutrição 

Taxada de “gordinha” na escola, a blogueira Giselle Vieira, 25, segue dietas da moda desde a pré-adolescência: “Eu consumia revistas de adolescente e até para mulheres adultas e lia muito sobre dietas e como emagrecer. Tinham uma forma bem midiática e fantasiosa de falar de perder peso em uma semana, um mês, e eu sempre tentava. Às vezes, fazia escondida (dos pais)”.

Na idade adulta, o fascínio continuou. Só neste ano, ela já seguiu dicas da atriz Bruna Marquezine (que bebe água com limão e gengibre), da cantora Beyoncé (que embarcou em uma dieta vegana) e, agora, aposta na dieta low carb por orientação de uma fisiculturista, que atua como sua coach de nutrição. 

O nutrólogo Guilherme Mattos alerta: “Da mesma forma que temos fake news, temos informações sobre dietas que são jogadas sem fundamento nenhum. Se você leu sobre uma coisa diferente e se interessou, agende uma consulta e converse com um profissional”. Um estudo publicado em 2017 na Revista da Associação Brasileira de Nutrição avaliou 24 cardápios de dietas da moda em publicações populares. Os regimes prometiam perda de 4 a 5 kg em 15 dias, mas a pesquisa concluiu que a maioria ignorava nutrientes essenciais. 

“Não há dieta ou atividade física mágica, medicamento mágico ou cirurgia bariátrica mágica”, reforça Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. Entre as prudentes, ele destaca a dieta mediterrânea (rica em frutas, cereais e sem alimentos processados) e a Dash (concebida para controlar a hipertensão).