É frustrante ter uma imagem mental clara de algo, mas não conseguir traduzi-la exatamente em palavras ou em um desenho. Agora, uma equipe de neurocientistas da Universidade de Toronto Scarborough, no Canadá, desenvolveu uma maneira de recriar a imagem em que alguém está pensando por meio da digitalização de seu cérebro.

O novo dispositivo foi projetado para ver se imagens específicas poderiam ser “tiradas” da mente de uma pessoa. Para testar a ideia, os pesquisadores introduziram uma série de fotografias de rostos em sua rede neural, ensinando-o a reconhecer características e padrões. O próximo passo, então, foi ensiná-lo a associar essas informações com padrões de atividade cerebral gravadas nos eletroencefalogramas, enquanto pessoas observavam os rostos que a máquina tinha aprendido.

Em seguida, a equipe conectou pessoas ao equipamento de eletroencefalografia (EEG), mostrando-lhes fotos de rostos na tela do computador. Os eletrodos registraram suas ondas cerebrais e, depois de executar os dados por meio de algoritmos de aprendizado de máquina, o sistema conseguiu recriar digitalmente a face que o participante tinha acabado de ver.

As aplicações de leitura cerebral geralmente envolvem um dos dois métodos: EEG ou ressonância magnética funcional. O primeiro mede a atividade elétrica no cérebro usando uma tampa cheia de eletrodos, enquanto a ressonância utiliza um campo magnético para monitorar o fluxo sanguíneo em diferentes partes do cérebro. Ambos têm suas vantagens e desvantagens, mas a eletroencefalografia é mais usada, menos cara e pode registrar mudanças mais rapidamente.

Funcionamento. Segundo os autores do experimento, a ressonância captura a atividade na escala de tempo de segundos, mas a eletroencefalografia captura a atividade na escala de milissegundos. Essa alta precisão de tempo permitiu que a equipe determinasse que só leva cerca de 170 milésimos de segundo para o cérebro humano criar uma imagem mental decente de um rosto para o qual está olhando.

No futuro, a equipe quer expandir a técnica para poder recriar objetos diferentes dos rostos para fazer isso por longos períodos de tempo. Além disso, eles querem descobrir se os dados de EEG e a reconstrução de imagem podem ser feitos acessando a memória e se o algoritmo pode reconhecer itens que não sejam rostos, como a comunicação com pessoas que não podem se comunicar verbalmente, por exemplo, entre outras aplicações.

Aplicação

Crime. Outro uso para o dispositivo seria para a coleta de informações de testemunhas oculares sobre possíveis suspeitos de crimes no lugar do método utilizado atualmente.

 

Complexidade do cérebro e tecnologia

De acordo com o neurologista Mário Camacho, o cérebro é um sistema capaz de organizar a informação que recebe em um modelo multidimensional e multifuncional, tirado do mundo exterior, e usá-lo para chegar a decisões inteligentes. “A função cerebral completa é um conjunto integrado e complexo. Ela só pode ser fragmentada com fins didáticos e descritivos, pois é a única maneira de se entender seu mecanismo, que vai progressivamente do simples ao complexo, levando, em cada um de seus estágios, todo o senso de unificação que conclua em um comportamento inteligente”, diz.

Quanto à utilização da inteligência artificial, ele afirma que, se uma visão ou compreensão de como o ser humano pensa é adquirida, isso ajudaria as pessoas a pensar melhor. “Se descobrimos mais sobre como as pessoas leem, compreendem e acreditam, haverá processo de melhorias”, diz.

Flash

Avanço. “A função cerebral completa é um conjunto integrado. Ela só pode ser fragmentada com fins didáticos e descritivos, pois é a única maneira de se entender seu mecanismo, que vai progressivamente do simples ao complexo”, diz Mário Camacho.