Sexualidade

Entenda como dividir as tarefas domésticas pode melhorar a vida sexual de casais

Estudo norte-americano aponta que casais que compartilham as tarefas de casa e cuidados com os filhos são mais felizes e transam mais; especialistas avaliam a importância de um equilíbrio entre as responsabilidades do casal


Publicado em 27 de outubro de 2023 | 05:00
 
 
 
normal

No início de março, um vídeo que circulou pela internet causou polêmica e revolta nas redes sociais. Na publicação, à época feita pela coach Ingrid Santiago, a divisão de tarefas domésticas entre casais heterossexuais era criticada. Conforme Ingrid, afazeres como lavar a louça ou limpar a casa não deveriam ser feitos pelos homens, já que isso tiraria a “energia masculina” deles. A justificativa dela ia além, dizendo que a responsabilidade por essas tarefas culminaria com a “castração do homem”.

Embora a fala de Ingrid possa ser uma crença compartilhada, ainda, por muitas pessoas, a ciência rebate essa afirmação. Uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos, por exemplo, diz o exato contrário. Segundo o estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual da Geórgia, casais que dividem as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos são mais felizes e têm uma vida sexual melhor.

De acordo com a pesquisa - que entrevistou mais de 487 casais heterossexuais com até 45 anos e, pelo menos, um filho - parceiros que compartilham a responsabilidade pelos cuidados com a casa e com as crianças transam, em média, 6,78 vezes por mês. A frequência cai para 6,23 quando apenas a mulher assume esses afazeres.

De acordo com a psicóloga Leni de Oliveira, o compartilhamento dessas responsabilidades tem vários impactos positivos na vida dos casais. “No aspecto emocional, dividir as tarefas em um mundo machista, pode significar para a mulher o interesse de seu parceiro com ela”, observa. Para os homens, assumir certos afazeres pode ajudar na valorização do que é feito por suas companheiras já que, desta forma, eles poderão compreender como funciona cada atividade e irão se sentir mais gratos quando receberem determinados cuidados. “A parceira também pode interpretar seu valor, sua importância e se sentir amada”, acrescenta. 

Existem ainda impactos de caráter prático. “Dividir as tarefas diminui a sobrecarga, aumenta a cumplicidade e a intimidade do casal. As relações de cuidados precisam ser trocadas para ter uma paridade na relação. Se os dois estão empenhados na manutenção da vida, o sexo passa a fazer parte disso também. Seria como um aprendizado: os dois vão se empenhar para conseguirem melhorar a relação. Trabalhar melhor em equipe”, explica Leni.

A sexóloga Enylda Motta reforça o coro, pontuando que, quando há uma rotina de divisão já organizada entre os casais, é mais difícil que haja cobranças ou mágoas, o que reflete diretamente na qualidade do sexo. Ela pondera ainda que, para que haja um compartilhamento dos afazeres, é preciso que exista uma comunicação efetiva entre os parceiros. “É muito importante que o casal converse a respeito, que defina as regras e o que é responsabilidade de cada um. E, no momento que um dos dois não puder fazer, vale conversar. Desta forma, a rotina funciona e isso também diz respeito ao sexo”, afirma.

Enylda reitera que a comunicação é a chave para tudo, inclusive, para a divisão das tarefas domésticas. “A partir do momento que existe essa conversa, uma escolha do que cada um vai ficar responsável, as coisas ficam mais fáceis”, afirma. “A comunicação é a base do relacionamento. Com ela, eu vou ter amor, cumplicidade, lealdade e vontade de ficar com a outra pessoa. Se não tem diálogo, como o outro vai saber que a casa está me sobrecarregando?”, questiona.

Mulheres ainda ficam com a maior parte do trabalho doméstico

A população feminina é responsável por assumir a maioria dos trabalhos domésticos no Brasil. Segundo dados do IBGE, em 2022, mulheres, a partir dos 14 anos, dedicam semanalmente quase 10 horas a mais que os homens para as tarefas da casa e o cuidado com outras pessoas. Os dados  são da pesquisa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2022 e apontam que a população feminina gasta, em média, 21,3 horas por semana com trabalhos domésticos, enquanto os homens se ocupam apenas por  11,7 horas semanais.

Segundo Leni de Oliveira essa sobrecarga de tarefas tem sido responsável por um adoecimento profundo das mulheres. “Na medida que a vida vai se modernizando, os  afazeres vão aumentando ao invés de diminuir. Existem eletrodomésticos e tecnologias que passam uma falsa impressão de liberdade: alguém sempre vai ter que alimentar a máquina de lavar. Aí multiplicam-se as cobranças e a sensação de que não se pode parar nunca. Além das demandas da própria vida e do trabalho”, pontua.

Ela pontua ainda que esse acúmulo de funções não deixa de impactar negativamente na vida sexual. “Nesse cenário voltado para a sobrevivência, não sobra energia para o sexo. E quando sobra é para ‘cumprir tabela’, rapidinho. A mulher demanda mais tempo e energia para entrar no clima, com essa sobrecarga o interesse tende a diminuir”, observa.

Em casos em que ainda existe esse desequilíbrio entre as responsabilidades, a orientação é optar pela comunicação não violenta. “Ela diz que devemos falar da gente e não do outro. Então, nesse tipo de comunicação, vou dizer como estou me sentindo. Preciso verbalizar isso. Se a pia está toda suja, preciso dizer o que isso me causa. A partir do momento em que não culpo a outra pessoa pelas coisas estarem daquela forma e falo dos meus sentimentos, a situação começa a melhorar”, aconselha. Ela explica que uma reclamação mais direta, provoca ainda mais raiva e pode até mesmo afastar o casal.

É importante, também, que os homens se atentem a alguns sinais, mesmo que eles ainda tenham dificuldade com isso. “A mulher pode começar a ficar de cara fechada, mais isolada, triste. O marido vai ter que perceber que alguma coisa está errada e conversar com ela, perguntar se ela está chateada, se aconteceu alguma coisa”, diz. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!