Saúde

Há 45 nascia o primeiro bebê de proveta; saiba o que mudou na medicina

Nascimento da inglesa Louise Brown, em 25 de julho de 1978, representou um marco para a reprodução assistida no mundo


Publicado em 25 de julho de 2023 | 07:00
 
 
 
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Há exatos 45 anos, o mundo acompanhava aquilo que seria um dos maiores avanços na medicina reprodutiva: o nascimento do primeiro “bebê de proveta”. Chamada de Louise Brown, a criança nasceu em Bristol, na Inglaterra, em 25 de julho de 1978. No Brasil, o procedimento - chamado de fertilização in vitro - teve seu primeiro resultado positivo seis anos depois, em 7 de outubro de 1984, com o nascimento de Ana Paula Bettencourt Caldeira, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná. 

Segundo a médica Luciana Calazans, ginecologista e especialista em reprodução assistida da Huntington Pró-Criar, o nascimento de Louise foi um verdadeiro divisor de águas na medicina, já que representou o sucesso de um método que permitia que a ciência superasse as limitações da concepção natural, oferecendo uma alternativa viável e real para casais que possuem alguma dificuldade para engravidar. 

O nascimento da bebê - e os posteriores - também foram importantes para incentivar novas pesquisas e, consequentemente, o aprimoramento nas técnicas de tratamento. Não por acaso, os procedimentos de reprodução assistida - aqueles que incluem processos reprodutivos ajudados pela medicina e que envolvam a manipulação “in vitro” de óvulos, espermatozóides e embriões com o propósito de estabelecer uma gravidez - são cada vez mais comuns. 

Mas, embora os novos tratamentos sejam bem mais simples, o início da fertilização in vitro, conhecida também pela sigla FIV, envolvia técnicas mais complexas e invasivas. As taxas de sucesso também eram menores que as atuais, que variam entre 1,9% para pacientes com mais de 44 anos e 32,2% para mulheres com menos de 35 anos de idade, de acordo com levantamento do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), do Reino Unido. 

“Para termos uma ideia de como as coisas mudaram, antigamente todas as injeções e medicamentos eram aplicados por via intramuscular, com agulhas grandes, mais grossas e dolorosas. Hoje, a gente utiliza medicamentos orais com injeções subcutâneas que são bem superficiais, com agulhas pequenininhas. A própria paciente pode aplicar”, explica a ginecologista. 

Ela conta, ainda, que a coleta de óvulos também é menos complexa. “Antigamente era feita por laparoscopia, então era preciso internar em um hospital, receber anestesia geral, porque o médico precisava ‘entrar’ no abdômen da paciente para poder captar óvulos. Hoje isso é feito com uma sedação, uma anestesia simples e rápida”, diz. “O procedimento, agora, é todo feito por via vaginal. Há também uma padronização da fertilização in vitro, que, antes, era feita de formas diferentes por cada laboratório. Hoje também temos mais normas de segurança e os resultados melhoraram muito”, acrescenta. 

Com procedimentos menos incômodos, complicados e taxas mais satisfatórias de sucesso, não é surpresa que o número de pessoas que buscam por métodos de reprodução assistida seja maior. Segundo dados da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE), a estimativa é de que mais de meio milhão de crianças nasçam através de fertilização in vitro (FIV) a cada ano no mundo. No Brasil, entre 2020 e 2021, pelo menos 36 mil gestações  foram conquistadas graças a técnicas de reprodução assistida, conforme dados do 14ª Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio). 

Reprodução assistida pode ser indicada em diferentes casos

Como explica a ginecologista Luciana Calazans, a medicina reprodutiva é uma especialidade que lida com a infertilidade, portanto, os tratamentos e intervenções costumam ser indicados para pessoas que estão com dificuldade para engravidar. “Nesses casos, recomendamos que seja feita uma primeira avaliação para casais que tentaram por um ano e não tiveram sucesso, para aqueles em que a mulher tem mais de 35 anos ou se o homem já tem outros fatores conhecidos que possam dificultar a reprodução”, afirma a médica. 

Conforme Calazans, todo o processo de análise começa de forma individual para que os médicos possam saber o que tem causado a dificuldade na gravidez e, a partir disso, seja indicado o melhor tratamento. “Podemos começar com intervenções simples, que vão desde o coito programado em casos como a síndrome dos ovários policísticos, em que a mulher não ovula todo mês, por exemplo, ou outras condições que geram alterações e que podem ser beneficiadas através da indução da ovulação ou com a relação sexual no período fértil”, exemplifica. 

Outros cenários também podem necessitar de ajuda médica. “Em alguns casos, também pensamos na inseminação intrauterina, em que a gente prepara o sêmen e coloca dentro do útero. Há também situações que demandam um tratamento mais complexo e é nessas que indicamos a fertilização in vitro, que é quando a  união do óvulo com o espermatozóide acontece no laboratório e o embrião é transferido para o útero da mulher”, explica. 

O congelamento de óvulos ainda é mais um procedimento incluído na medicina reprodutiva. Este tipo de tratamento é indicado para quem deseja ou precisa adiar a gestação. “Também pensamos em tratamentos para pessoas solteiras que querem ter filhos e para casais homoafetivos. Então, não é preciso que exista uma alteração como a infertilidade para que a medicina reprodutiva possa atuar”. 

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