Comprovação

Mais da metade dos suplementos usados para emagrecer é ineficaz

Avaliação foi feita pelos institutos de saúde norte-americanos e considerou 240 estudos


Publicado em 25 de agosto de 2019 | 06:00
 
 
 
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No Brasil, 53% das pessoas estão acima do peso, e 19,8% chegam à obesidade, segundo o Ministério da Saúde. Quem quer ou precisa emagrecer e pensa em recorrer aos suplementos alimentares pode se decepcionar.

É que um levantamento atualizado neste ano pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) norte-americanos mostra que 13 entre as 24 (58,3%) substâncias mais comuns nesses produtos têm mínimo ou nenhum efeito sobre o emagrecimento.

Foram avaliados 240 estudos. A conclusão é que suplementos à base de cafeína, por exemplo, famosos pelo efeito de acelerar o metabolismo, até podem levar a uma “possível redução modesta de peso”, mas é o máximo que atinge, já que não é consenso científico que qualquer uma das substâncias seja eficiente. Seis substâncias enquadram-se nessa categoria – o que representa 25%.

No caso da cafeína, uma pesquisa maior que acompanhou quase 60 mil pessoas por 12 anos concluiu que quem aumentou o seu consumo evitou ganhar menos de 1 kg em relação aos demais.

Mesmo anunciadas como emagrecedoras em lojas virtuais, outras opções não surtem efeito algum na perda de peso. É o caso da vitamina D, cuja deficiência é associada à obesidade.

Cientificamente, no entanto, não há evidências de que o maior consumo dela atue no sentido contrário. A goma guar também não teria efeito direto no emagrecimento, ainda que ajude na sensação de saciedade.

Os estudos permanecem inconclusivos sobre quatro substâncias (16,6%): a fucoxantina, os probióticos, a cetona de framboesa e outro termogênico, a laranja-amarga. Em lojas online, elas são associadas a potentes propriedades emagrecedoras.

“Quando se colocam em uma balança os potenciais benefícios e riscos dos suplementos, percebe-se que os ganhos são pequenos e questionáveis. Então, não se poderia sair divulgando que são seguros ou eficazes no combate à obesidade”, diz o endocrinologista Fulvio Thomazelli, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

 

Termogênicos

O médico reforça que não há consenso acadêmico sobre a eficácia de substâncias termogênicas como a cafeína, o chá verde e a laranja- amarga. Elas são vendidas com a promessa de acelerar o metabolismo e, assim, ajudar no emagrecimento. Isso aconteceria porque agem sobre receptores adrenérgicos, que sinalizam às células que devem queimar mais energia.

“O que acontece no corpo é uma interação de inúmeras células e fatores hormonais. A célula não é um mecanismo isolado, então essa ativação metabólica não funciona igual em um organismo vivo”, diz.

A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) também não recomenda o uso de suplementos para perder peso. “Nossa primeira recomendação é procurar um endocrinologista para fazer um plano de emagrecimento”, diz o presidente Mário Carra. 

O faturamento da indústria de suplementos no Brasil chegou a R$ 1,96 bilhão em 2018, informa a Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri).

Segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), 54% dos brasileiros consomem algum tipo de suplemento – não necessariamente os que dizem ajudar a emagrecer.

Só duas sem efeitos adversos conhecidos

Com dificuldade de controlar o peso desde a infância, a empreendedora Marcela Louise, 34, usou suplemento à base de cafeína por três meses, sem emagrecer. O que a afastou do produto de vez foram os efeitos colaterais: “Você fica acelerado, parece que tem palpitação, sua muito, como se fosse um mal-estar, uma pane do corpo”, lembra.

O levantamento dos Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos lista ansiedade, nervosismo, ânsia de vômito e taquicardia como possíveis reações à substância. Somente a cetona de framboesa e a fucoxantina não têm efeitos colaterais conhecidos – mas seus efeitos emagrecedores são inconclusivos.

As reações de outras variam entre mais leves, como flatulência, a mais potencialmente perigosos, como aumento da pressão cardíaca (provocado por chá verde, hoodia e laranja- amarga). O levantamento alerta que, na prática, as substâncias são vendidas misturadas a outras, que podem não ter sido estudadas da mesma forma. 

Essa também é uma preocupação do endocrinologista Fulvio Thomazelli. “Quem toma não tem total certeza de tudo o que está ali dentro”, diz.

A nutricionista esportiva Daniela Melo, que trata pacientes com obesidade, diz que o mais adequado é receitar as substâncias puras – ela vende suplementos e receita óleo de cártamo, precursor do ácido linoleico conjugado, considerado minimamente eficaz.

Acompanhamento

A engenheira de produção Mariana Guerra, 25, toma três suplementos para emagrecer: óleo de cártamo, cafeína e ômega 3 (que não está na lista). Desde que começou o tratamento, perdeu quase 4 kg. Mas ela não está certa de que os suplementos sejam o único motivo, já que os combina com reeducação alimentar e academia, além de acompanhamento com nutricionista. “Sei que não há receita mágica”, diz.

Daniela lembra: “Mesmo se o produto tiver feito comprovado, a pessoa tem que gastar mais energia do que consome no dia para emagrecer. Alguns suplementos auxiliam, mas não são substitutos de alimentação e atividade física”.

Consumo

Cerca de 15% dos adultos norte-americanos já utilizaram um suplemento alimentar para emagrecer (21% das mulheres e 10% dos homens), segundo o levantamento. É um mercado que movimenta US$ 2,1 bilhões anualmente

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