Nesta semana, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) iniciaram uma investida nos testes de um remédio contra a Covid-19. A droga, remdesivir, também é testada por dois estudos na China. Um deles, em Wuhan, epicentro da epidemia. “Hoje, só há uma droga que pensamos realmente ter eficácia, e é o remdesivir”, chegou a afirmar Bruce Aylward, um dos especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

A droga é considerada promissora porque já foi utilizada contra a epidemia de Ebola e teve resultados positivos em experimentos com animais no tratamento de Mers e Sars, outras doenças respiratórias causadas por coronavírus. Ainda assim, o tratamento é considerado experimental. Não existem medicamentos direcionados especificamente ao novo vírus.

 

O estudo norte-americano prevê reunir 400 voluntários. Vão ser pacientes comprovadamente infectados, e metade deles vai receber o medicamento, de forma intravenosa, enquanto a outra vai ganhar placebo. Se o remédio surtir efeitos positivos, o grupo do placebo poderá passar a tomá-lo.

O primeiro paciente confirmado é um norte-americano repatriado após a quarentena no navio japonês Diamond Princess, que ficou estacionado devido à contaminação de passageiros. Além disso, resultados dos testes em Wuhan estão previstos para abril, e o Gilead Sciences, laboratório que produz a substância, anunciou que, em março, novos testes vão começar em outros dois países afetados.

Brasil

Há dedo brasileiro no estudo que vai ser conduzido na Universidade de Nebraska (EUA). O infectologista André Kalil, formado em medicina pela Universidade Federal de Pelotas (RS), é um dos cientistas à frente do ensaio. “É incrível o quão rápido os preparativos ocorreram. É um marco que isso tenha sido executado tão rápido”, declarou ao portal “The Verge”.

A ideia é que apenas pacientes em casos mais graves recebam o medicamento, enquanto a maioria das ocorrências é considerada leve, explicou. Caso a agência dos EUA aprove o remédio após os testes, o caminho estará aberto para trazer a droga a pacientes no Brasil. Segundo a Anvisa, devido a parcerias com os EUA a droga não necessariamente precisaria repetir todos os testes em território nacional.

Ciência age rápido

A ciência está pisando fundo no acelerador para entender melhor o coronavírus. Um levantamento da agência Reuters mostra que, desde o surgimento do vírus, o número de pesquisas sobre ele já é mais que o dobro da quantidade de estudos a respeito da Sars – outra epidemia que abalou o mundo em 2003 – que foram realizados durante um ano. 

De acordo com a análise, até a última semana foram feitos pelo menos 153 estudos a respeito do coronavírus, partindo de 675 pesquisadores ao redor do mundo. Isso não significa, contudo, que todos apontem para a direção correta. Cerca de 60% deles são avaliações publicadas sem passar por outros cientistas antes (sem “revisão por pares”, no jargão acadêmico).

A revista “Science Magazine” chama o movimento de pesquisadores debruçados sobre o coronavírus de uma “cultura de pesquisa completamente nova”. 
Conclusões preliminares têm sido compartilhadas em fóruns de ciência que nem existiam há uma década e são dissecadas no Twitter de cientistas. Enquanto isso, destaca a revista, publicações científicas trabalham dobrado para agilizar a divulgação de estudos.

Um marco para essa movimentação inédita foi o compartilhamento da sequência genética do vírus, tornada pública por chineses ainda em janeiro.