O governo da Venezuela voltou a acusar o Brasil de ter participação em um ataque a uma base militar no sul do país, ocorrido no domingo, no qual foram roubadas armas, incluindo equipamentos para derrubar aeronaves.

Em uma entrevista coletiva, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, apontou o traficante de ouro Toñito Fernandez como mentor do ataque, e disse que os militares desertores que participaram da ação ficaram hospedados por 15 dias em um hotel em Pacaraima, em Roraima.

“O governo do Brasil tem que explicar porque um criminoso, traficante de ouro e assassino, que esteve por trás de ações contra o comando da Venezuela, este senhor, Antonio “Toñito” Fernández, foi quem manteve os desertores e criminosos em Pacaraima durante 15 dias, quem lhes deu dinheiro e quem lhes prometeu dar uma quantidade de dinheiro depois que eles atacassem a base militar”, questionou Rodríguez. “O governo do Brasil não tem nada a ver com isso? Então que prenda e nos entregue Toñito”, disse o ministro.

Ontem, o Itamaraty negou que o Brasil tenha tido qualquer participação neste episódio.

Rodríguez disse também que o ataque ao quartel tinha como objetivo roubar armas, incluindo lança-foguetes, para forjar um ataque venezuelano contra um avião ou helicóptero da Colômbia. “O objetivo era montar um ‘falso positivo’ para que o governo dos EUA pudesse então intervir militarmente na Venezuela”, acusou.

No domingo, Rodríguez havia publicado em uma rede social que os autores do ataque ao quartel “foram treinados em acampamentos paramilitares plenamente identificados na Colômbia, e receberam a colaboração ardilosa do governo de Jair Bolsonaro”. As mensagens foram compartilhadas também pelo perfil do ditador Nicolás Maduro.

Ainda segundo o ministério, os invasores levaram um lote de armas e um caminhão da base do batalhão 513 de infantaria de selva Mariano Montilla, que fica em Gran Sabana, Estado de Bolívar, fronteira com o Brasil. De lá, atacaram duas delegacias policiais, onde roubaram mais armas. Na cidade de Luepa, houve confrontos envolvendo civis e militares, e um soldado morreu.

Após o ataque, várias unidades militares e policiais perseguiram os invasores e conseguiram recuperar as armas. De acordo com o portal digital El Pitazo, os assaltantes, apoiados por um grupo de indígenas, levaram mais de cem fuzis.

 

Para Caracas, Colômbia patrocinou ação

O governo venezuelano também acusou o presidente colombiano Iván Duque de patrocinar o ataque ao batalhão no sul do país, com o objetivo, segundo ele, de desencadear um incidente que justificasse uma intervenção militar dos Estados Unidos. 

Jorge Rodríguez, ministro da Comunicação, disse que o ataque de domingo no Estado de Bolívar (sul, na fronteira com o Brasil) foi perpetrado por um “grupo de desertores (das Forças Armadas da Venezuela) protegidos, financiados e cobertos pela logística do governo de Iván Duque”. 

Rodriguez também apontou o plano do deputado da oposição Gilber Caro, cuja prisão a oposição denunciou na sexta-feira passada. É a terceira vez que Caro é preso.

Segundo o governo de Nicolás Maduro, os desertores foram treinados na cidade colombiana de Cali (sudoeste) e de lá viajaram por estrada para o Equador – cujas autoridades Caracas pediu explicações –, para o Peru e finalmente para a cidade brasileira de Pacaraima, onde receberam “instruções e planejamento”.