A área de escape do Anel Rodovário entrou em operação nesta semana. Prevista para ser entregue, inicialmente, até o final do primeiro semestre deste ano, a intervenção que amplia a pista e conta com uma "piscina de concreto" foi construída no km 541, sentido Vitória (ES), entre a rodovia BR-040 e o trevo do Betânia, próximo ao acesso ao bairro Buritis. A estrutura foi instalada com objetivo de evitar acidentes em um trecho conhecido como perigoso e com registro de grandes ocorrências, inclusive com vítimas. No entanto, para quem usa a rodovia diariamente, como os caminhoneiros e demais motoristas, a escolha do local não foi a correta.
"O lugar onde ela foi construída está muito acima. Quando o caminhão chega até aquela rampa, as lonas estão frias. Só quando passam por lá é que elas começam a esquentar", relata o caminhoneiro e presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Minas Gerais (Sinditac-MG), Antônio Vander Silva Reis. Para ele, o local não é o ideal e pelo menos outras duas áreas de escape precisam ser feitas no trecho. Reis acredita que a segurança seria maior se outras intervenções fossem feitas, sendo uma delas no trevo do viaduto do bairro Betânia, na região Oeste da capital.
Esse também é o questionamento do motorista José Alves Pereira, de 65 anos. Ele, que costuma passar com frequência pelo trecho, acredita que o local escolhido não é o mais inseguro da rodovia. "Poderia ser mais embaixo (próximo ao viaduto do Betânia)", disse. O argumento também é reforçado pelo supervisor da rede de postos do Anel Rodoviário, Alexandre Freitas. Para ele, que trabalha diariamente na rodovia e já presenciou alguns acidentes, o melhor local para a obra seria próximo ao viaduto do Betânia. "A descida aqui é muito ingríme. Se der algum problema mais embaixo, não vai ter pra onde correr", alerta.
O projeto foi desenvolvido pela BHTrans e a execução ficou a cargo da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). As obras tiveram início em outubro de 2021. O investimento cotado foi de R$ 3,5 milhões. A área de escape que foi entregue conta com cerca de 100 metros de comprimento e várias camadas de brita. A estrutura foi desenvolvida com o objetivo de reduzir a velocidade dos veículos que trafegam na via e funciona como um dispositivo de segurança. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, responsável pela obra, a estrutura física já foi concluída, "restando alguns detalhes para entregar nesta segunda ou terça-feira". Procurada pela reportagem, a Prefeitura não respondeu aos questionamentos e disse que irá se pronunciar em coletiva nesta terça-feira.
Para a especialista em trânsito Roberta Reis, essa é uma medida eficiente, considerando que todas as intervenções relacionadas a engenharia de tráfego, como áreas de escape, são benéficas, uma vez que contribuem para que as vias fiquem mais seguras. "Em casos, por exemplo, onde ocorram a falta de freio ou problemas mecânicos, o motorista tem condições de levar o veículo para essa área, que é uma pista ao lado, com piso diferente , que é justamente para reduzir a velocidade do veículo e evitar as catastrófes que a gente conhece no Anel Rodoviário", explica.
Além da estrutrura física, as obras incluíram melhorias na drenagem e também na construção de uma travessia subterrânea no Anel Rodoviário. O projeto conta com a criação de estrutura para descida d'água em degraus, o que permite melhorar o direcionamento das águas pluviais. Além da Prefeitura de Belo Horizonte, responsável pela execução e custos da obra, estiveram envolvidos a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a Via 040, concessionária que administra o trecho, em atividades de fiscalização, autorizações e aprovações.
A especialista em trânsito Roberta Reis espera que outras intervenções possam ser feita nas rodovia. "O anel rodoviário passa pela cidade e tem um fluxo de veículos de grande porte muito grande, ele precisa ser olhado com carinho e cuidado pela gestão pública", comenta. Para Reis, além das áreas de escape, é importante a instalação de defensas metálicas e também de ranhuras na lateral da via. " Um ponto importante, que é uma premissa básica da segurança no trânsito, é que as vias precisam ser seguras porque o ser humano erra. E esse erro não deveria resultar em morte. Ou seja, as vias precisam ser seguras a ponto de reduzir a probabilidade da morte e também a gravidades das lesões", conclui.
Acidentes no Anel Rodoviário
A reportagem do O TEMPO mostrou que de janeiro a 8 de junho deste ano foram registrados 277 acidentes na rodovia. A média é de uma ocorrência por dia. Somente nos últimos dois meses, ao menos 12 acidentes foram registrados, com 13 mortes. Relembre alguns destes acidentes:
8 de junho: Um acidente deixou dois mortos na altura do bairro Betânia, sentido Rio de Janeiro. Um carro e uma moto se colidiram, com a queda dos dois ocupantes do veículo menor. Um caminhão que vinha logo atrás arrastou o condutor da moto e passou por cima da pessoa que estava na garupa. Os dois morreram.
10 de junho: Duas pessoas morreram e outras seis ficaram feridas em acidente envolvendo oito veículos no Anel Rodoviário, na descida do bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte. O acidente, ocorrido por volta das 19h15, chegou a causar 5km de congestionamento no sentido Vitória (ES).
16 de junho: Dois acidentes seguidos. Primeiro, um Honda Civic bateu em um cavalo na marginal do Anel Rodoviário, sentido Rio de Janeiro, na altura do bairro Dom Bosco. O animal morreu no local. O veículo capotou e foi parar no canteiro central da avenida, no bairro Caiçaras, na região Noroeste de BH. O segundo acidente ocorreu depois que a Polícia Militar Rodoviária fechou a pista e um caminhão com carga pesada bateu em dois carros e em outro caminhão na manobra de desvio causando o engavetamento de cinco veículos.
21 de junho: Acidente envolvendo uma carreta e um micro-ônibus na altura do bairro Betânia, na região Oeste de BH, deixou um ferido e uma interdição parcial dos dois sentidos da via, que durou por pelo menos 3h e causou até 9 km de congestionamento.
25 de junho: Um jovem de 22 anos perdeu o controle do carro em uma curva, bateu contra um poste e morreu no KM 465 do Anel Rodoviário, na altura do bairro São Francisco.
27 de junho: Um homem, que não teve a idade divulgada, morreu após ser atropelado no Anel Rodoviário, em Belo Horizonte. O acidente foi no sentido Vitória, por volta das 19h10, embaixo do viaduto com a avenida Antônio Carlos Luz.
13 de julho: Uma carreta tombou em cima de dez casas, às margens do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, deixando um rastro de destruição e, pelo menos, três pessoas feridas socorridas ao hospital, sendo duas crianças.
18 de junho: Dois acidentes no mesmo dia. Um carro capotou no Anel Rodoviário, na altura da Vila da Luz, na região Nordeste de Belo Horizonte. Mais tarde, um homem de 20 anos ficou preso às ferragens do carro que dirigia durante um acidente no Anel Rodoviário, na BR-381, no sentido Vitória (ES). Ele perdeu o controle do veículo, que bateu em um poste e, em seguida, capotou. A colisão ocorreu após o viaduto São Francisco. Segundo o Corpo de Bombeiros, o motorista era o único ocupante do automóvel.
20 de julho: Foi registrada uma batida envolvendo três veículos no sentido Rio de Janeiro. Não houve mortes.
22 de julho: Dois idosos ficaram feridos após um acidente no Anel Rodoviário, sentido Vitória, altura do bairro Goiânia, na região Nordeste de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar (PM), uma testemunha relatou que um caminhão colidiu contra a traseira de uma Fiat Strada, por volta das 13h, na altura do km 458. Após o acidente, o condutor do veículo menor perdeu o controle da direção e bateu em um Volkswagen Saveiro.
23 de julho: Seis pessoas ficaram feridas em um acidente entre dois carros no Anel Rodoviário, na altura do bairro Caiçara, na região Noroeste de Belo Horizonte. O acidente foi na manhã deste sábado (23). A batida ocorreu no sentido Vitória logo após a avenida Pedro II. De acordo com o Corpo de Bombeiros, todos os envolvidos no acidente já estavam fora dos veículos e dois deles pediram atendimento médico. Eles foram socorridos para o Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova. Um deles estava com suspeita de fratura no polegar e na mão esquerda.