Com asas de anjo, o pequeno Emanuel, de 4 anos, que morreu vítima de maus-tratos em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi retratado pela mãe em um desenho feito na cadeia. Kátia Cristina, de 30 anos, está presa desde o dia 6 de fevereiro, sob-suspeita da morte do menino, mas, desde que outros dois de seus filhos, de 6 e 9 anos, foram resgatados trancados e desnutridos em um apartamento no bairro Lagoinha, na capital mineira, ela denuncia ter sido escravizada e mantida presa no local junto dos filhos

O TEMPO teve acesso ao desenho que foi enviado em uma carta pela mulher para uma amiga, que, desde o resgate das crianças em BH, vem visitando Kátia na cadeia e a ajudando a provar sua inocência e a ter notícias dos filhos. Nesta quarta-feira (22 de março), a reportagem conversou com a mulher, que prefere não ser identificada por medo. Ela conta que a mãe das crianças pediu para o desenho ser emoldurado, para virar um quadro na casa da família.

"A preocupação dela é só se os filhos estão bem, fica perguntado onde eles estão? Ela não sabe ainda que eles saíram do hospital. Na cadeia não tem televisão, então ela não consegue acompanhar, só fica sabendo das coisas através da gente mesmo, que está ajudando ela. Mas ela está muito preocupada com com os filhos, quer saber o que vai ser deles. Já expliquei que provavelmente eles vão ficar em um abrigo, mas, a gente espera que, no final, dê tudo certo", diz, esperançosa, a mulher. 

Os dois filhos mais velhos de Kátia, receberam alta no Hospital Odilon Behrens na última semana, depois de quase 20 dias reaprendendo a comer, devido ao quadro de desnutrição grave em que foram achados no apartamento. Na próxima visita, ela receberá uma boa notícia, de que, agora, os meninos já se preparam para voltar à escola

Na última visita, a mulher que está auxiliando a mãe das crianças relatou que ela chegou a dizer que a comida da unidade prisional é "boa". "Ela está bem melhor, fisicamente. Disse que a comida de lá, da cadeia, é boa. Só ela que acha isso. Mas, enfim, de acordo com o que ela vivia lá (cárcere), deve ser o paraíso", lembrou a testemunha. Kátia também estaria ganhando peso no local, já que chegou a BH, em 2021, pesando quase 100 kg e, ao ser presa, estava com apenas 42 kg. 

Ainda na última semana, o pai das duas meninas mais novas e padrasto dos outros filhos da mulher, foi achado vivo após mais um ano sendo considerado como morto por Covid-19 pela família. Ele estava trabalhando em uma fazenda em João Pinheiro, no Noroeste de Minas, e disse ter sido abandonado pela mulher e que tem interesse em cuidar das crianças.