A fome não é um problema exclusivo dos mais pobres, mas uma tragédia de longo prazo para todo o Brasil. O relatório da rede Penssan, divulgado ontem (14.9), mostrou que 33 milhões de famélicos – 1,7 milhão apenas em Minas Gerais – e mais de 125 milhões com insegurança alimentar, ou seja, nem sempre conseguem o que comer no dia seguinte. Ainda mais grave, 37,8% dos lares com crianças de até 10 anos sofrem fome em algum tipo de grau.
São meninos e meninas que terão o seu desenvolvimento físico e cognitivo atrasado, passarão mais dificuldades de acompanhar o aprendizado para sua idade e, no futuro, estarão menos qualificadas para empregos de maior complexidade e renda. Sem falar que essas crianças já estão correndo contra o prejuízo de aprendizado em dois anos de pandemia, quando aprenderam, em média, 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa.
A fome afeta o desenvolvimento do cérebro e a plástica neural. Um estudo da Associação Internacional de Avaliação do Desempenho Escolar mostra que, crianças malnutridas têm um desempenho de leitura 7% menor do que aquelas que chegam à sala de aula alimentadas. Frustradas e desatentas, crianças com fome têm até o dobro de chances de repetir a série, segundo estudo norte-americano publicado na revista “Pediatrics”, em 2001.
Daí a importância dos programas de merenda escolar na rede pública, que possibilitam, em muitos casos, a única refeição completa dessas crianças no dia. É inegável que as escolas precisam de professores qualificados, material didático atualizado e acessível, e novas tecnologias, mas, de barriga vazia, as crianças não têm condições físicas e neurológicas de usufruir essas vantagens e aprender. Combater a fome não é filantropia, é investir no futuro do próprio país.