Mineiro não tem meio-termo. É tudo ou nada.  Ou é muito pacato ou é muito furioso. 
 
Alegre, é alegre. Triste, é triste. Não muda de frequência com rapidez. Preza a estabilidade, o autocontrole. É encarnado em suas emoções. Conduz o seu estado de espírito ao esgotamento, mansamente. Tenta não se irritar, usando o silêncio como seu método de resiliência. 
 
Tanto que quando é criticado, não responde de imediato. Suporta calado uma boa soma de ataques. É Rock Balboa apanhando nas cordas para cansar o adversário. 
 
Mas, ao explodir, não queira estar por perto, é cutucar uma onça com vara curta. 
 
Conhecerá os efeitos especiais do exorcismo. Talheres serão entortados, pessoas levitarão, cabeças girarão em 180 graus. Abre-se a dimensão do sobrenatural. 
 
Nunca invente de insistir diante da contrariedade. Não o tire do sério, porque ele não achará graça, não levará na esportiva qualquer brincadeira excessiva, só acarretará ranço. Não suportará mais olhar para a sua cara. Pegará nojo, complicado de ser revertido depois. 
 
Ele é blindado até certo ponto. Até entender que vem agindo com maldade, que vem repetindo algo para magoar de propósito. Neste momento em que percebe a sua intenção, que estuda a fundo o caso, não perdoa mais. 
 
Ao perder o equilíbrio, o que é raro, pois não renuncia a paciência com facilidade, ele não vai insultar, mas amaldiçoar. Não aguarde palavrões, e sim pragas, pessimistas premonições, vaticínios cruéis. 
 
Mineiro acredita que desejar o pior é a grande vingança. 
 
“Nunca mais será feliz na vida”. 
“Ainda morderá a própria língua.” 
“Deus está vendo”. 
 
Confia na lei do retorno, no carma, na dança das cadeiras. Deixa o tempo revidar em seu lugar. 
 
Parte da regra de que aquilo que alguém faz de ruim, um dia volta. 
 
Delega para a justiça divina o ajuste de contas. Nem suja as mãos. Profetiza todo o azar do mundo e bloqueia o contato para sempre. 
 
Não sofre com recaídas, remorsos e culpa. Transfere a responsabilidade de corretivo e de lição para o destino.  
 
Não adianta esmurrar a porta pedindo desculpa. A raiva do mineiro jamais esfria. 
 
É assim que ele trata infidelidade e deslealdade. Jogando adivinhações funestas, entrando no psicológico religioso e supersticioso do outro, condicionando a posterioridade ao fracasso. 
 
Porque é a atitude que mais teme de sua mãe e de seu pai: que eles roguem o agouro, o contrário da benção. 
 
Mineiro morre moralmente se escutar dos seus protetores:
 
“Foi um erro você ter nascido.”
“Não tenho mais filho a partir de agora.”
“Não me procure mais.”
“Não sou mais seu pai.”
“Não sou mais sua mãe”. 
 
É mais grave do que uma morte física. Ser indesejado é o exílio total.
 
Em Minas, a palavra tem a força de influenciar o comportamento. Não há como retirar o que se disse. Por isso, mineiro não fala em vão. Reconhece como o maior castigo não ser mais benquisto, extraviar o direito de ser lembrado, de continuar existindo no coração de quem ama.