A ministra Maria Elizabeth Rocha, que assumirá a presidência do Superior Tribunal Militar (STM) na próxima quarta-feira (12 de março), afirmou, em entrevista exclusiva a O TEMPO, que “a democracia ainda é o melhor regime político que nós temos” e que ela precisa ser preservada. Mineira de Belo Horizonte, Maria Elizabeth também falou sobre os horrores praticados no regime militar, afirmando que “a ditadura massacra a todos indistintamente”.
As falas foram durante o comentário sobre o filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. "Foi um filme que me emocionou profundamente. Eu assisti na primeira semana em que ele estreou, e ele foi aplaudido na sala de exibição. Eu saí com lágrimas nos olhos, até porque eu tenho uma história muito parecida na minha família. Eu tenho um cunhado que é desaparecido político. Meu marido é um general que era filho de um general que já faleceu. E, no entanto, o meu cunhado Paulo Costa Ribeiro Bastos é um desaparecido. Ele foi preso, torturado e jogaram o corpo no mar. Então, é uma dor que eu conheço de perto”, recordou a ministra.
Para ela, a obra cumpre um papel essencial ao resgatar a memória, especialmente para aqueles que não viveram a ditadura, e mostrar que “as dores ainda estão aqui”. A entrevista foi exibida no programa Café com Política desta segunda-feira (10), no canal de O TEMPO no Youtube. Maria Elizabeth lembra que a história nos mostra que todos podem ser vítimas de uma ditadura.
“Por isso, eu digo que a ditadura não escolhe vítimas. Do metalúrgico ao filho do general, todos nós estamos vulneráveis a um Estado de exceção, a um Estado autoritário. Ninguém se salva dele. Não importa de quem você seja filho, não importa quem sejam os seus amigos, o Estado de exceção, a ditadura massacra a todos indistintamente, e o massacre é tão doloroso porque ele perdura por gerações”, analisou.
A ministra avaliou também que só se pede a volta da ditadura quem não viveu as “agruras” do regime militar. “Não é como uma morte que se encerra no funeral. É uma morte social que se prolonga por décadas e décadas e dói nas famílias e dói em todos aqueles que vivenciaram o que foi uma ditadura. Eu acho que só quem pede o retorno da ditadura é porque não sabe e não viveu as agruras que uma ditadura causa individualmente, para cada um, e coletivamente, para toda a sociedade”, afirmou a Elizabeth, que tomará posse como presidente do Tribunal Superior Militar.
De acordo com a ministra, "o papel do filme foi avivar a memória, sobretudo daqueles que não a presenciaram e mostrar que as dores ainda estão aqui e que nós a sentiremos de uma forma ou de outra”. Segundo ela, não importa se as dores caíram no esquecimento de algumas pessoas, “mas elas continuam como uma ferida aberta, que lateja, que machuca, que é dolorosa dentro de uma sociedade que teve a infelicidade de viver um regime político e dessas consequências autoritárias que nos causou”.
Em uma de suas falas, ela valorizou a luta feminista e destacou que "muitas sufragistas morreram" para que ela pudesse assumir o cargo que tem hoje.
Para finalizar, a ministra relembrou as experiências vividas em Belo Horizonte e concluiu que “a democracia pode ter suas imperfeições, ela pode ter suas falhas, e ela merece muitas vezes ser criticada, mas ainda é o melhor regime político que nós temos”.