O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), nesta quinta-feira (4/9), na capital mineira para lançamento do programa nacional "Gás do Povo" tinha tudo para terminar em "climão", o que acabou não ocorrendo. Pelo lado de Damião, seu partido anunciou nesta terça-feira (2/9) que vai deixar a base do governo Lula. Pelo governo, um repasse de R$ 486 milhões para Belo Horizonte não foi assinado por, segundo o presidente, decisão de sua assessoria, posicionamento que só chegou ao seu conhecimento quando já estava na capital mineira.

A possibilidade de mal-estar foi dissipada com esforço tanto do presidente como do prefeito. Primeiro a discursar, Damião fez um paralelo entre a sua vida e a do presidente. O prefeito de Belo Horizonte citou sua infância como morador de favelas da cidade, e lembrou que Lula deixou Garanhuns (PE) e se mudou para São Paulo em busca de melhores condições de vida. O lançamento do "Gás do Povo" aconteceu em um campo de futebol no Aglomerado da Serra, a maior favela de Minas Gerais, com cerca de 40 mil habitantes. A cerimônia contou com a presença de centenas de moradores locais.

Durante o discurso de Damião, Lula ficou ao lado do prefeito, que pediu ao presidente para ajudá-lo a cuidar do povo. "Nós falamos o populês. Nós falamos a língua do povo. Mas falamos fluentemente, porque vivemos todas as dificuldades que o povo viveu. E nós vamos cuidar desse povo. Me ajude a cuidar do povo de Belo Horizonte", disse o prefeito. Em seguida, arriscou um pedido ao presidente. "Me ajude a trazer para a Serra o instituto federal", afirmou Damião, dizendo já ter na região o local para abrigar a escola, que fornece cursos técnicos. No mês passado, foi anunciada a construção de um instituto federal no Barreiro, que Damião fez questão de agradecer.

Em sua vez de discursar, o presidente, que em momento algum mencionou as movimentações do partido de Damião em relação ao governo, afirmou que muitas vezes tem vontade de fazer as coisas e não consegue fazer com a pressa que é preciso. "Semana passada, eu fui a Contagem anunciar R$ 1,1 bilhão para o metrô. E eu tinha que anunciar naquele mesmo dia, o equivalente a R$ 486 milhões para fazer corredores específicos para transporte e comprar 100 ônibus elétricos para Belo Horizonte. Eu não assinei lá, porque ia assinar aqui. Quando chego aqui, eu descubro que alguém da minha assessoria, por conta própria, decidiu que não seria assinado aqui porque não combinava com o programa (Gás do Povo)", disse. Lula, então disse ao prefeito para ir a Brasília esta semana para assinar o repasse.

Damião, novamente em tom cordial, voltou ao tema após a cerimônia, em entrevista a repórteres. "A gente esperava que as coisas de Belo Horizonte fossem assinadas aqui hoje, mas também entendemos que é um programa nacional que está sendo lançado em Belo Horizonte. E na próxima semana a gente vai a Brasília, seremos recebidos pelo presidente, conforme ele me disse, para assinar as coisas de Belo Horizonte. Temos quase meio bilhão relacionados ao governo federal para assinar, falta só a assinatura dele, mas está tudo pronto para a gente ir na próxima semana assinar", declarou o prefeito.

Sobre a saída do União Brasil do governo Lula, Damião procurou se afastar do tema e disse que sua função é cuidar da cidade. "Sou prefeito de Belo Horizonte. Tenho que cuidar da cidade. Cuidar das coisas de Belo Horizonte. Os assuntos relacionados à construção partidária é construção. Tem que ser feito dentro de salas, reuniões entre diretores de partidos, para ver qual é o futuro do partido, do país, no que pensa o partido. Agradeço sempre ao governo federal. Belo Horizonte não vive apenas do que tem", declarou o prefeito.

Ao ser anunciado, o prefeito Álvaro Damião chegou a ser vaiado por moradores do Aglomerado da Serra que acompanhavam o lançamento do programa "Gás do Povo". Ao longo do discurso em que comparou a trajetória de sua infância com a do presidente Lula, no entanto, passou a ser aplaudido. Não foi necessário nem mesmo que o presidente interviesse, como fez, por exemplo, no ano passado, em Belo Horizonte, com o vice-governador Mateus Simões (Novo). Durante anúncio de investimentos do governo federal em Minas, a plateia vaiou Simões durante seu discurso. O presidente interrompeu a fala do vice de Zema, pediu para que a manifestação parasse e foi atendido.