Eleições 2020

Candidatura própria do PT em Belo Horizonte causa racha no partido

Discordância é sobre se partido deve necessariamente encabeçar chapa única de esquerda ou pode abrir mão da liderança

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 15 de junho de 2020 | 13:50
 
 
 
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A definição da estratégia do Partido dos Trabalhadores (PT) para as eleições municipais em Belo Horizonte causou um racha dentro do partido. No domingo, 14, a legenda anunciou que o diretório municipal decidiu que lançará candidatura própria na capital mineira. O entendimento foi confirmado pelo presidente do PT em Minas Gerais, o deputado estadual Cristiano Silveira.

No entanto, o deputado federal Rogério Correia (PT) questiona essa interpretação. Segundo ele, a resolução determina a escolha de um nome do partido para compor uma chapa com uma frente de esquerda, não uma candidatura própria. A composição da chapa e os nomes seriam definidos com base em consultas à lideranças e pesquisas qualitativas e quantitativas.

A resolução que define a tática eleitoral do PT é dúbia. O primeiro ponto “aprova e decide candidatura própria à Prefeitura de Belo Horizonte, inclusive como expressão da construção e consolidação de uma Frente Democrática Popular com os partidos e movimentos sociais”. Em seguida, o texto afirma que “a candidatura própria do PT será apresentada aos demais partidos e movimentos para liderar o processo”. 

Os artigos apontam para uma candidatura própria do PT ou uma aliança com outras siglas, mas sempre com um nome petista na cabeça de chapa. 

No entanto, o documento também dá margem para que o partido apenas componha a chapa. O item “e” da resolução sugere “mecanismos para aferição da melhor composição dos nomes e partidos na chapa majoritária que expressem essa unidade da esquerda em BH”, como pesquisas qualitativas e quantitativas e consulta às lideranças, deixando implícito que há possibilidade de candidatos de outros partidos assumirem a cabeça de chapa.

“O item 'e' está muito claro. O partido apresenta o nome, defende que o nome encabece a chapa, mas está aberto a discutir com outros partidos. Essa versão que o (deputado federal) Reginaldo (Lopes) está passando, de que já definiu candidatura própria e acabou, é fake. Na verdade, é uma posição dele contrária à constituição de uma frente de esquerda em Belo Horizonte. Às vezes até para ele impor uma candidatura à qualquer custo dele”, disse o deputado Rogério Correia.

De acordo com o deputado, a tentativa de “afugentar” uma frente de esquerda é um desserviço às causas populares da capital mineira. “Principalmente quando o PSOL apresenta o nome da Áurea Carolina, que foi a deputada federal mais votada da cidade. É uma mulher negra, jovem, de periferia. Isso tem que ser levado em consideração”, disse.

Já o deputado Reginaldo Lopes (PT) diz que a resolução é clara e objetiva ao aprovar a candidatura própria que será apresentada às demais candidaturas de esquerda para liderar a chapa. “É fato de que o Rogério queria dizer que apresentava (o nome do partido) para compor, mas essa tese que ele apresentou não teve força. Portanto, a unidade construída foi apresentar (o nome) para liderar”, diz. Questionado se será o candidato do PT em Belo Horizonte, Lopes disse apenas que “estamos construindo coletivamente com o partido o nome para ser candidato”.

Para ele, há uma aliança programática na esquerda, mas não necessariamente uma aliança eleitoral, que pode acontecer no segundo turno. Na opinião de do deputado, a decisão por uma candidatura única está relacionada à necessidade do PT se recolocar.

“Nós estamos sendo vítimas de um ataque nos últimos 5, 6 anos em uma tentativa de desconstrução do nosso partido. Então, é necessário, nos processos eleitorais, que o PT possa buscar uma repactuação de diálogo direto com a sociedade. É muito complexo o maior partido de esquerda da América Latina não se posicionar com candidatura própria no momento eleitoral , quando se tem condição de fazer debate, tem as ruas e as redes”, disse.

Áurea Carolina defende frente de esquerda e confirma que será candidata

Em nota, a deputada federal Áurea Carolina (PSOL) disse que o agravamento das crises política, econômica e sanitária no Brasil, assim como "crescentes tentativas de imposição de um regime autoritário no país e a proliferação de ameaças fascistas", exigem "uma tomada de posição mais consequente e efetiva em defesa da democracia".

Ela afirma que as eleições municipais serão o momento decisivo para afirmar este compromisso e que colocou seu nome à disposição para a construção de uma frente ampla de esquerda, em diálogo aberto e respeitoso com outros partidos da cidade.

"Não há tempo a perder. Defender uma construção unificada agora é também defender a própria existência dos partidos e da pluralidade política. É nossa tarefa derrotar o bolsonarismo e virar de vez essa página terrível da nossa história", disse.

 

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