Bastidores

Dívida, disputas eleitorais e a complexa relação entre Pacheco, Zema e Lula

Enquanto o presidente do Senado e o governador protagonizam a polêmica nacionalização do débito do governo de Minas com a União, Lula surge como peça-chave em um tabuleiro eleitoral

Por Fransciny Ferreira
Publicado em 15 de novembro de 2023 | 14:23
 
 
 
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O fato de o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), ter nacionalizado a questão da dívida de Minas Gerais, sem o conhecimento prévio do governador Romeu Zema (Novo), foi interpretado internamente na equipe estadual como uma antecipação das disputas políticas para as eleições de 2026.

Além das declarações dadas à imprensa sobre o tema, o que causou ainda mais desconforto ao chefe do Executivo nos bastidores foi o fato de o assunto ter sido abordado durante um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Zema, nunca teve afinidade com o petista e sempre foi crítico em relação a ele.

A resposta encontrada pela equipe mineira foi a de enviar um ofício para o presidente do Senado, na última sexta-feira (10), pedindo para que ele fizesse o que se dispôs: ser intermediário da solução para a dívida bilionária do Estado, que até o final deste ano deve chegar a R$ 161 bilhões. O intuito seria constranger Pacheco mostrando que a solução não é “simples” e “fácil” da forma como foi apresentada por ele em suas conversas e comunicados à imprensa.

Três propostas foram apresentadas pela Secretaria de Governo do Estado, mas uma avaliação interna indicou que nenhuma delas seria viável para fornecer uma resposta até o final deste ano. Como tentativa de demonstrar a possibilidade de um meio-termo, Pacheco Pacheco resolveu convidar o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Leite (MDB), e outros líderes da Casa para mostrar que o diálogo foi iniciado, ainda que tardiamente, devido a uma suposta "inoperância" por parte de Zema.

A busca por uma solução realista para a dívida dentro deste prazo, no entanto, é um desafio complexo. Um dos cenários discutidos envolve um possível "respiro” por parte da equipe econômica de Lula, congelando a dívida por um período determinado, com o compromisso de encontrar uma solução para o impasse financeiro de maneira ágil.

Contudo, essa proposta tem enfrentado resistência no âmbito federal devido a considerações econômicas de mercado, aliadas à percepção de que o governo estadual de Minas Gerais demorou significativamente para solicitar auxílio.

Caso não seja possível equacionar essa discussão, um dos caminhos adotados por Pacheco é ressaltar que Zema deveria ter deixado as disputas eleitorais para trás e tratado do assunto com Lula anteriormente. Isso, principalmente, porque desde que ele assumiu a chefia do Estado, era claro que ele enfrentaria dificuldades para obter a aprovação do plano de Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Este plano envolve medidas rigorosas, como o congelamento de reajustes para servidores e a privatização de empresas estatais.

Além de Pacheco, membros da bancada mineira e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), estão fortalecendo a argumentação apresentada por Pacheco a Lula. Eles buscam convencer que o governo federal também poderia obter vantagens na situação, e não somente receber o ônus em função da falta de pagamento da dívida.

Nos bastidores, o pano de fundo do interesse dos parlamentares do PSD em Brasília em resolver essa questão é único: a corrida eleitoral para o governo de Minas em 2026. Atualmente, o nome do presidente do Senado tem sido cogitado, e ele não descarta a possibilidade.

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