Jair Bolsonaro (PL) falou publicamente sobre um “movimento de rua” em defesa dos presos pelos atos criminosos de 8 de janeiro. O ex-presidente citou as ditaduras de Getúlio Vargas (1937-1945) e dos militares (1964-1985) para defender as pessoas que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília com o intuito de decretar uma intervenção militar, derrubar o então recém-empossado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e devolver a presidência a ele, que foi derrotada nas urnas pelo petista.

Bolsonaro deu as declarações ao microfone, nesta terça-feira (25), durante a cerimônia de filiação ao PL do vereador Fernando Holiday, seu ex-adversário político, e do comentarista político Lucas Pavanato, na Câmara Municipal de São Paulo. Também esteve presente o presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto, além de outros caciques do partido. Muitos deles aplaudiram as falas de Bolsonaro.

Acusado de incentivar os ataques aos poderes em 8 de janeiro, o ex-presidente sempre negou, em entrevistas e depoimentos à Polícia Federal, qualquer envolvimento. Há três semanas, Bolsonaro foi tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por causa de reunião que fez com embaixadores para acusar, sem provas, irregularidades no sistema eleitoral brasileiro.

“A imprensa vira e mexe me pergunta se eu tenho medo de ser preso. Qualquer um, hoje em dia, pode ser preso hoje em dia por nada, por nada!”, afirmou Bolsonaro em seu discurso na cerimônia desta terça. “Ainda temos 250 pessoas presas em Brasília. Falam em ditadura Vargas, em ditadura Vargas. Pegue esses períodos todos e veja quantos presos estiveram lá. Menos da metade tivemos presos em um só dia em Brasília (no 8 de janeiro)”, completou. 

Ele usou uma expressão dos militares que participaram da ditadura para desqualificar as acusações contra os seus apoiadores que atacaram as sedes dos Três Poderes. “Qual a acusação? Ah, ofender o Estado Democrático de Direito. Ah, vai pra ponta da praia! Tudo agora é ameaça ao Estado Democrático de Direito, pô! Se coloque no lugar das pessoas idosas, com 80, 90 anos, que estão em casa com tornozeleira eletrônica. Dois assessores meus estão presos. O meu ajudante de ordens está preso!”.

A “ponta da praia” é uma expressão usada por militares que se referia à Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro. O local era conhecido pela tortura e morte de presos políticos durante a ditadura militar. Bolsonaro já usou essa expressão publicamente outras vezes, inclusive para dizer que adversários deveriam ser mandados a um local parecido. O ex-presidente, que é capitão da reserva do Exército Brasileiro, também sempre defendeu a ditadura militar e seus métodos, assim como regimes similares de outros países. Ainda afirmou que o coronel Brilhante Ustra, condenado por tortura, é um ídolo seu e um “herói nacional”. 

Foi na sequência dessa fala que Bolsonaro falou em “movimento de rua”, citando ainda ex-assessores que também foram presos por envolvimento nos atos do 8 de janeiro. “Meus assessores estão presos há 70 dias de forma covarde, porque não tem fundamento nenhum para prisão preventiva”, disse. “Se tiver que falar em movimento de rua, se tiver um dia tem que ser para pedir a liberdade desse pessoal que tá lá”, ressaltou.

Nos 21 anos de ditadura no Brasil, os militares que governaram o Brasil foram responsáveis por 421 assassinatos e desaparecimentos de pessoas consideradas adversárias políticas, conforme relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluído 30 anos após o fim do regime ditatorial. A relação de vítimas pode ser maior, pois, conforme a comissão, as Forças Armadas pouco colaboraram com as apurações. Mais de 30 mil pessoas foram presas no período. Muitas foram torturadas e nunca sequer foram acusadas formalmente de algum crime. 

Instituída por meio de um golpe de Estado com apoio dos militares, a ditadura comandada por Vargas chegou a flertar com o nazifascismo, inclusive entregando judeus ao regime hitlerista – mudou de posição ao ser pressionada pelos Estados Unidos a se unir aos aliados na Segunda Guerra Mundial. Ao contrário do que ocorreu com a ditadura militar de décadas depois, não foi feito um levantamento da quantidade de presos, mortos e desaparecidos na Era Vargas. 

Bolsonaro xingou Lula de "analfabeto" e "jumento"

No mesmo evento, Bolsonaro xingou Lula de “analfabeto” e “jumento”. “A quem interessa, leva-se em conta alguns países europeus, países do norte... Interessa eu ou um entreguista na Presidência da República? Um analfabeto? Um jumento, por que não dizer assim?”, afirmou.

Bolsonaro também ofendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao fazer críticas à reforma tributária. “Haddad comparando herdeiros a parasitas. Logo ele, que nunca trabalhou na vida”, disse o ex-presidente.

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