Estado

Carta de apoio ao secretário de Saúde gera 'medo' entre servidores

Secretário de Estado de Saúde nega que iniciativa tenha partido da gestão; Trabalhadores relatam que funcionários do gabinete da secretaria foram de mesa em mesa colher assinaturas

Por LUCAS NEGRISOLI E THIAGO ALVES
Publicado em 06 de março de 2020 | 13:34
 
 
 
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Uma declaração de apoio ao secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral Pereira da Silva, solicitando assinaturas de servidores circulou entre os postos de trabalho da pasta nesta quinta-feira, 5. A veiculação do documento se dá após a exoneração de 15 funcionários da subsecretaria de Inovação e Logística da Saúde, na quarta-feira, 4. Na carta, os empregados que a assinam concordam que as “mudanças institucionais” realizadas por Silva são “indispensáveis ao cumprimento da missão institucional da secretaria de Estado de Saúde (SES-MG)”.

No entanto, a forma como teria sido realizada a coleta de assinaturas causou “medo” entre os servidores. “Funcionários do gabinete da secretaria (de Estado de Sáude) foram de mesa em mesa colher as assinaturas. Era uma situação apavorante, porque se você se recusasse a assinar, ficaria marcado. Eu senti medo pelo meu emprego”, revela, em condição de anonimato, uma servidora.

Segundo um outro funcionário ouvido pela reportagem, a pressão foi maior sobre os funcionários de recrutamento amplo e os trabalhadores da Minas Gerais Administração e Serviços (MGS). “Eles são os mais vulneráveis, pois podem ser demitidos a qualquer momento. Esse pessoal foi coagido a assinar a carta”, disse.

O secretário de Estado adjunto de Saúde de Minas Gerais, Luiz Marcelo Cabral Tavares, disse ter conhecimento da carta de apoio, mas negou que ela tenha partido da gestão.

"Não foi determinado pelo secretário (de Estado de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral Pereira da Silva) ou por mim (a circulação da carta de apoio). Eu e o secretário estávamos em viagem na região de Congonhas e (Conselheiro) Lafaiete. A gente interrompeu essa viagem hoje e deixou de prestar um serviço para a população. A gente (nem) sequer tinha como fazer essa determinação. Quem os conhece, os servidores, sabe que isso (nem) sequer combina com a nossa natureza”, afirma.

Também foi veiculada nesta quinta-feira, 5, uma nota pública pela Associação dos Especialistas em Políticas e Gestão da Saúde do Estado de Minas Gerais (AEPGS).  No texto, condena-se “com indignação” as declarações dadas, na quarta-feira, 4, pelo ex-subsecretário de Inovação e Logística da Saúde, Bruno Carlos Porto, ao anunciar seu pedido demissão.

De acordo com a AEPGS, Porto teria dito que a subsecretaria que ele chefiava era a única das subsecretarias da SES-MG compromissada com a saúde e com o cidadão. O ex-subsecretário teria afirmado também que as demais subsecretarias estariam apenas a “fazer firula”.

“Não estamos a ‘fazer firula’. Com Saúde não se brinca. E o momento requer compromisso, profissionalismo, seriedade, valorização e respeito”, diz a nota. Sobre a acusação de Porto de que há práticas “irregulares e ilícitas” dentro da secretaria, a associação frisa que apoia “rigorosa investigação dos fatos”.

Tavares criticou a forma como se deu o anúncio de desligamento de Porto e dos demais exonerados. Ele também condenou as declarações proferidas pelo ex-subsecretário.

“Eles não revelaram qual era o propósito de reunir os servidores. A partir do momento que tinham todos reunidos, eles fizeram alegações em relação a todos da Saúde de 'firuleiros' e que não trabalhavam nada. E que, na verdade, quem carregava a secretaria eram eles. Sendo uma subsecretaria que é de atividade meio, causa perplexidade achar que a atividade meio vai ser mais importante que a atividade fim”.

Em nota, Porto confirmou que fez críticas à gestão, mas disse que não autorizou a gravação, por parte da AEPGS, do que ele relatou aos funcionários no momento do anúncio de seu desligamento.

"Fica claro que a associação que representa uma parcela dos servidores da secretaria, tomou para si, críticas dirigidas a alguns dos dirigentes de outras áreas, o que não pode ser transposto a todo o conjunto de servidores da secretaria. Destaque-se que durante a gestão que agora finda, foi realizada a nomeação de mais de 400 servidores efetivos, o que só foi possível com a soma de nossos esforços aos servidores que na secretaria se encontravam. A iniciativa demonstra a postura de valorização dos servidores de todas as carreiras e vínculos, além disso, grande parte dos coordenadores das áreas foram mantidos o que evidencia valorização à muitos dos servidores dos quadros da Secretaria. Por fim, reitera-se que enquanto servidores públicos estaduais sempre estivemos e continuaremos empenhados em entregar aos cidadãos serviços públicos de qualidade".

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